Houve um dia em que uma menina mineira sonhava ser bailarina, embalada em seus sonhos por uma malabarista, vestida em brilhante roupa verde, saracoteando no dorso de um elefante, durante a passagem de um circo por Uberaba, no final da década de 50. Ao contrário, formou-se em Economia e tornou-se guerrilheira, vivendo, como poucos, os desafios e desesperos da História do Brasil na segunda metade do século XX. Em nome de seus ideais, partiu para a luta armada, participou do roubo do cofre de um ex-governador paulista, foi presa e torturada pelo Regime Militar, engajou-se politicamente e hoje é a principal ministra do governo Lula e sua favorita para as eleições presidenciais de 2010.
Como a frustrada bailarina e militante guerrilheira Dilma Rousseff chegou à ante-sala do gabinete presidencial, no Palácio do Planalto, e com grandes chances de abrí-lo com sua própria chave? Democraticamente? Nunca. A hoje ministra-chefe da Casa Civil e pré-candidata à sucessão de Lula é cria de uma geração golpista. E não venham com essa “lenga-lenga” de que os nossos políticos de hoje são frutos de uma luta pela Democracia. Não, não são. Durante décadas, o Brasil foi assolado por grupos que só chegavam ao poder via golpe e por outros grupos que saíam às ruas com faixas ou armas nas mãos em nome de uma liberdade, mas que também só conseguiam imaginar a ascensão ao poder pelas vias do golpismo. Não havia, de fato, um pensamento e uma luta democrática nesses falsos heroísmos que nos fazem engolir em sala de aula.
Recentemente, ao ser questionada pelo senador José Agripino Maia sobre suas declarações de que mentira muito durante o Regime Militar, Dilma Rousseff emocionou a platéia da Comissão de Infra-Estrutura do Senado Federal ao afirmar que “quem tem coragem e dignidade, mente sob tortura”. Na verdade, as mentirinhas da guerrilheira “para salvar a vida do companheiros” são apenas mais um retrato de uma época onde fizeram demagogia com ideais democráticos e que as absurdas forças da tortura, da mentira, da corrupção e dos desmandos eram usados de todos os lados do campo de batalha. Dilma, assim como Lula e grande parte de seu corpo governamental, é uma página desse passado nebuloso.
Tudo isso até poderia ser meritoso, mas perde o sentido quando tentam, com isso, fazer-nos herdeiros que não somos. Suas lutas do passado não são a origem absoluta das grandes conquistas que desfrutamos hoje. O Mundo girou e vem evoluindo. Nesse processo de evolução global é que deveriam estar os fundamentos da sociedade brasileira. No entanto, elegemos um semi-analfabeto inexperiente apenas pela humildade de suas origens, por suas lutas sindicais e por conta de seu discurso pseudo-social tão atrasado quanto à própria nação. Agora podemos eleger uma mulher da guerrilha armada para a Presidência de nossa enganada República.
Mas como ela poderá chegar lá? Inspiração histórica não lhe faltará. Além de toda sua “vasta experiência” na guerrilha golpista sedenta pelo poder, Dilma Rousseff é hoje o arquétipo de Otto von Bismarck. Em 1850, o jovem Bismarck passava por um momento decisivo em sua carreira, aos 35 anos de idade e sendo representante no parlamento prussiano. O rei Frederico Guilherme IV e seus ministros não queriam uma guerra contra os poderosos austríacos na tentativa de unificar os muitos Estados em que a Alemanha estava dividida. Já o príncipe Guilherme, primeiro na linha de sucessão ao trono da Prússia, era a favor da guerra e o parlamento cerrava fileiras em torno da causa.
Em sua trajetória, Otto von Bismarck, sendo um ex-soldado, sempre foi um ferrenho e apaixonado defensor do poder e da força da Prússia. Pra ele seria glorioso declarar guerra contra a Áustria e promover a unificação alemã. Esse patriota apaixonado e amante das glórias militares chegou a dizer: “As grandes questões serão decididas não com discursos e resoluções, mas com ferro e sangue”. No entanto, astuto e estrategista que era, Bismarck percebeu que jamais conseguiria o apoio do rei e de seus ministros e tinha ciência de que o exército prussiano estava mais fraco e inferior às tropas austríacas. Foi então que, no auge da febre da guerra, Bismarck fez o seguinte discurso no parlamento da Prússia: “Desgraçado o estadista que faz guerra sem uma razão ainda válida quando a batalha terminar! Depois da guerra, todos verão essas mesmas questões de outra forma. Terão coragem de recorrer ao camponês que contempla as cinzas de sua fazenda, ao homem que ficou aleijado, ao pai que perdeu seus filhos?”
As consequências foram imediatas. O príncipe titubeou e os parlamentares ficaram confusos, mudando seus votos. O rei Frederico Guilherme IV e seus ministros venceram o embate e evitou-se a guerra. Logo depois desse notório discurso de Bismarck, o rei, agradecido, nomeou-o ministro de seu gabinete. Poucos anos depois, Otto von Bismarck tornou-se primeiro-ministro da Prússia, conduzindo-a à uma guerra contra a Áustria, arrasando o antigo império e fundando um poderoso Estado Alemão, tendo a Prússia na chefia. Enganou um país inteiro. Mentindo e enviando falsos sinais, Bismarck ocultou seus verdadeiros propósitos e conseguiu o que mais desejava: o poder.
Assim está o Brasil hoje: dominado pelos golpistas do passado que hoje escondem suas reais intenções atrás de lamúrias e vitórias em falsas guerras em nome da Democracia, que ainda lhes rende milionárias indenizações, pagas com dinheiro público. Na verdade, se fossemos de fato um povo responsável, jamais permitiríamos que um governo repleto de escândalos de corrupção e com um governante leniente e conivente com graves desvios éticos se mantivessem no poder.
Estamos confortavelmente instalados no fundo do poço, por mais que tentem nos enganar comemorando o contrário. Sob a carapuça da alienação, legitimamos esse falso legado que nos apresentam e chancelamos a autorização para que continuem assaltando os cofres públicos. Entregar as chaves do Palácio do Planalto em 2010 para Dilma Rousseff ou para qualquer um dos pré-candidatos até aqui apresentados, independente do partido a que esteja filiado, será iniciar o processo de cavar esse fundo de poço. Nossa pátria não merece isso. O país precisa do novo e do moderno. Precisamos fazer valer o poder, de fato, da Democracia. Não podemos nos deixar enganar por falsas bailarinas, ferozes guerrilheiras ou discursos de demagogos. O Brasil precisa, com urgência, começar a escalar as gigantes paredes desse buraco que nos enfiaram e nos querem como herdeiros.
Fonte: HELDER CALDEIRA/Estudante de Direito
Domingo, 24 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)