Sexta-feira, 4 de janeiro de 2008 - 09h22
Há dez anos escrevi um texto em defesa do voto facultativo. Uma década depois, quase ninguém o defendeu publicamente. O contra-senso é quase todos atribuírem às reformas a solução de todas as mazelas políticas.
As eleições continuam sendo realizadas a cada dois anos. Uma serve de trampolim ao político da vez à eleição seguinte. O cidadão continua pagando pela propaganda política gratuita no rádio e na televisão, à base de compensação de impostos.
A partir de determinado período deste ano, todos se encherão mais uma vez com as mensagens chatas, sem conteúdo algum, de pretensos candidatos que, além de nem saberem falar corretamente, vão repetir exaustivamente os velhos clichês e as promessas bestiais de sempre.
Os candidatos farão declaração de bens e rendimentos junto aos respectivos pedidos de registro. Os eleitos, depois de quatro anos, duplicarão, quadruplicarão seus bens, sem nenhuma outra atividade, apenas com o salário de prefeito. Alguns, praticamente sem nenhum bem na apresentação do registro, se tornarão fazendeiros, empresários de emissoras de rádio e agência de revenda de automóveis de luxo. Essa ascensão é corriqueira, de conhecimento público, notório e generalizado.
Nas campanhas, prometerão tudo a todos, porque os eleitores votam nos candidatos que prometem mais. Trata-se de um círculo vicioso. Sem promessa fantasiosa, o candidato não se elege. Como promete a todos, depois de eleito não tem como cumprir. Aí, os eleitores não contemplados são os primeiros a malhar o político que elegeram.
De início, os prefeitos colocarão nos postos de direção, trarão para perto os servidores bajuladores, mesmo sem nenhuma competência. Mandarão para muito longe funcionários excepcionais apenas por terem sido adversários políticos. Eis a principal ação de todos os prefeitos, em especial de cidades pequenas. Nas cidades do Nordeste, a grande realização de cada prefeito é trazer, a preço de outro, uma banda de forró famosa para animar o São João de sua cidade. Por conta das despesas com essas bandas, hospitais ficam sem esparadrapo, aulas são ministradas em currais de gado; alunos são transportados em espeluncas de ônibus; merenda escolar fica no imaginário de alguns. A mudança de priorização virá quando as pessoas perceberem que essas ações não são por fatalidade. E as autoridades, especialmente o Ministério Público, intercederem para exigir a penalização criminal por omissão de prefeitos, quando morrerem pessoas por falta de remédio, de equipamentos adequados e de médicos, em função de priorizarem festas à Saúde.
A mudança mais perceptível é do patrimônio do prefeito eleito, que compra logo carrões, muitos importados. A cada ano sua riqueza se amplia a ponto do município não comportá-la e expande a outros. Até agora, com tantos órgãos oficiais de fiscalização, não se tem notícia de nenhum condenado por enriquecimento sem causa, com devolução do dinheiro ao Erário Público. Os mais renomados, como Orestes Quércia e Newton Cardoso, tornam-se capa da revista Veja. Os prefeitos de pequenas e paupérrimas cidades guardam reservas para se tornarem deputados, quando reabrem as portas de suas residências aos seus munícipes. Os eleitores guardam os votos para vendê-los literalmente ou trocá-los por outras promessas na próxima eleição. E viva o povo brasileiro!
Pedro Cardoso da Costa Interlagos/SP
Bel. Direito
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