Quinta-feira, 29 de junho de 2017 - 07h24
Por Eduardo Maretti, da Rede Brasil Atual
Entrevistado nesta quarta-feira (28) pelo jornalista Florestan Fernandes Júnior e pelo sociólogo Jessé de Souza, no projeto Encontros, no auditório da Escola de Contas do Tribunal de Contas do Município de São Paulo, o economista Luiz Carlos Bresser-Pereira falou a maior parte do tempo sobre economia, mas opinou sobre política, eleições e possíveis candidatos em 2018.
A questão política mais importante a se resolver na atual conjuntura, para ele, é urgente: “Precisamos legitimar um governo. O Brasil está sem governo. Para legitimar um governo, só com eleição direta.Vamos esperar até 2018? É capaz que tenhamos que esperar. Vamos mandar embora o Temer? Eu acho que é uma questão de vergonha nacional isso. Uma situação absolutamente vergonhosa em que nós estamos ”, questionou.
Embora tenha apontado que a melhor solução para o país sair da crise política seria a eleição direta antecipada, Bresser ressalvou que, caso haja um governo de transição, teria “que estar aí para segurar as pontas até 2018”. Na sua opinião, as eleições do ano que vem não estão ameaçadas. “A democracia está consolidada”, disse. “O que não está garantido é que elejamos um presidente que saiba o que fazer.” Defensor do que chama de “novo desenvolvimentismo”, ele afirmou que os candidatos que vê em condições de representar a centro-esquerda nas eleições presidenciais são Ciro Gomes (PDT) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Em sua opinião, os prováveis nomes para representar “os liberais” são o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e o prefeito paulistano, João Doria, ambos do PSDB. “Não vou votar em nenhum dos dois. Mas, para ficar na oposição, prefiro Alckmin do que Doria”, disse. Ele descartou Marina Silva como uma presidenciável que possa ser uma solução. “Marina merece todo nosso respeito, mas não creio que ela tenha condições de governar o Brasil. E ela chamou economistas muito liberais, que não têm, portanto, solução para o Brasil.”
Para Bresser-Pereira, o quadro eleitoral está se desenhando com certa nitidez. “Vamos ficar mesmo entre Lula e Ciro Gomes, e (pela direita) Doria e Alckmin. Ou (Fernando) Haddad, se Lula não entrar”, acredita.
Previdência
Embora defenda que a Previdência precise de reforma, o economista da Fundação Getúlio Vargas usou o Chile, país que adotou a privatização do sistema, como exemplo a não ser seguido. “A Previdência geral tem que ser (de responsabilidade) do Estado, e nunca como foi feito no Chile.” A solução chilena é “inaceitável”, disse. “Até oito salários mínimos o Estado tem que garantir. O critério tem que ser idade, não anos de trabalho. Sou a favor dos 65 e 62 anos.”
Ele comparou os sistemas de saúde privado, cujo paradigma é o dos Estados Unidos, e o sistema público, adotado em vários países da Europa, como França, Inglaterra, Alemanha e escandinavos. Defensor do chamado “Estado do bem-estar social”, Bresser justifica dizendo que ele é “incrivelmente mais econômico”, além de mais justo.
“Quando você tem o estado do bem-estar social, você tem consumo coletivo. Que é igual para todos. Na saúde, por exemplo, não interessa se você é rico ou pobre, vai ter o mesmo tratamento, o que é um direito universal, um direito humano. Não há nada que justifique tratamento diferente. Mas esse sistema, além de ser mais justo, é muito mais eficiente. O sistema privado de saúde norte-americano custa quase 18% do PIB e não atende 30 milhões de americanos. Os sistemas da Europa, que atendem 100% da população, custam 11%”.
Na avaliação de Bresser, apesar de o Brasil, “mal ou bem”, ter um estado de bem estar social, esse sistema, como sob o atual governo, está “sempre sob ataque”. Agora, diz, o ataque vem com a Emenda Constitucional 95, conhecida como “teto dos gastos”, que atinge a educação e diretamente o Sistema Único de Saúde (SUS).
Na entrevista, Bresser voltou a criticar como um dos principais problemas da economia do país a taxa de câmbio cíclica e historicamente apreciada (com o real valorizado em relação ao dólar), o que é um dos principais inimigos da indústria nacional.
Com os problemas crônicos, os industriais do país viraram rentistas ou importadores, avalia o economista. Segundo sua análise, o regime de política econômica brasileiro era desenvolvimentista até 1990, quando Fernando Collor assumiu. “O país é liberal desde 1990. De Getúlio Vargas até 1990 era desenvolvimentista.”
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