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Desafio entre política e ética


António da Cunha Duarte Justo - Gente de Opinião
António da Cunha Duarte Justo

Política, Ética e os Desafios da Governação no Mundo Contemporâneo

 

A necessidade de limitar o poder para evitar regimes totalitários é evidente. No entanto, hoje enfrentamos um "totalitarismo brando", influenciado por agendas e ONGs...

.... No contexto global, é crucial reconhecer que países como a China e a Rússia podem necessitar de regimes autoritários em fases intermédias do seu desenvolvimento histórico. Impor valores ocidentais a estas nações, sem considerar as suas particularidades culturais e históricas, pode levar a conflitos internos e desestabilização. A contenção e o respeito pelas trajetórias distintas de cada povo são essenciais para evitar insurreições e promover uma coexistência pacífica no sentido de uma cultura de paz ...

No entanto, mesmo este sistema não está imune a manipulações, e a miopia das massas pode ser tão perigosa como a brutalidade dos governantes...

A desconstrução da instituição família pelo estado progressista é outro fenómeno preocupante, que merece uma reflexão profunda...

A aspiração moral de combater a tirania e promover a justiça é legítima, mas carece de instituições capazes de a concretizar. Como bem lembrou Voltaire, "É perigoso ter razão quando o governo está errado".

António da Cunha Duarte Justo

Texto completo in Pegadas do Tempo:  https://antonio-justo.eu/?p=9947

“COMPLEXO DE DEUS”: A ILUSÃO DA OMNIPOTÊNCIA E A DECADÊNCIA DA SOCIEDADE MODERNA

 

A sociedade contemporânea vive sob a ilusão de que o ser humano pode tudo e da crença no progresso. Essa crença na omnipotência, que o psicanalista Horst-Eberhard Richter chamou de "Complexo de Deus", não é apenas uma perturbação psicossocial, mas um factor central da decadência moral e cultural que vivemos hoje. No seu livro “Complexo de Deus”, Richter descreve a civilização ocidental moderna como marcada por uma reivindicação de uma omnipotência egocêntrica e quase divina, que ignora os limites da condição humana. Essa ilusão de grandeza, no entanto, é uma fuga frágil diante das crises que nos assolam. Donald Trump expressa de maneira extrema o narcisismo que se tem mantido encoberto nas nossas elites políticas...

Os sentimentos de impotência, baixa autoestima ou problemas não resolvidos da infância podem resultar na superestimação das próprias capacidades, criando assim a distorção psicológica do chamado "complexo de Deus". Este fenómeno leva ao dogmatismo das opiniões e à ilusão de infalibilidade, como se a próprio ponto de vista fosse o único correto. Essa postura impede o desenvolvimento do autoconhecimento e da autocompreensão. Uma convivência equilibrada com os outros promove uma avaliação realista de nossas capacidades e limites, em contraste com uma identidade baseada em projeções idealizadas de si mesmo...

Em tempos de guerra, esse complexo intensifica-se, fomentando uma mentalidade maniqueísta e dicotómica, em que tudo é reduzido à alternativa "bem" ou "mal"...

Esse mesmo complexo também se manifesta nas relações interpessoais. Manter distância emocional de pessoas que sofrem dessa ilusão de grandeza é essencial para evitar ser arrastado para a mesma inquestionabilidade que pode criar-se em ambientes tóxicos...

A ideia do "super-homem" de Nietzsche, embora fascinante, é unilateral e conduz ao sofrimento, pois desconsidera a dimensão humana da existência. Bento XVI, ao alertar sobre esse perigo, afirmou: "Onde a ação humana já não corresponde à existência humana, a verdade transforma-se em mentira"...

No passado, a sociedade contava com intelectuais que forneciam orientação e autoridade moral, muitas vezes em oposição aos governantes. Durante séculos, a Igreja desempenhou esse papel...

O extremismo narcísico apoiado pelo grande capital leva as grandes potências a lutar pela hegemonia e dificulta uma política de bem comum. Assim o que restará para o povo é o que fica dos militares e da luta das corporações económicas entre si...

O desafio é substituir a ilusão de grandeza pela humildade de reconhecer os nossos limites e agir em harmonia com os outros. A resposta à crise não está na subordinação de todas as acções à economia, como defende Trump, mas no resgate de uma cultura baseada no "nós", que valorize a compaixão, a reflexão crítica e o respeito pela condição humana (“amor ao próximo”).

 

António da Cunha Duarte Justo

Texto completo em Pegadas do Tempo: https://antonio-justo.eu/?p=9943

 

"ROMA" E "BRUXELAS"DIALOGANDO 

Era uma noite fria e silenciosa em Bruxelas. As estrelas pareciam distantes, como se também elas tivessem perdido a fé na Europa. No coração da cidade, onde as instituições da União Europeia se erguiam imponentes, duas figuras marcantes se encontravam frente a frente: Roma e Bruxelas. Não eram meros lugares ou cidades, mas entidades personificadas, símbolos de duas forças em tensão constante: Roma, personificação da tradição, da história e das raízes da civilização ocidental, e Bruxelas, símbolo da modernidade, da burocracia e da busca por uma unidade frágil.

Roma, de vestes douradas e olhar sério, trazia em si o peso da história e da tradição. Falava em latim puro, reminiscente das colunas que sustentaram impérios e doutrinas de sustentabilidade. Bruxelas, vestida de vidro e aço, emanava pragmatismo e progresso, discursando numa multiplicidade de línguas, sempre diplomática, mas esgotada na busca de consenso. "Vejo que continuas a tentar construir um império sem alicerces", disse Roma, com uma voz que ecoava séculos de sabedoria. "A tua torre de Babel desmorona-se, e ainda assim insistes em subir mais alto."

