Quinta-feira, 21 de junho de 2018 - 08h01
De uns tempos para cá, muitos brasileiros estranhamente se viram envolvidos em uma cruzada moralista sem precedentes que mais se parece com uma espécie de “caça às bruxas”. Em todos os sentidos busca-se o politicamente correto como se aqui vivessem os mais puros e honestos habitantes do mundo. Com o advento e a popularização das redes sociais, a busca pelos cinco minutos de fama se intensificou de forma assustadora. Dois fatos recentes servem para exemplificar essa mudança radical no comportamento de alguns hipócritas. O primeiro foi dentro de um shopping Center em Salvador na Bahia e o outro na Rússia em plena Copa do Mundo. Em ambos os casos, uma parte da população do país foi tomada de uma hora para outra por arroubos moralistas e pediu punição imediata a todos os envolvidos nos lamentáveis episódios.
No caso de Salvador, quando um comerciante pagou um almoço para um garoto de aparência humilde que vendia balinhas na porta do estabelecimento, a população se revoltou com o segurança que tentava impedir de qualquer maneira a presença do menor naquele ambiente. Tudo foi devidamente filmado e, claro, o tumulto logo “viralizou” nas redes sociais. Nada aconteceu com o estabelecimento comercial nem com os seus donos. Sobrou tudo para a parte mais fraca: o vigilante. Afastado imediatamente de suas funções, a direção do shopping disse que o mesmo passará por uma “capacitação”. Mas já circulam comentários nas mesmas redes sociais dando conta de que o mesmo fora demitido e na procura de um novo emprego, já foi recusado por três empresas. Por que o cidadão não foi capacitado antes? Será que ele não estava mesmo cumprindo ordens?
Além do mais, por que um desconhecido estava na companhia de um garoto querendo lhe dar comida? Ninguém questionou nada nem buscou saber o porquê de um menor estar mendigando comida nas ruas quando podia estar em uma escola. E a sua família? O “vilão” já foi punido e isso é o que mais interessa. Todos saíram felizes do episódio, menos o coitado do segurança e de sua família. Já o outro triste e lamentável fato, o caso do vídeo gravado em Moscou, teve muito mais repercussão. Bêbados e vestidos com a camisa da seleção brasileira, alguns torcedores protagonizam o que de pior existe entre nós brasileiros: misoginia, preconceito, machismo e falta de vergonha na cara. Eles fizeram uma sorridente jovem russa pronunciar junto com eles que o seu órgão genital era rosa. “Buc... rosa! Buc... rosa!”, era o refrão. Uma cena dantesca!
Como não entendia uma só palavra do Português, a alegre jovem achava que se tratava apenas de um grito de guerra dos brasileiros e cantou alegremente com todos eles. Sob todos os pontos de vista, aquela “diversão” de péssimo gosto parecia músicas FUNK cantadas no Brasil. Ninguém gostaria de ver uma familiar ou uma amiga se envolver numa cena absurda desta. Mas as reações por aqui foram imediatas. Feministas e afins passaram a caçar e a identificar os envolvidos na canalhice. Até a rede Globo faturou com o episódio dando lições de ética. Muitos querem a punição dos infratores. Moralistas e defensores dos “bons costumes” engrossam o coro. Na Rússia, assédio não é crime. Mas a pressão foi tanta que os russos podem investigar o caso. Vai sobrar de novo para a parte mais fraca. Os brasileiros deviam se incomodar também com o roubo na política e com desvios de dinheiro, que são muito mais imorais. Mas todos se calam.
*É Professor em Porto Velho.
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