Domingo, 18 de março de 2018 - 10h49
Por Maria Teresa Cruz e Pavio, na Ponte Jornalismo – “Foi um dia infeliz, de dor”, desabafou a vereadora Marielle Franco (PSOL), a respeito do anúncio da intervenção federal na segurança do Rio de Janerio pelo governo Michel Temer (MDB). O desabafo foi feito numa de suas últimas entrevistas, concedida à Pavio, parceira da Ponte, menos de um mês antes de Marielle ser assassinada, junto com o motorista Anderson Pedro Gomes, no Estácio, região central.
Para Marielle, a intervenção iria trazer “o acirramento da violência nos corpos nossos de favelados” e fazia parte de um processo que colocava a própria democracia em risco. “O processo de democratização está ameaçado por causa do que está colocado: servidor, saúde, caos em varias áreas e intervenção na segurança, o que ajuda a controlar ainda mais o que vinha sendo controlado antes”, afirmou.
“Esses dias a gente conversava ali na Maré, sobre o quanto os 14 meses de incursão militar… e não só da PM, mas da força nacional, do Exército, o barulho dos tanques, de tanque blindado, o barulho do tanque ainda é muito latente que ficava na porta de um dos prédios que eu morei até pouco tempo. Esse medo, esse desespero é onde a gente chora porque corta na nossa carne”, disse na entrevista.
Militante dos direitos humanos, Marielle Franco, 38 anos, foi a quinta vereadora mais votada do Rio e recentemente foi nomeada relatora da Comissão da Intervenção na Câmara. Além de referência no feminismo negro, a vereadora incomodava porque denunciava a violência policial, especialmente nas favelas.
Na entrevista de fevereiro, Marielle defendeu discutir a política de combate às drogas e falou sobre programas de redução de danos para que não se trate o usuário como traficante. Para ela, a intervenção aconteceu, muito em parte, por causa de um discurso do medo. “Havia uma sensação de insegurança que se fortaleceu por parte da mídia, especialmente durante o carnaval, o que reforçou esse pedido de intervenção”, ponderou.
Para Marielle, apesar das pressões, ainda mais como figura pública, a luta tinha que se fortalecer, mesmo em momentos de cerceamentos de liberdades individuais. “A vida no Rio de Janeiro anda muito ameaçada, mas tem muita resistência também. Especialmente contra essa mão de controle pra cima de corpos favelados. Hoje a gente tem o temor e aí, quem aqui vigia os vigias? Quem presta contas? A gente vem para ocupar a rua, sim”, disse em outro trecho, no tom combativo que costumava ser sua marca.
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