Bruxelas respondeu, com um tom defensivo: "Não entendes, Roma. O mundo mudou. Precisamos de unidade, de progresso, de superar as divisões que nos enfraquecem. A Europa já não pode viver de mitos e tradições. "

Roma sorriu, mas havia tristeza no seu olhar. Suspirou e observou as multidões que passavam. Cada rosto era uma expressão do caos ordenado que Bruxelas tentava manter. No entanto, por baixo das fachadas modernas, percebia-se uma fragilidade crescente, uma sociedade cada vez mais desconectada de suas raízes. "Unidade? Progresso? Diz-me, Bruxelas, o que é progresso sem sabedoria? O que é unidade sem identidade? Vejo em ti o mesmo complexo que afligiu tantos impérios antes de mim: a crença na omnipotência, na infalibilidade. Vocês acham que podem governar sem olhar para trás, sem aprender com os erros do passado."

Bruxelas cruzou os braços, revelando incomodação. "Não somos como tu, Roma. Não cairemos na arrogância dos deuses. Temos instituições, leis, um sistema que nos protege dos excessos."

Roma riu, numa gargalhada que ecoou como um trovão. "Protege-vos? Ou aprisiona-vos? Vejo em vossos líderes a mesma vaidade que outrora condenou os meus. Eles acreditam que podem controlar tudo, desde a economia até à natureza humana. Mas o que fazem quando a crise chega? Culpam-se uns aos outros, fecham-se em dogmas, e recusam-se a ver a realidade."

Bruxelas olhou para o chão, hesitante. Sabia do que Roma falava. A Europa, outrora ciente de suas limitações, agora vangloriava-se de uma falsa omnipotência. Os seus líderes, convencidos de sua infalibilidade, impunham dogmas sociais e políticos sem espaço para debate ou reflexão crítica. Nos corredores do poder, qualquer oposição era reduzida a um maniqueísmo simplista: ou se estava com o progresso, ou se estava contra ele. "Talvez tenhas razão em parte. Mas o que sugeres? Voltar ao passado? Abandonar tudo o que construímos?"

Roma aproximou-se, colocando uma mão no ombro de Bruxelas. "Não se trata de abandonar, mas de recordar. A Europa foi construída sobre três pilares: a razão de Atenas, a fé de Jerusalém e o direito de Roma. Vocês esqueceram-se disso; na ânsia de criarem uma ordem perfeita, negligenciaram a humanidade do próprio povo. Em vez de humildade, escolheram a arrogância. Em vez de compaixão, escolheram o cálculo. Em vez de união verdadeira, criaram uma ilusão de uniformidade."

Bruxelas suspirou, e pela primeira vez, sua voz pareceu frágil. "E agora? Como saímos deste labirinto?"

Roma olhou para o horizonte, onde o sol começava a despontar. "Reconhecei as vossas limitações. Aceitai que não sois deuses, mas humanos. Reencontrai as vossas raízes, não para repetir o passado, mas para entender quem sois. E acima de tudo, cultivai a humildade. Como disse um dos vossos pensadores, 'onde a ação humana já não corresponde à existência humana, a verdade transforma-se em mentira'.(1)"

Bruxelas ficou em silêncio por um momento, refletindo. Bruxelas sentiu um calafrio. Sabia que Roma tinha razão. Na sua sede por uma sociedade perfeita, os líderes europeus haviam criado bolhas ideológicas, alimentadas por um ciclo mediático que apenas reforçava o pensamento dominante. Não havia mais intelectuais independentes, apenas burocratas e comentadores que repetiam o que era conveniente. "E se falharmos?"

Roma sorriu novamente, desta vez com uma centelha de esperança. "Então a Europa, como tantos impérios antes dela, será apenas mais uma lição para o futuro. Mas ainda há tempo. A escolha é vossa. Precisamos de líderes que saibam ouvir, que compreendam que governar não é impor, mas servir. Que aceitem que nem tudo pode ser controlado e que a sociedade precisa de raízes para florescer "

Bruxelas olhou para Roma e, por um instante, sentiu o peso da sua responsabilidade. A crise que se espalhava pelo continente não era apenas económica ou política — era espiritual. A Europa havia perdido a sua identidade na ilusão da omnipotência.

E assim, os dois espíritos se despediram, enquanto o sol iluminava as ruas de Bruxelas e o vento soprava entre as estátuas antigas e os edifícios modernos. A cidade continuava a mesma, mas algo havia mudado. Talvez, pensou Bruxelas, fosse hora de olhar para trás, não com nostalgia, mas com humildade, e encontrar um caminho que unisse o melhor do passado com as possibilidades do futuro.

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo: https://antonio-justo.eu/?p=9940

 

UM COMENTÁRIO ÀS ELEIÇÕES NA ALEMANHA 

O “Neue Zürchner Zeitung” da Suiça é curto, mas direto na sua avaliação! Sua apreciação:

“O populismo de esquerda e o fomento de medos irracionais de um suposto regresso do fascismo podem manifestamente obter bons resultados na Alemanha.”

Foi realmente indigna de uma Alemanha, que estávamos habituados a conhecer, verificar nestas eleições tanta intromissão propagandística através dos media em geral e da esquerda-woke com as suas ONGs.

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