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De Chacrinha, Bolsonaro e temas afins


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Abelardo Barbosa, o Chacrinha, gênio da comunicação de massa sobre cuja história certamente se debruçarão muitas gerações futuras de pesquisadores, tinha uma enorme capacidade de síntese. Como todo gênio, fugia ao lugar comum. Assim, sua capacidade de síntese não se aliava à contundência, antes dava graça a suas palavras, recobrindo-as de um enorme poder de dissuasão, algo necessário em tempos de censura.

Coube-lhe, então, em pleno regime de exceção pós-64, servir-se da televisão para entoar seu mais veemente repúdio ao jogo do poder, corajosamente bradando: “O cordão dos puxa-sacos cada vez aumenta mais”. Uma constatação bem própria de sua aguçada percepção do comportamento humano.

Antes mesmo que se falasse em homofobia ou coisa desse tipo, Chacrinha impunha a tolerância por meio da banalização da estigmática classificação de comportamentos, anunciando em seu programa: “Agora, com vocês, o trissexual Agnaldo Timóteo!” E Timóteo, recém-eleito deputado federal, entrava no palco sorrindo e sem ter que dar satisfações a ninguém.

Ainda não existia literatura de autoajuda, nem tampouco coaching para a vida ou coisa assim, mas o Velho Guerreiro, do alto de sua sabedoria, aconselhava: “Se você está passando mal, compre um ferro novo e passe bem”. Sábias palavras que instavam à reflexão sobre a simplicidade das soluções que por vezes retardamos para os problemas da vida cotidiana.

Mas voltemos ao cordão dos puxa-sacos: não há dúvida de que ele cada vez aumenta mais. A ascensão de Bolsonaro vem demonstrar isso. Já não bastassem os puxa-sacos do time adversário, insistindo em tapar o sol com a peneira, eis que surgiu no cenário, da noite para o dia, uma legião de puxa-sacos um tanto diferente, aos quais talvez se pudesse denominar “puxa-sacos sem pauta”.

Enquanto na oposição sistemática a Bolsonaro se alinham os puxa-sacos do ancien régime, com uma pauta pra lá de conhecida, constituída por verdadeiros mantras da esquerda, em torno de Bolsonaro tem-se uma legião de puxa-sacos que ora aplaudem o fim do Ministério do Meio Ambiente, ora voltam atrás e acham certo Bolsonaro o manter.

Os puxa-sacos sem pauta festejam o anúncio do fim do Ministério do Trabalho, depois aplaudem o recuo de Bolsonaro quanto a tal proposta, para logo em seguida terem que novamente aplaudir a extinção do ministério. Haja ginástica cerebral pra acompanhar tanta mutação. E ai de quem disser que contra a extinção enquanto eles a defendem ou disser que Bolsonaro não devia ter recuado enquanto a proposta foi deixada de lado.

Tais puxa-sacos estão de prontidão não propriamente para defender a ideia do dia, o que esteja dando na veneta do presidente eleito, mas para atacar quem se atreva a raciocinar com os próprios neurônios, pois partem para cima com clichês e jargões: “esquerdopata!”, “mortadela”, “marxista cultural” etc.

Assim foi durante a campanha: se o indivíduo não concordasse plenamente com ideias idiotas como “direito à legítima defesa” e facilitação de porte de arma, era prontamente tachado de “desarmamentista”, “esquerdopata” etc. Acontece que, finda a campanha, é o próprio Bolsonaro que diz que a coisa não é bem assim, propondo que primeiro se libere a posse de arma para eventual uso dentro de casa. E aí os puxa-sacos, um tanto frustrados, têm que adotar a nova ideia e abandonar a velha.

É difícil ser puxa-saco de um político sagaz como Bolsonaro, que percebe a necessidade de evoluir nas posturas, conter a verborragia, incorporar a altivez do cargo, refletir mais sobre questões complexas, abrir-se efetivamente para o diálogo. Um político que surpreende a cada dia, para desespero dos que o odeiam por não estar afundado no lamaçal da corrupção petista e para desespero, também, dos que têm que readequar ora por outra seus argumentos para manterem seus galardões de puxa-sacos.

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