Quarta-feira, 16 de janeiro de 2008 - 09h09
O Estado existe para administrar as relações individuais ou coletivas, jurídicas e sociais, entre os cidadãos. Em última instância o poder legítimo do Estado é ilimitado. Para alcançar esse poder o processo legal são as eleições por meio do voto popular, ditatorialmente, ainda obrigatório no Brasil.
A cada eleição todos falam aleatoriamente que o cidadão deve votar consciente. Essa colocação fica restrita à própria abstração. No que consiste essa consciência ninguém diz, mas após os pleitos, a culpa pelo mal administrador recai sempre sobre o eleitor.
A reeleição foi aprovada para possibilitar a continuidade das boas administrações e evitar que fossem prejudicadas com mudanças de governo. À época discordávamos apenas porque essa lógica não valeria por várias reeleições, até que o povo retirasse pelo voto. Na próxima eleição muitos candidatos estarão sob a avaliação do eleitor para continuar, se aprovados.
Sempre se ouve que o Estado deve cuidar das funções essenciais. Prioritariamente, poderiam ser citadas as elementares, como a alimentação, a educação, a saúde e a segurança.
O noticiário repete dados dos órgãos oficiais que cinqüenta milhões de brasileiros comem uma vez por dia. Se comer três vezes fosse considerado requisito do voto consciente, cinqüenta milhões já estariam dispensados do voto.
Se possuírem moradia e assinar o nome for mais dois componentes dessa tal consciência, mais trinta e dois milhões estariam autorizados pelo discurso oficial a não comparecerem às urnas. Os dezessete milhões de analfabetos, porque não vão acertar o botão eletrônico e estão constitucionalmente liberados e mais quinze milhões que não têm onde morar.
Quanto à segurança pública bastaria exigir que só votasse quem se sentisse realmente tranqüilo. Só votaria o secretário Marco Viniciu Petreluzzi, que poderia ser anulado por fraude eleitoral, considerando que se sente tão inseguro quanto qualquer cidadão comum.
Mas esta área do governo zeraria dez vezes as eleições, no mínimo. Fora a Segurança, outras tantas seriam facilmente enumeradas para quem já passou ou teve uma pessoa próxima que já fora assaltada, mal atendida num hospital público, ou em qualquer órgão público, fila para matricular o filho numa escola pública, ligou num período de festa e o telefone não funcionou, quem anda espremido no metrô, trem ou ônibus, quem já teve carro roubado, quem não tem policiamento no bairro; mas, principalmente, quem vê ou lê os políticos dizerem que isso tudo é ficção ou coisa de pessimista. Há o exemplo do apagão que, quem não economizou foi multado, e quem cumpriu a meta foi castigado com aumento para compensar as perdas decorrentes da economia compulsória. Alguns milhões ficariam isentos de votar se julgarem injusto a falta de correção da tabela do imposto de renda.
Se o voto consciente for concordar que a bolsa-família seria o padrão de dignidade desejado, a lógica determina a continuidade do atual governo federal. No âmbito estadual, quem achar que o número de fugas nos presídios paulistas está dentro da normalidade, deve mantê-lo. Como agora as eleições municipais são municipais, quem achar que as ruas devem continuar com o grau de limpeza atual, com as pichações como estão, sem dúvida de que não poderá mudar. Caso contrário, plagio Victor Civita, "faço votos - e confio que a escolha seja feita com o costumeiro bom senso". Ou então poderia mencionar o titulo do texto que levou àquela conclusão "o Brasil agora tem rumo. É só mantê-lo" Revista Veja, 1733, de 9/01/2002.
Não se deve limitar o voto consciente ao comparecimento às urnas para reeleger um qualquer, ou simplesmente substituí-lo por outro.
Ter consciência ao votar é ter parâmetro do bem-estar que o Estado deva oferecer, definindo uma média para afirmar ou negar a eficiência das administrações atuais. Se essa média for atingida satisfatoriamente, a lógica determina a continuidade do governo. Se a população achar que ficou longe da meta, muda-se o governo. Ainda, assim, para mudar deve ser analisado se outro faria melhor. Ou então, mudar por mudar, com a certeza que nada mudaria, apenas para reprovar o atual.
A mídia limita a discussão em futricas e nos golpes baixos das "raposas" políticas. Da forma como o processo eleitoral vem sendo coberto, o voto consciente e o inconsciente politicamente têm o mesmo valor: nenhum.
Fonte: Pedro Cardoso da Costa
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