Quarta-feira, 5 de agosto de 2009 - 05h58
Comentários políticos - Crônica de um príncipe e sua sucessão
Dejanir Haverroth*
Em um cenário europeu da idade moderna, um príncipe provinciano será obrigado a deixar o trono e luta para fazer o seu sucessor. As batalhas acontecem em diversos lugares da província, entre os aliados do príncipe e seus opositores.
O príncipe dessa história (Ivo Cassol) não tem o trono vitalício, embora não tenha se atentado para isso quando usou o manual de Maquiavel durante todo o tempo em que está no poder. Sua linha de conduta poderia eternizá-lo, porém, as leis daquele reino (Brasil) não permitem que seu rei e os príncipes permaneçam por mais de oito anos no poder. Ele tenta fazer um sucessor de sua linhagem para que o trono não caia nas mãos de seus opositores.
Quando deixar de ser príncipe, Cassol quer ocupar uma cadeira no senado para representar sua província (Rondônia). Não terá dificuldades em ocupar essa vaga, já que conquistou prestigio durante seu principado. Agora, os candidatos a príncipe, seus aliados, lutam para ganhar popularidade e as bênçãos de Cassol para assumirem o trono da província.
O primeiro da linha de sucessão é o coronel Expedito. Apesar de estar ferido das batalhas anteriores, e prestes a perder outro combate, ele tem grande popularidade e um grande exército ao seu lado. Por enquanto, goza de uma cadeira no senado e das mordomias oferecidas na província pelo príncipe. Apesar de todas essas facilidades, ele não tem a bênção de Cassol para assumir o trono. O príncipe tem outros planos para ele: quer que o acompanhe no Senado.
O segundo da linha sucessória é o coronel Cahula. Apesar de ter a confiança e a bênção do príncipe, ele não tem muita experiência no campo de batalha. Sempre trabalhou nos bastidores e não goza de prestigio popular - item fundamental para a conquista do trono. Esse coronel tem pouco tempo para se preparar para o confronto final, onde terá que liderar todos os aliados, caso seja o escolhido do príncipe.
Outro que luta pelo apoio do príncipe é o Major Neudi. Apesar de experiente, ele nunca enfrentou uma batalha que lhe desse notoriedade a ponto de pretender o trono. Além disso, ele precisa ser promovido a coronel antes de ser escolhido para a sucessão. Neodi comanda a assembléia dos notáveis, onde diversos capitães aliados também fazem parte. A favor de Neudi pesa a possibilidade de ele assumir o trono do príncipe temporariamente. Se isso acontecer, provavelmente pegará gosto e não vai mais querer sair.
Alianças – Durante seu reinado, o príncipe Cassol conquistou muitos aliados em diversos meios sociais. Ele tem o apoio da maioria dos burgueses, não apenas os moradores dos burgos (cidades), mas, principalmente dos comerciantes. No campo ele conquistou o apoio de muitos senhores feudais e também de colonos, graças aos benefícios que levou para o interior da província.
Sem o apoio do clero católico, o príncipe busca aliados em meio aos protestantes – vários capitães e diversos exércitos mercenários são aliados do príncipe no meio protestante. Dizem que até ele se converteu ao protestantismo.
Outros aliados são os escribas. Nessa época a imprensa de Gutenberg já tinha um papel importante nos destinos da história da humanidade. Todos os que escrevem, cantam ou representam, fazem isso a favor do príncipe e nunca contra. É como se toda a oposição fosse analfabeta.
No campo de batalha - As batalhas dos aliados do príncipe acontecem em diversas regiões da província. Alguns capitães tentam promoção com interesse no trono, outros apenas buscam cumprir o seu papel na defesa do clã. O próprio príncipe cuida da artilharia, lançando pedras e flechas para desestruturar os exércitos inimigos, enquanto os capitães comandam a cavalaria e a infantaria.
