Terça-feira, 18 de setembro de 2007 - 07h39
A questão da procedência dos africanos para o Brasil tornou-se bastante complexa, principalmente no tocante aos povos e etnias que forneceram os maiores contingentes de escravos. A complexidade decorre da mentalidade colonialista dos portugueses que, não considerando o negro um ser humano, pouca importância davam a assinalar de maneira precisa, nos seus registros e documentos, as diversas culturas, línguas e grupos étnicos dos africanos capturados. Ao contrário, estendiam a povos radicalmente distintos um mesmo nome, ou generalizações completamente sem fundamento.
Atualmente a antropologia tem revisto muito do que se escreveu sobre as origens culturais da massa escrava, no começo deste século, restando ainda muitos pontos a esclarecer.
A tradição historiográfica reúne, a grosso modo, as regras em dois grandes grupos étnicos: os Bantos(ou Bantus), da África equatorial e tropical, da região do golfo da Guiné, Congo e Angola, planaltos da África oriental e costa-sul-oriental; e os Sudaneses, predominantes na áfrica ocidental, Sudão egípcio e na costa setentrional do Golfo da Guiné.
Não há nenhuma prova definitiva da predominância de um desses grupos na composição dos negros vindos para o Brasil, embora se afirme que a maioria era de bantos. Entretanto, as tradições culturais de alguns grupos sudaneses, como os iorubas da Nigéria, são amplamente predominantes nas heranças africanas da cultura brasileira.
Nina Rodrigues percebeu pela primeira vez a predominância sudanesa na Bahia, no que foi confirmado por Artur Ramos. Este destacou no grande grupo a predominância dos iorubas, também chamados nagôs (embora esse nome seja normalmente estendido a outras etnias) da Nigéria, dos gegés (ewes do Daomé das Minas da Costa norte-guineana, além dos tapas, bornus e galinhas, identificou a presença importante dos hauçás do noroeste da Nigéria, de influência muçulmana, a qual marcou também os fulas ( mais claros, de origem berbere-etiópica) e os maleses ( ou mandingas, de tradição guerreia, considerados altivos e perigosos pelos lusos, que lhes atribuíam feitiçarias).
Entre os sudaneses originários da costa da Guiné, amplamente predominantes como vimos, a presença comum da língua pertencente ao grupo lingüístico ioruba talvez explique a predominância dos elementos dessa cultura em nosso candomblé e nas influências negras de nossa linguagem.
Havia sudaneses em outros pontos do Brasil, mas talvez houvesse uma predominância banto no centro sul e no norte. Artur Ramos indica como pontos iniciais de entrada das várias nações bantos os mercados de escravos de Pernambuco (extensivos a Alagoas), Rio de Janeiro, Minas, São Paulo e Maranhão. Entre os povos desse grupo, os mais importantes no Brasil foram os cabindas do Congo, os banguelas de Angola, junto com muxcongos e rebolos de Moçambique que Spix e Martius chamaram de macuas e angicos. A intensificação do tráfico de escravos para o Brasil no Século XVIII, em função da mineração, multiplicou a presença de grupos originários da Costa da Mina e de Angola: no Século XIX, até 1850, entrou também um número considerável de banto de Costa da Moçambique.
Do ponto de vista cultural, a influência dominante da cultura ioruba explica-se pela sua predominância já na própria África, na região da Guiné, estendendo-se segundo Édison Carneiro até o interior do Sudão. Sua civilização mais adiantada surpreendeu os primeiros europeus, pelos trabalhos em bronze que faziam no reino de Benin. A religião, a organização e os costumes sociais de ioruba davam o modelo a uma vasta zona.
Os negros de ioruba eram principalmente agricultores, mas os seus tecelões, os seus ferreiros, os seus artistas em cobre, ouro e madeira já gozavam de merecida reputação de excelência. Não havia abundância de animais de caça, mas a pesca nos rios, nos lagos e no mar, rendia muito.
Quanto aos bantos de Angola, tinham uma agricultura mais primitiva, praticada pelas mulheres, enquanto os homens criavam gado. Diferentemente dos iorubas e outros sudaneses usavam tecidos de pano, os negros das margens do Zambeza e das elevações de Banguela vestiam-se de cascas de árvores (como o fariam no quilombo de palmares); mais para o sudeste, porém, usavam vestimentas de couro, possuindo hábitos de caçadores e armas de ferro.
Carlinhos maracanã - Agitador cultural
Fonte: Édison Carneiro.(Ladinos e Crioulos) (Civilização Brasileira) 1964. - Antônio Mendes, Luiz Roncari, Ricardo Maranhão (Brasil História-Colônia)1976.
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