Segunda-feira, 5 de outubro de 2009 - 22h14
Quando era menino vivia no sertão de Goiás. Ainda era Goiás. Hoje é Tocantins. Deputado e Senador vi um ou dois por lá em mais de 15 anos. Nas campanhas políticas ninguém aparecia. Punhadinho de votos. Que nem valia a pena. Além do mais, por necessidade absoluta havia muito pedido de emprego e outros favores. Por que se aborrecer por nada? Era melhor não ir.
Ninguém sabia de nada. Não se lia jornal. Revista velha. Cozinha com lenha. Transporte no lombo do jumento. Carro de boi. O carro de boi cantava, eixo engraxado com sebo e carvão. Ia a vinha, subindo e descendo, sem pressa puxando mercadoria. Pedra, tijolo e barro. Ninguém reclamava. Não se tinha comparação com mais nada. Leite vendido de porta em porta. Até hoje continua assim. Funileiro, ferreiro, carapina, sapateiro, seleiro, pedreiro, ajudante, alfaiate... Era assim e pronto. Todo mundo tinha profissão. Suava a camisa.
Uma igualdade geral, quase um socialismo por baixo. Do remediado ao desvalido. Era classe D e classe E. Lá embaixo na escala social. Ainda acho muito a classe E. Pra mim, por ali, era classe Z. E ninguém reclamava. Ninguém sabia reclamar. Ninguém pedia nada de benfeitoria. A malva na praça. O capim selvagem nas ruas. De vez em quando se passava uma foice. Ninguém xingava o prefeito. Ninguém sabia que nem havia direitos. Povo feliz na sagrada ignorância.
Não me lembro de gordos por lá. Povo enxuto, carne e músculo. Um dedinho de gordura fina. E serviço pesado, dia inteiro. Refrigerante não havia. O arroz e o feijão. Carne cozida, não me lembro de bife. Paçoca de pilão. Paçoca de amendoim. Gergelim. Suor e suor. Tomei a primeira coca-cola aos dezesseis anos. Pudim na mesma idade. Sanduíche mais ou menos aos vinte. Todo mundo magro.
Josué de Castro, médico pernambucano denuncia nos livros o absurdo da fome no Nordeste. Aquela ponta de Brasil era mais Nordeste que Centro Oeste. Hoje é Norte. A Bahia encostada, o Maranhão também, um nariz do Piauí, foi ali que eu nasci, num Norte, Nordeste e Centro Oeste. Cantão de mundo quase desvalido, perdido, achado, comido, sei lá dizer o que era. Nem me interessava por ser de geografia indefinida. Não se sabia a causa da morte. Todo mundo morria do coração. Morreu de quê? – morreu do coração. Ou quando muito “de repente”. Velho caducava. Hoje se chama Alzheimer.
Todo mundo vivia feliz. Mulher se casava virgem. Nenhuma colega minha “se perdeu” na vida. Quase todo mundo rezava antes de dormir. A missa no domingo era a alternativa da cidade. Para se ver uns aos outros. Todo mundo ficava na janela olhando a rua. Ninguém tinha pressa. A fala era arrastada que nem engenho de rapadura. O campo de bola não tinha grama. Maioria gostava de ler. Não havia médico. E menino apanhava para tomar lombrigueiro.
Importante – ninguém era gordo. Meninos e adultos no peso ou abaixo dele. O arroz era socado no pilão. Muita fruta nos quintais. Mais ainda no cerrado. Caju, bacaba, goiaba, jabuticaba, baru, ananás, tangerina, banana, macaúba, manga, muita manga. Manga comum, manga espada, manga rosa, coquinho. Cuscuz, beiju de tapioca, batata cozida, mandioca, óleo de coco. Era o que se comia.
E agora, depois de tudo que se viu, este mundo espetacular, até a comida mudou, pizza, pão com recheio, farofa enlatada, sanduíches de todo tipo, molho, maionese, catchup, cobertura, copo grande de refrigerante, batata frita, tudo crocante, crau e crau. Tem sanduíche de tão grande que a boca não cabe. Boca e sobreboca e sub-boca tudo lambuzado de cremes de leite e outras barafundas. Uma comidinha desta tem mais de quatro mil calorias. E daí a pouco mais ainda.
Ninguém quer mais suar a camisa. Nem andar a pé. Nem puxar uma bicicleta. Nem levantar para ligar a TV. Nem andar a cavalo. Nem puxar balde d’água para encher o pote. Agora é moto, carro, ônibus e avião. E lá vai a vida engordando. Lá vai a pressão subindo. E o país gastando cada vez mais com remédios. E não tem nada que dê conta. Faltam verbas para os hospitais. Enquanto isto o povo come cada vez mais. Este mundo de baboseira. E tudo muito gostoso. Eu quero no almoço é lasanha. E na janta vou pedir uma pizza à moda da casa. No quebra-jejum vou comer um big-mac com dois litros de coca-cola.
E bye e bye vida minha. Ainda não escolhi se vou de São Francisco ou São Sebastião. Bye.......
Fonte: Confúcio Moura
Silêncio do prefeito eleito Léo Moraes quanto à escolha de nomes para o governo preocupa aliados
O silencio do prefeito eleito de Porto Velho, Léo Moraes (Podemos), quanto à escolha de nomes para comporem a sua principal equipe de governo vem se
Zumbi dos Palmares: a farsa negra
Torturador, estuprador e escravagista. São alguns adjetivos que devemos utilizar para se referir ao nome de Zumbi dos Palmares, mito que evoca image
Imagino quão não deve estar sendo difícil para o prefeito eleito Léo Moraes (Podemos) levar adiante seu desejo de não somente mudar a paisagem urban
Aos que me perguntam sobre eventuais integrantes da equipe que vai ajudar o prefeito eleito Léo Moraes a comandar os destinos de Porto Velho, a part