Terça-feira, 8 de janeiro de 2008 - 16h38
A discussão sobre as hidrelétricas do Madeira está focada em dois pontos: sou contra porque afeta o meio ambiente ou sou a favor porque vai gerar desenvolvimento. Mas a essência é saber qual o benefício que Rondônia terá com esta obra após a conclusão da obra.
Esta energia não é para os rondonienses. A Agencia Nacional de Energia divulgou há três dias a lista de 32 empresas que poderão comprar energia do Madeira. Tem empresas do Rio Grande do Sul ao Piauí, mas – pasmem – nenhuma de Rondônia A Ceron está fora o que significa que a tal energia limpa e mais barata é para os outros. CLIQUE E CONFIRA RELAÇÃO.
E nem precisamos da energia do Madeira. Temos hoje quase o dobro da energia que consumimos Quem deveria estar brigando por energia do Madeira é o carioca, paulista, etc., que vão ficar no escuro se o Brasil crescer mais de 4% ao ano. A verdade é que o Brasil pára se não tiver a energia do Madeira. E só do Madeira, porque é um dos rios que mais correm no planeta – cerca de 8 km por hora, podendo chegar a 14 km nas corredeiras de Santo Antônio e Teotônio.
O nosso Madeira velho de guerra é o único rio no Brasil em que se consegue implantar a tecnologia de turbina submersa com máximo aproveitamento e menor impacto ambiental. Se mesmo assim, a questão ecológica trava a obra, imagine se a alternativa forem as tradicionais hidrelétricas com seus lagos quilométricos.
É por este motivo que energia nova para o Brasil tem que sair de Rondônia e deste rio abençoado. E mais uma vez é Rondônia resolvendo parte do problema brasileiro, como aconteceu no início da década de 80, quando importamos desempregados, aventureiros e algumas boas pessoas, oferecendo terra e trabalho. Muitos Estados tiveram problemas sociais aliviados, graças ao maior índice migratório já registrado no Brasil.
E será que de novo vamos ficar com os problemas? Os favoráveis falam em 40 mil emprego, desenvolvimento, obras, etc. Visão curta, míope, porque tudo isso vai acontecer – mas acaba. E depois de concluída, uma hidrelétrica é tocada por meia dúzia de pessoas. Faça uma visita a Samuel.
Mas depois das obras tem os royates, os impostos, dizem os entusiastas, a quem sugiro que se informem com a prefeitura de Candeias quanto o município recebe de royates da Usina de Samuel e de ISS. O ICMS é cobrado no local onde a energia será vendida. Não vai ficar em Rondônia.
Depois da obra pronta, o benefício que fica não paga o problema social que será criado. Alias, foi isso que aconteceu quando encerraram as obras de Samuel e milhares ficaram vagando pelas ruas. A mesma coisa aconteceu com o fim da febre do ouro do Madeira, a partir de 1985.
Defender a construção das hidrelétricas do Madeira é problema do restante do Brasil que não quer ficar no escuro. O que nos rondonienses temos que defender e exigir é que sejamos muito bem pagos por estar resolvendo o problema energético nacional.
Vivemos décadas no escuro e em um sistema isolado. Agora querem fazer um gato em nossos fios que correm energia em abundância.
Danem-se os bagres e outros ídolos ambientais. Mas se for em troca apenas de 40 mil empregos por 10 anos e problemas sociais por 100 anos, deixa como está.
Desde o fim da época Teixeirão/Mário Andreazza Rondônia é tratada com desprezo pelo Governo Federal. É hora de exigir muitos investimentos e valorizar cada quilowatt que vai sair das águas do Madeira. Não só investimentos para amenizar danos ambientais, mas principalmente para equilibrar o caos social e estrutural que vamos criar para nossos filhos e para as próximas gerações. E isso em troca de apenas uma década incremento econômico em função da obra, que proporciona emprego, mas que fragiliza o salário com aumento do custo de vida. Alguém se lembra da inflação garimpeira?
Antes de defender as usinas, vamos defender Rondônia.
Fonte: Alexandre Badra
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