Sábado, 24 de junho de 2017 - 21h03
Depois da carta-bomba, que tantos estragos provocou, surge agora a carta-cocô, que leva sua mensagem explícita a quantos, no exercício do mandato ou de cargos federais, fazem declarações ou adotam atitudes que se assemelham ao conteúdo das missivas e exalam mau cheiro. O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, que tem se revelado um dos mais fiéis escudeiros de Michel Temer, foi um dos destinatários, entre outros parlamentares e ministros do governo. Maia tem ignorado solenemente os pedidos de impeachment de Temer, apesar da pressão popular, talvez porque sabe que a queda do presidente ilegítimo implicará, também, na queda do seu sogro, o ministro Moreira Franco, o que pode provocar uma briga em família. Por isso, não admite nenhum pedido, ignorando até mesmo uma determinação relativamente antiga do ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal. E, como consequência, Michel Miguel vai reinando, desafiando todas as acusações e retaliando os adversários, no seu império apodrecido pela corrupção.
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso comparou a gravidade da situação do governo Temer ao de Getúlio Vargas, mas, embora tenha insinuado, ressaltou que não quer que ele se mate. Depois do passeio pela Rússia e Noruega, países onde cometeu gafes e foi praticamente ignorado, Temer volta à dura realidade do Brasil para continuar vivendo o inferno que construiu para si mesmo. Nada mudou durante a sua curta excursão e tudo indica que o seu maior pesadelo deve começar agora, com as novas denúncias do Procurador Geral da República, Rodrigo Janot, que pretende concluir seu mandato, a expirar em setembro próximo, com chave de ouro, trancando Temer na cadeia e entrando para a História como o PGR que prendeu um Presidente. Pode ser, porém, que, frustrando os planos de Janot, Michel Miguel permaneça no cargo e nomeie um novo Procurador que, mais afinado com ele, desmonte todo o processo armado pelo antecessor. Afinal, o homem não se entrega facilmente e sabe usar como poucos o poder que o cargo lhe confere.
Tudo leva a crer que Temer deverá interromper uma praxe de vários anos, deixando de nomear para a PGR o mais votado da lista tríplice a ser elaborada pelos integrantes do Ministério Público. Na verdade, a julgar pelo que disseram no debate televisionado, nenhum dos oito candidatos ao cargo atende aos interesses de Michel Miguel, porque todos exaltaram a Operação Lava-Jato e afirmaram que vão prestigiá-la e reforçá-la. Sendo assim o escolhido não deveria desfazer o que Janot fez, já que, teoricamente, o objetivo da Lava-Jato é combater a corrupção. Diante disso, Temer deverá tirar o novo PGR do bolso do colete, alguém que não apareceu ainda em nenhuma lista mas que, por ser da sua confiança, fará a esperada faxina na obra do ex-PGR. E ele mais uma vez escapará da pena, a exemplo do que aconteceu no julgamento do Tribunal Superior Eleitoral, a não ser que o Supremo nos surpreenda e coloque a toga, finalmente, a serviço da Justiça e do país.
A semana que se inicia promete. Além das novas denúncias de Janot contra Temer e Aécio Neves, a dupla atingida em cheio pelo petardo da JBS, provavelmente também esta semana o juiz Sergio Moro dará sua sentença no processo do tríplex do Guarujá, em cujas alegações finais os procuradores, à frente Deltan Dallagnol, pedem a condenação e prisão do ex-presidente Lula pelo crime de NÃO ser o proprietário do apartamento. O magistrado de Curitiba que, no decorrer do processo, já deixou bem clara a sua posição de inimigo do ex-presidente operário, terá de meditar bastante sobre a sua decisão, que poderá ser o estopim para a explosão de uma revolta popular de consequências imprevisíveis. Afinal, não é mais segredo para ninguém que o principal objetivo da Lava-Jato é eliminar Lula do cenário político, impedindo o seu retorno à Presidência da República nas próximas eleições. Até porque o seu retorno ao Palácio do Planalto é praticamente certo, considerando as pesquisas de intenção de votos, que o colocaram na liderança da corrida presidencial.
Se Moro condenar Lula por um crime que ele não cometeu, conforme as testemunhas e juristas, e o povo se levantar nas ruas, tudo pode acontecer, inclusive uma intervenção militar sob o pretexto de manutenção da ordem. Militares já declararam que pretendem se manter dentro dos quartéis, observando os preceitos constitucionais, longe, portanto, das querelas políticas, mas se explodir uma guerra civil estará criado o clima propício à uma intervenção militar e, então, a democracia, já arranhada pelas atitudes ditatoriais de Temer e do Judiciário, correrá sérios riscos. E a História julgará todos os que, ao contribuírem para a destituição de um governo legalmente eleito, concorrerem para a nova situação do Brasil. A Lava-Jato, que já causou mais danos do que benefícios ao país, fechando empresas, fragilizando a Petrobrás, desmontando a indústria naval e desempregando milhares de trabalhadores, será a grande predadora. Tudo poderia ser diferente se a operação não tivesse se politizado, punindo efetivamente apenas os corruptos comprovados e não as empresas, não se transformando em instrumento político de grupos interessados no poder. O Brasil seria de fato passado a limpo.
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