Domingo, 15 de julho de 2018 - 21h05
A França é bicampeã do mundo. Parabéns! Fosse o Brasil, teria sido a pior coisa que podia nos ter acontecido. Nosso país, que já está naufragado na política, na vida social, na educação, na saúde, na economia e na Justiça, iria piorar ainda mais em tudo. Outras vitórias da seleção brasileira demonstraram claramente esta tese. Levando em consideração que apenas o futebol nos representa no mundo civilizado e desenvolvido, a situação podia ter saído totalmente do controle como das outras vezes. “A mediocridade triunfa”. Esta seria a absurda ideia e a primeira que muitos acreditariam ser verdadeira. O Brasil nunca na sua História teve uma seleção tão ruim e tão fraca como esta para ser inexplicavelmente hexacampeã mundial. Onze marmanjos tatuados, milionários, semianalfabetos e quase sem leitura de mundo serem heróis do povo que busca heróis?
Em 1958 quando foi campeão na Suécia, o Brasil vivia os anos dourados de JK. A oposição se aproveitou da comoção nacional para criar uma crise que se estenderia perigosamente até 1962 quando “os canarinhos” foram bicampeões no Chile. Juscelino Kubitschek foi derrotado nas urnas e sai de cena. Com o povo ainda anestesiado com a tolice de ganhar um mundial de futebol, os militares se aproveitaram da situação para tramar o golpe de 1964. Tudo embalado pelos resultados dos gramados. Em 1970, em plena Ditadura Militar, a seleção conquista o tricampeonato no México e nos DOI-CODI a repressão aumenta sem controle. Emílio Médici, o general-ditador de plantão, endurece o regime e a tortura vira política de Estado. O povo nada viu e nada soube. Estava festejando os gols de Pelé, Jairzinho, Tostão e Gérson nos gramados mexicanos.
Em 1994, ainda vivíamos a hiperinflação, herança dos governos militares e da irresponsabilidade de Collor, outro arauto da elite nacional. Foi quando um sujeito, de nome FHC, aproveita a burrice popular para lançar o Neoliberalismo e entregar de vez o Estado ao setor privado. O seu partido, o PSDB, desmancha o setor público e o entrega a amigos e correligionários. Empresas como a Vale do Rio Doce, bancos estaduais e as telecomunicações são privatizadas. O povo, de novo, estava inebriado com a conquista em estádios norte-americanos. Reclamar do governo por quê? O Brasil foi tetra, mano! Felizes e alegres, embarcamos num sono que nos levou a ficar mais pobres ainda. Em 2002, na conquista do pentacampeonato, veio a eleição do “Lulinha paz e amor”, que mergulhou o país no que já sabemos. O Mensalão e o Petrolão emergem dessa época.
Toda vez que se conquista uma Copa do Mundo de futebol, o povão, que já é muito idiota e despolitizado, fica mais estúpido ainda. Todos vestidos com suas camisas amarelas saem gritando para o mundo que somos uma potência rica, desenvolvida e civilizada. Investir em educação, saneamento básico, mobilidade urbana, habitação e outros benefícios para quê? Discutir divisão de renda entre os miseráveis não faria sentido nenhum: eles estariam felizes e gritando como loucos: “Hexa! Hexa!”. Países com um futebol muito melhor do que o nosso, e muito mais civilizados, ficaram à frente do Brasil nesta Copa. É mais justo com suas sociedades. Deus sabe o que nos viria depois desse momento de crise nacional que estamos vivendo. Além do mais, um dos piores times do campeonato levantar a taça de campeão soaria como uma coisa nossa: tudo fora armação. Aliás, a FIFA é tão corrupta e desonesta que podia nos ter feito isto.
*É Professor em Porto Velho.
Na passagem da democracia partidária para a oligarquia liberal (democracia autoritária)
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