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Dedo no gatilho


Dedo no gatilho - Gente de Opinião

Nosso futuro está sendo decidido bem longe daqui, às margens do Golfo Pérsico, onde o Irã aprisionou um petroleiro britânico e se recusa a devolvê-lo. O Irã, como há alguns anos o Iraque, parece convencido de que pode vencer uma guerra contra uma grande potência. E a Inglaterra, ainda mais que os Estados Unidos, não costuma aceitar provocações. Já armou uma frota para reconquistar as Ilhas Falklands, ou Malvinas, sem grande valor ou posição estratégica, apenas para retribuir a tomada da área pela ditadura militar da Argentina. Foi uma operação exemplar: desembarque, cerco do inimigo, e em seguida a questão foi entregue aos gurkhas, soldados do Nepal que há séculos formam uma temida unidade de elite do Exército britânico.

 

São eméritos lutadores no corpo a corpo, com punhais. Defendem a tese de que, uma vez desembainhado, o punhal só pode voltar à bainha depois de ser molhado com o sangue do inimigo. O Reino Unido tem uma excelente frota aérea, produz bombas nucleares, faz parte da OTAN, Organização do Tratado do Atlântico Norte, e conhece o Irã desde o tempo em que foi o aliado favorito do xá Reza Pahlevi. Aliás, o pai do xá, Reza Xá, andou se aproximando dos nazistas e foi deposto pelos ingleses, que passaram o trono a seu filho. Os ingleses conhecem a fundo a economia do país: a Anglo Persian (depois Anglo Iranian) Oil Company foi por eles estruturada

 

Os riscos

 

Os ingleses criaram os comandos que tanto atrapalharam os nazistas na Segunda Guerra Mundial; e têm o internacionalmente famoso SAS, Strategic Air Service, grupo de elite para intervenções rápidas O Irã, como antes dele o Iraque, parece convencido de que está bem protegido contra grandes potências.

 

Não está: lembremos que o porta-voz do Governo iraquiano foi à TV proclamar a vitória contra os invasores americanos e, por trás dele, já se viam tanques americanos tomando Bagdá. O Irã pode estar bem preparado, mas mexer com grandes potências não é coisa que costume dar certo.

 

E para nós?

 

Queira ou não, o Brasil está envolvido nessa questão. Primeiro, pelo preço do petróleo: não apenas uma guerra, mas o bloqueio do Estreito de Ormuz, por onde passa boa parte do petróleo do mundo, farão o preço subir. E não esqueçamos de que o presidente Bolsonaro já disse que estamos alinhados aos Estados Unidos – que, por sua vez, estão alinhados com a Grã-Bretanha, seu mais tradicional aliado. Talvez o Brasil até lucre com a alta dos produtos que exporta, mas a tendência é que a guerra prejudique todos os envolvidos.

 

Novo comando

 

Boris Johnson ganhou a disputa interna e é, a partir de hoje, o novo primeiro-ministro britânico. Johnson quer, em primeiro lugar, completar a saída da Grã-Bretanha da Comunidade Europeia, com acordo ou sem acordo. E certamente, por seu temperamento, será mais agressivo que Thereza May, a primeira-ministra que ele substitui. Johnson está mais próximo de Margaret Thatcher do que de Thereza May. E foi Margaret Thatcher que determinou a invasão da Ilhas Falklands (que teve como consequência quase imediata, a queda da ditadura militar argentina).

 

Ficaram de mal

 

Marcos Cintra, secretário da Receita Federal, não aceita a proposta de reforma tributária em discussão no Congresso (elaborada por um economista conceituado, o ex-secretário do Tesouro Bernard Appy, que propõe a união de cinco tributos num só). Cintra diz que será “o maior imposto do mundo”, embora ele venha defendendo há anos o imposto único, que reuniria num só todos os impostos arrecadatórias hoje cobrados no país.

 

Rodrigo Maia, o presidente da Câmara, defende a reforma que o Congresso discute, e ataca: diz que Cintra tem “inveja e recalque” da proposta de reforma tributária, e o chama de “bajulador”. Tudo bem, esse pessoal costuma fazer as pazes logo e esquecer a troca de insultos, mas o clima entre Congresso e Receita é ruim.

 

Os vários pesos 1

 

O prefeito tucano de São Paulo, Bruno Covas, diz que se o ex-governador mineiro Aécio Neves não sair do PSDB, por livre e espontânea vontade ou expulso, quem sai do partido é ele. O governador tucano João Doria já faz tempo que defende a saída de Aécio, queimadíssimo após a gravação de uma conversa em que pede dinheiro a Joesley Batista. Mas Aécio não é o único: o ex-governador goiano Marconi Perillo está envolvido em vários inquéritos e já esteve preso. Perillo, amplamente derrotado nas eleições (embora houvesse duas vagas para o Senado, não conseguiu nenhuma; e seu candidato a governador, José Elinton, tomou uma surra de Ronaldo Caiado.

 

Por que a pressão sobre Aécio e a tolerância com Perillo?

 

Os vários pesos 2

 

O ex-governador paranaense Beto Richa, também envolvido em inquéritos, continua no PSDB. Só sua esposa, Fernanda, optou por sair.

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