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Descontentamento com a política de esquerda fortalece os conservadores na Alemanha


António CD Justo - Gente de Opinião
António CD Justo

Nas Eleições nos Estados da Baviera e do Hesse perderam os Partidos do Arco do Governo

 

As eleições estaduais da Baviera e do Hesse penalizaram fortemente a coligação do governo alemão tendo sido castigados os partidos do arco governativo (SPD, Verdes e FDP). O governo federal, decepcionado, para não perder mais poder, sentiu-se obrigado, logo a seguir às eleições, a anunciar uma política de refugiados mais restritiva e rigorosa.

A coligação em Berlim tem-se concentrado nas políticas de energia, guerra e migração, negligenciando os problemas da habitação, da educação e da saúde. O primeiro-ministro de Hesse, Boris Rhein, chegou a afirmar que "o governo federal é o pior que já existiu." A dirigente da AfD, que viu o partido subir para 2° lugar no Hesse, disse que “os cidadãos de Hesse e da Baviera deixaram claro que estão fartos da privação de direitos, da desapropriação e de uma política de migração que não pode ser justificada por nada.” De facto, o governo federal, mais centrado em questões ideológicas e alheias aos interesses alemães, não tem mostrado interesse pelas preocupações da população. O povo está cada vez mais atento e castiga soluções políticas fraudulentas...

Resultados eleitorais no estado do Hesse:  CDU 34,6% (+7,6%), Verdes 14,8% (-5,5%), SPD 15,1% (-4,7%), AfD 18,4 (+5,3%) e FDP 5% (-2,5%). Distribuição de assentos no parlamento: CDU 52, verdes 22, SPD 23, AfD 28 e FDP 8 (1).

O Estado Livre da Baviera votou, no mesmo dia, consolidando a tradicional política conservadora. A CSU do primeiro-ministro Markus Söder conseguiu 37 % (-0,2 %); os Eleitores Livres (FW) 15,8 % (+ 4,2 %); a AfD 14,6 % (+4,4%); os Verdes 14,4% (-3,2%); o SPD 8,4 % (-1,3 %). O FDP alcançou 3% não conseguindo ultrapassar a barreira dos 5%. A esquerda obteve apenas 1,5 por cento. A participação eleitoral foi de 73,3 por cento. Distribuição dos assentos no parlamento: a CSU conseguiu 85 (+/-0) assentos no parlamento; os Verdes 32 (-6), os FW (Eleitores Livres) 37 (+10), a AfD 32 (+10) e a SPD 17 (-5). Dá-se assim uma forte consolidação do poder em direção ao centro direita (2).

Em vez de debate honesto na política federal, tem havido conversa ideológica e partidária, o que revela também uma viragem na maneira de fazer política e no discurso político alemão...

Em Portugal é parecido, só que as pessoas são mais pacientes e o discurso de caracter ideológico e partidário é tradicional e a esquerda ainda consegue viver, à vontade, devido ao bónus do 25 de Abril...

Os refugiados tornam-se mercadorias de políticas e ideologias e são muitas vezes vistos na população como meio de expansão de uma cultura estranha (principalmente homens jovens em parte sem consideração nem respeito pelos costumes das populações que os aceitam) e parte da população nota que os governantes não têm ideia e apenas apresentam pseudossoluções...

O surrealismo pós-factual dominou a campanha eleitoral, como constatou o cientista político Wolfgang Schroeder e a conversa de que um partido (AfD) está colocando em perigo a democracia não é honesta porque não leva a sério o partido nem a realidade e difama os eleitores desse partido (o remédio seria tomar a sério os questionamentos desse partido). A forma de tratar na Alemanha o AfD é semelhante à que se dá em Portugal com o Chega (uma mera estratégia de defesa dos interesses dos partidos do arco do poder embora alegando-se outros motivos!). A concorrência partidária democrática é importante e cada partido representa os interesses de parte da população.  A estratégia de discriminar o AfD tem-se revelado em seu favor porque os governantes em vez de ademocraticamente o combater deveriam corrigir a sua política.

Se a coligação de Scholz não mudar de rumo não chegará ao fim da legislatura.

António CD Justo

Texto completo e notas em Pegadas do Tempo: https://antonio-justo.eu/?p=8789

 

 

DA TRISTE SITUAÇÃO DE GOVERNANTES E GOVERNADOS

Dificuldade política dos de Cima e dos de Baixo

Os Estados perdem significado e estão cada vez mais dependentes de agendas globais centrais ou anónimas e como diz o presidente da República “chegou-se ao ponto de para fazer o PRR (Plano de Recuperação e Resiliência (1)) o Estado ter que recorrer a um gestor privado”.  Marcelo Rebelo de Sousa constata: “o que interessa é a sensação imediata”!

Nesta situação trata-se de manter as populações distraídas com assuntos marginais dado os próprios governantes se encontrarem sobrecarregados num sistema de interdependências sem conseguirem ver o fio da meada que os leva a sentirem-se melhor na defesa de ideologias e no emprego de rectóricas partidárias; povo e governantes andam às apalpadelas! E o Presidente acentua: “Os partidos deixaram de ter gabinetes de estudo internos e o Estado deixou de ter gabinetes de planeamento activos”. Em vez disso o Estado cria gabinetes de aplicação de normas e orientações de organismos internacionais sobreordenados; esta situação desqualifica a política, transformando governantes em meros administradores. Deste modo o poder é redirecionado para a administração que passa a ser o braço direito da execução de agendas políticas de grupos oligárquicos a operar globalmente. Tudo se torna mais tecnocrata ampliando-se a multidão de assessores e da burocracia: Adeus política, políticos e democracia!

A dependência da banca internacional e dos oligarcas mundialmente relevantes para o financiamento das dívidas dos Estados e indispensáveis para o sistema de abastecimento (serviços) da população impossibilitam os governos de uma governação adequada às necessidades específicas de cada país.

Aos governantes dos países não resta senão administrar uma situação entrópica desoladora. Vão por enquanto conseguindo iludir-se e iludir as populações exibindo-se de reunião em reunião com brilho internacional falacioso. Vive-se já na fase falaciosa de uma sociedade artificiosa a viver do engano. Ainda há perspectivas possibilitadoras de futuro digno e livre, mas para isso terão todos de tornar-se conscientes das próprias limitações e confiar mais em si próprios e voltarem-se para as bases.

Sem respeito pelo cidadão tem-se seguido os métodos da publicidade e do apelo à emotividade numa sociedade cada vez mais fria.

Num mundo cheio de certezas e a viver do pós fático e de certezas fabricadas criadoras de crises sobre crises tornar-se-ia óbvio voltar à dúvida metódica e à dúvida do tempo que possibilite de novo o desenvolvimento da natureza criativa e fecundante. Será necessário voltar-se à pessoa humana, à família e à região.

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo: https://antonio-justo.eu/?p=8791

(1) O Plano de Recuperação e Resiliência é um programa de aplicação nacional, com um período de execução até 2026, que visa implementar um conjunto de reformas e investimentos destinados a repor o crescimento económico sustentado, após a pandemia, reforçando o objetivo de convergência com a Europa...

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