Segunda-feira, 24 de julho de 2023 - 17h42
A expressão idiomática "em política o que parece é" para ter uma perspectiva verdadeira terá que ter em vista o contexto em que é aplicada. Dado hoje a percepção pública influenciar muito os políticos, estes moldam os seus discursos de maneira a parecerem positivos e em sintonia com o que o eleitorado deseja. A frase terá a sua validade na medida em que a imagem pública (opinião das pessoas) é que irá determinar a “realidade” política separadamente do que a política faz!
Todo o espírito crítico não pode isentar a política como se fosse um sector onde não há manipulação da informação e desinformação e isto porque é da natureza da defesa de interesses criar-se aparências ou distorções para beneficiar certos atores políticos e prejudicar seus adversários.
No discurso político, a que estamos habituados, é notória a tendência das partes para justificarem acções hediondas e as fazerem acompanhar com rectóricas de valores éticos positivos, o que leva uns e outros a caírem numa atitude de bisbilhotice tendente a encobrir os verdadeiros interesses que se encontram por trás de muitas das acções políticas e das suas declarações públicas. Muitos políticos do topo investem na bisbilhotice pública, fazendo lembrar a dona de casa que de vez em quando lança uma mão cheia de grãos no galinheiro e deste modo cala o incómodo barulho da capoeira...
Escrevo, não com a intenção de criar prosélitos de uma ou outra facção rival, mas para que todos participemos no discurso político público de maneira a poder-se garantir que a política seja conduzida de forma justa e responsável...
Não se trata aqui de bagunçar a política, mas de estarmos preparados para a lermos nas entrelinhas. Os subterfúgios de divulgação de factos manipulados (apresentados e interpretados com um objectivo em vista) e a criação de configurações simplicistas e eventos simbólicos fazem parte do negócio político....
Quanto à guerra justa trata-se de uma questão que pertence à controvérsia e não satisfaz nem a ética nem os interesses das populações porque se dá à custa de desumanidades e do preceito de vencer. Guerra justa será uma procura de justificação para uma intervenção...
Quanto à guerra geopolítica a desenrolar-se na Ucrânia é uma guerra injusta também porque, no meu entender, não haverá hipótese de haver um vencedor de mãos limpas e as consequências (tidas como justas!) serão uma guerra mundial...
O poder, o negócio e os interesses económicos são os impeditivos de iniciativas de diplomacia e de mediação. O resto resume-se em discurso hipócrita para desviar as atenções do que verdadeiramente se encontra em jogo.
António CD Justo
Texto completo e nota em Pegadas do Tempo: https://antonio-justo.eu/?p=
NÚMEROS CLARIFICAM PRECONCEITOS TRANSMITIDOS COM AFIRMAÇÕES GERAIS
A França produz mais Trigo que a Ucrânia
O acordo de grãos entre a Rússia e a Ucrânia fracassou. Pelo que os Media informam tem-se a impressão que o mundo vai morrer de fome sem culpa nossa!
Para que se tenha uma ideia do comércio de grãos no mundo, apresento os números que o Prof. Dr. Maria Finckh disponibilizou no HNA.
Nos anos 2017-2021, a Ucrânia produziu uma média de 27,23 milhões de toneladas de trigo, o que representou 3,6% da produção mundial (759 milhões de toneladas) naqueles anos.
De referir ainda que a Alemanha produziu em média 22,2 milhões de toneladas (2,9%) e a França 36,3 milhões de toneladas (4,8%) da produção mundial.
Sabe-se que 60% do trigo alemão vai parar na ração animal e outros 20% na produção de etanol, e apenas 20% vai parar na mesa. E depois tem-se o desplanto de se lamentar a fome no mundo....
Este é um exemplo de como se criam alarmismos falsos na população apresentando-se em vez de factos uma sua interpretação deles com objectivos de enganar os destinatários da informação...
Embora a hipocrisia seja uma estratégia mais fácil para os governos imporem os seus interesses, penso que as populações mereceriam mais respeito, mesmo que se complicasse um pouco mais a tarefa de governar! De boas intenções e de meias-verdades está o Inferno cheio!
António CD Justo
Texto completo em Pegadas do Tempo: https://antonio-justo.eu/?p=
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