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É uma brasa, Moro!


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Juridicamente, pode ser que haja irregularidades nas comunicações entre o ministro Sérgio Moro e procurador-chefe da Lava Jato, Deltan Dallagnol. A OAB abriu fogo contra ambos e juristas respeitados os criticam. Em termos de comunicação, manda a boa técnica que se publique parte da denúncia e se aguarde a reação.  Só então se publica a denúncia completa. Esses fatores podem mudar a situação, mas, até o presente momento, Sérgio Moro parece ter vencido politicamente a guerra que o Intercept iniciou.

Alguns fatos demonstram que Moro, se o atingiram, foi só de raspão.

1 – No Maracanã, dizia Nelson Rodrigues, vaia-se até minuto de silêncio. Lula, no auge da popularidade, foi vaiado no estádio de São Januário. Moro foi ao estádio em Brasília, vestiu a camisa do Flamengo e foi aplaudido.

2 – Numa das mensagens atribuídas a Moro, há a frase “In Fux we trust” (em Fux confiamos). Na sexta de manhã, o ministro Fux tomou um avião em Brasília e foi aplaudido por passageiros. Houve gritos de “In Fux we trust”.

3 – Pesquisa da XP (elaborada para orientar investidores) mostra Moro como o mais popular integrante do Governo. Sua nota oscilou de 6,5 para 6,2, ainda bem acima do segundo, o próprio presidente Bolsonaro.

Quem votou em Bolsonaro por não aceitar nada do que está aí deve estar feliz com as transgressões atribuídas a Moro – justo ele, com cara de bom moço. E foi depois de ver as pesquisas que Bolsonaro lhe deu apoio total.

 

Política é política

Na busca de popularidade, há coisas estranhas. “Esquerda”, em religiões afro, é do mal, e “direita” é do bem. “Populista”, para a elite, é depreciativo. Fora da elite, é positivo, indicando quem se preocupa com o povo. “Autoritário”, para a elite, é depreciativo; fora da elite, é positivo, e indica quem sabe usar a autoridade. Há mais votos fora da elite do que dentro dela.

 

Brasil é Brasil

Mas nunca levem uma análise (nem as deste colunista) demasiado a sério. No Brasil, dizia Pedro Malan, até o passado é imprevisível. Imagine o futuro.

 

Guerra é guerra

A próxima batalha entre o Intercept e Moro pode ser deflagrada ainda hoje, com a publicação de novas mensagens. Mas a seguinte é a da Polícia Federal contra quem forneceu informações ao Intercept. O que se diz é que nada será feito que viole a liberdade de imprensa: quem publicou tinha o direito de fazê-lo. O que se investiga, dizem, é quem obteve ilegalmente as mensagens, e como. Suspeita-se até de um esquema internacional, com o objetivo de desmoralizar as decisões da Justiça e conseguir libertar Lula.

De acordo com o jornalista Cláudio Humberto (www.diariodopoder.com.br), pode haver operações de busca e apreensão nos endereços dos responsáveis pelo Intercept. Fala-se em respeitar a liberdade de imprensa, mas sabe-se lá.

 

Filho é filho

Mas, mesmo escapando (ao menos até agora) da tentativa de demolição de Moro, Bolsonaro não resistiu a gerar uma nova crise: a demissão de um amigo de quase 50 anos, o general Santos Cruz, da Secretaria do Governo. O imperdoável erro de Santos Cruz foi não se alinhar aos filhos do presidente e ao escritor Olavo de Carvalho, que fizeram campanha contra ele por achar que não usou direito a comunicação do Governo. No lugar de Santos Cruz, outro general, este da ativa: o até agora comandante militar do Sudeste, Luiz Eduardo Ramos Baptista Pereira. Santos Cruz declarou sua admiração por Bolsonaro e os dois dizem que a reunião entre eles foi amigável.

 

Acordo é acordo

Depois de uma fase extremamente tensa, saiu enfim o parecer do relator da reforma da Previdência, deputado Samuel Moreira. As modificações que Moreira sugere aparentemente não mudam a meta de economia desejada pelo ministro Paulo Guedes, entre R$ 1 e R$ 1,2 trilhão de reais em dez anos. Agora é votar (depois dela, virá a reforma tributária, talvez não a proposta por Guedes, mas um projeto anterior, redigido por um economista de ótimo conceito, Bernard Appy).

 O que se espera é que a reforma da Previdência, de acordo com o prometido, desencadeie investimentos privados nacionais e internacionais, permitindo reduzir o desemprego e retomar o crescimento.

 

Perdemos todos

Um dos grandes jornalistas brasileiros, Clóvis Rossi, morreu na sexta, aos 76 anos. Morreu como viveu, do coração. Excelente repórter, sempre trabalhamos quase juntos. Juntos mesmo, pouco: na queda de Salvador Allende (ambos, mais o notável José Maria Mayrink, ele para O Estado de S. Paulo, Mayrink e eu para o Jornal da Tarde). Meses de convivência na Folha de S.Paulo, depois, e anos quase juntos, eu na Folha da Tarde. Nunca fomos amigos de sair juntos, mas, discordando de boa parte de suas posições, sabia que um fato publicado por ele tinha mesmo ocorrido e da maneira como o descrevia. Dirigiu o Estadão com brilho – e que equipe montou!

 

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