Na capital, Porto Velho, o príncipe comanda pessoalmente a luta contra os amigos do Rei, da dinastia PT. Eles dominam a capital e têm agentes infiltrados em todas as cidades da província. Querem eleger o próximo príncipe e contam com o apoio do Rei (Lula). As investidas do príncipe contra a dinastia PT é freqüente. Sua tática é a conhecida “morde e assopra”. Ao mesmo tempo em que se utiliza das “bênçãos” do rei, diz que não recebe sequer uma “Cebalena” de presente.
No Vale do Jamari a batalha é comandada pelo capitão Tiziu, contra o Coronel Confúcio, um dos mais conceituados membros de uma dinastia opositora (PMDB). Tiziu quer promoção para concorrer ao trono do príncipe, mas dificilmente conseguirá. Ele faz seus vôos curtos e barulhentos, enquanto a águia Confúcio sobrevoa serena e senhora do vale. Tiziu incomoda, apenas isso. Os moradores do Vale gostam dele, mas o querem apenas como capitão e não acreditam que ele tenha capacidade de voar muito alto, por enquanto.
Da região de Ouro Preto vêem fortes aliados. O major Testoni e o Coronel Magno. Magno auxilia outros batalhões do príncipe em diversas regiões da província, enquanto Testoni garante a estabilidade em Ouro Preto.
No coração da província o príncipe busca aliança com o coronel Bianco, raposa velha, mas independente. Bianco já foi príncipe e tem sua própria dinastia (DEM) e seu próprio exército. Dificilmente engajará em batalhas pra defender outro príncipe. Mas ali, no Coração da província, o bombardeio da artilharia do príncipe é constante e os seus escribas formam conselhos. Ali se concentra um dos comandos de inteligência do príncipe, mas também mora um dos seus mais ferozes inimigos: o poderoso Coronel Gurgacz, dono de uma boa fortuna e de um grande exército espalhado em toda a província. Mas ele não representa perigo no momento, está ferido e não está pronto para o combate direto. Pode atacar apenas com a artilharia.
No sul da província dois capitães lutam, em vão, para exterminar o clã Donadon. Capitão Luizinho e Capitão Neiva travam batalhas diárias em favor do príncipe. Embora eles estejam ganhando terreno, estão longe de dominar a região, onde o Clã Donadon tem fortes e fiéis aliados, além da simpatia popular.
A mais sangrenta batalha do Príncipe Cassol é na zona da mata. Embora seja a sua terra natal, lá também vive o Coronel Raupp, que também já foi príncipe da província e tem como fiel escudeira a amazona Marinha. Mas Cassol também tem um aliado forte na região: o seu coronel Expedito. Nunca houve confronto direto entre Raupp e Cassol. Mas parece que a batalha, desta vez, é inevitável. Raupp é o poderoso senhor de uma dinastia (PMDB) que luta pelo trono, para um de seus liderados, e procura se manter no Senado do reino. Raupp tem frentes de batalhas em todas as regiões da província.
Ainda na Zona da Mata, outro aliado de Cassol prepara seu exército. É o Coronel Capixaba, protestante e habilidoso político. Apesar de valente, ele se recupera de uma batalha perdida e ainda está ferido. Ele é independente e lidera uma forte dinastia, o PTB. Capixaba é aliado de Cassol, mas pode não apoiar o sucessor do trono apontado por ele na batalha final. Sua aliança, por enquanto, é apenas com o atual príncipe, e não com seu pupilo candidato a sucessor.
Não será por falta de exército e aliados se o príncipe Cassol perder o controle sobre o trono. Será por falta de observância do manual do príncipe, de Machiavel. O Manual foi escrito para um príncipe vitalício, não para um temporal. Um príncipe vitalício não deve fortalecer seus aliados a ponto de torná-lo à altura do seu trono. Já o príncipe temporal precisa fazer um sucessor ainda em vida. Cassol só se atentou para esse detalhe pouco tempo antes de deixar o trono. Hoje, a um ano da grande batalha, nenhum de seus aliados goza de respaldo para assumir o seu lugar.
* Dejanir Haverroth é jornalista e diretor do Instituto Rondoniense de Pesquisa e Estatística
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