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Carnaval, Quaresma e Campanha da Fraternidade


O Carnaval, originariamente, era uma festa religiosa, significando "festa da carne", ou seja, o período prévio à Quaresma, com inicio na Quarta-Feira de Cinzas. Nesses dias os cristãos se fartavam de carne, uma vez que  no decorrer dos quarenta dias seguintes iriam se abster de carne. Todo ano, a data do Carnaval é alterada. Mudam também as datas da Semana Santa, de Corpus Christi e de outras festividades litúrgicas. O calendário gregoriano é solar, enquanto o calendário litúrgico é lunar.

A Páscoa é a festa central da liturgia, tanto judaica quanto cristã. Páscoa significa passagem da opressão à libertação, da morte à vida plena. É sempre comemorada pelos judeus na primeira lua cheia do mês de Nisan. Para evitar confusão com a festa judaica de mesmo nome, a Igreja adotou o domingo seguinte ao da Páscoa judaica como o da celebração da ressurreição de Jesus. “Para nós que vivemos no hemisfério Sul, o domingo de Páscoa é, portanto, aquele que se segue à primeira lua cheia do outono. O domingo de Carnaval é sempre o sétimo antes da Páscoa cristã. A quinta-feira de Corpus Christi é sempre a primeira depois do domingo da Santíssima Trindade, comemorado 57 dias depois da Páscoa. Assim, o domingo da Páscoa é a data de referência das demais festas litúrgicas chamadas móveis, pois há as que não se alteram, como o Natal, comemorado invariavelmente no dia 25 de dezembro...”(F.Beto).

A Quaresma, que começa na Quarta-feira de Cinzas, é um tempo forte de conversão, de graça e salvação. No Brasil, a dimensão comunitária da Quaresma é vivenciada e assumida pela Campanha da Fraternidade.  Através do Tema: “Fraternidade e defesa da vida” e do lema: “Escolhe, pois, a vida” (Dt 30, 19), a CF 2008 expressa a sua preocupação com a vida humana, ameaçada nos dias de hoje desde o seu início por causa do aborto, até a sua consumação por causa da eutanásia, e busca, através do método VER, JULGAR e AGIR, olhar a realidade de hoje, iluminar esta realidade mostrando o Deus Vivo que nos dá a vida e as decorrências éticas desta verdade para propor caminhos de conversão e de transformação da sociedade para que a pessoa humana seja sempre valorizada em sua plenitude, conforme a sua natureza e a vontade de Deus, e a vida seja um dos principais fundamentos da hierarquia de valores que marca o nosso existir e determina o nosso agir.

O Concílio Vaticano II já condenava como infame tudo quanto se opõe à vida,.. toda a espécie de homicídio, genocídio, aborto, eutanásia e suicídio voluntário; tudo o que viola a integridade da pessoa humana, como as mutilações, os tormentos corporais e mentais e as tentativas para violentar as próprias consciências; tudo quanto ofende a dignidade da pessoa humana, como as condições de vida infra-humanas, as prisões arbitrárias, as deportações, a escravidão, a prostituição, o comércio de mulheres e jovens; e também as condições degradantes de trabalho; em que os operários são tratados como meros instrumentos de lucro e não como pessoas livres e responsáveis. Todas estas coisas e outras semelhantes são infames; ao mesmo tempo em que corrompem a civilização humana, desonram mais aqueles que assim procedem, do que os que padecem injustamente; e ofendem gravemente a honra devida ao Criador.

O papa João Paulo II, trinta anos depois, na encíclica Evangelium vitae, constatou que as ameaças à vida pareciam estar aumentando. Com o avanço da mentalidade individualista e utilitarista, e com o desenvolvimento da ciência e da técnica, novas ameaças, como o aborto e a eutanásia, passaram não só a ser praticadas, mas vão deixando de ser consideradas ilícitas, sendo até mesmo amparadas pelo Estado. O resultado de tudo isto é dramático: se é muitíssimo grave e preocupante o fenômeno da eliminação de tantas vidas humanas nascentes ou encaminhadas para o seu ocaso, não o é menos o fato de à própria consciência, ofuscada por tão vastos condicionamentos, lhe custar cada vez mais a perceber a distinção entre o bem e o mal, precisamente naquilo que toca o fundamental valor da vida humana.

Ainda que todas as ameaças à vida devam ser permanentemente combatidas, a expressão “defesa da vida” vem sendo utilizada para designar a luta contra essas ameaças específicas, que parecem turvar a própria percepção do valor da vida humana, do bem e do mal, do certo e do errado. Não enfrentá-las implicaria em perder a capacidade de reconhecer aqueles valores fundamentais que nos movem na luta contra todas as demais formas de agressão à vida e à pessoa humana, tais como as decorrentes da pobreza, da violência, da guerra, etc.

Somos chamados a escolher entre caminhos que conduzem à vida ou caminhos que conduzem à morte. Caminhos de morte são os que levam a dilapidar os bens que recebemos de Deus através daqueles que nos precederam na fé. São caminhos que traçam uma cultura sem Deus e sem seus mandamentos ou inclusive contra Deus, animada pelos ídolos do poder, da riqueza e do prazer efêmero, a qual termina sendo uma cultura contra o ser humano e contra o bem dos povos latino-americanos. Os caminhos de vida verdadeira e plena para todos, caminhos de vida eterna, são aqueles abertos pela fé que conduzem à plenitude de vida que Cristo nos trouxe: com esta vida divina, também se desenvolve em plenitude a existência humana, em sua dimensão pessoal, familiar, social e cultural. Essa é a vida que Deus nos participa por seu amor gratuito, porque é o amor que dá a vida. Estes caminhos frutificam nos dons de verdade e de amor que nos foram dados em Cristo, na comunhão dos discípulos e missionários do Senhor, para que sejamos um continente no qual a fé, a esperança e o amor renovem a vida das pessoas e transformem as culturas dos povos .

Mas por que será que muitas vezes escolhemos o caminho da morte? Em primeiro lugar, porque não nos abrimos integralmente para a realidade. Reduzimos o real apenas a seus aspectos mais imediatos, que podem ser explicados pela ciência e dominados pela técnica. Eliminamos a pergunta sobre o sentido das coisas e dos acontecimentos, deixando sem resposta as perguntas sobre o amar e o sofrer, o bem e o mal. Passamos a acreditar que a ciência e a técnica podem solucionar os problemas, sem a necessidade do compromisso ético. Essa limitação de nossa razão nos impede de compreender o que é verdadeiramente o amor. Nós o reduzimos à simples realização de nosso desejo de posse do outro, sem perceber que a realização plena do amor acontece quando nos doamos ao outro, como nos lembra Bento XVI na encíclica Deus caritas est.

A vida nova de Jesus Cristo atinge o ser humano por inteiro e desenvolve em plenitude a existência humana em sua dimensão pessoal, familiar, social e cultural. Para isso, faz falta entrar em um processo de mudança que transfigure os vários aspectos da própria vida. O encontro com Cristo é o ponto de partida para reconhecer plenamente a sacralidade da vida e a dignidade da pessoa humana, mas esse reconhecimento não é exclusivo às pessoas de fé. Todo ser humano traz, em seu coração, o desejo de ter essa sacralidade e essa dignidade reconhecidas. Assim, com esperança e alegria renovadas, nos lançamos mais uma vez à defesa da vida, cientes que essa é uma luta pessoal e social contra uma cultura de morte que se infiltra no coração das pessoas e contra as estruturas injustas que objetivamente trazem a morte a nós brasileiros e a nossos irmãos latino-americanos.
 
Fonte:Arquidiocese de Porto Velho - RO

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