Sexta-feira, 31 de janeiro de 2020 - 12h12
Em meio à mesmice de nomes que se apresentam para disputar este ano as prefeituras das principais capitais do país, uma boa novidade vem do PT da Bahia, que neste domingo deverá lançar, durante a Festa de Iemanjá, a candidatura da major Denice Santiago, 48, à prefeitura de Salvador.
Apoiada pelo governador Rui Costa, que está em seu segundo mandato, com altos índices de aprovação, major Santiago é comandante da Ronda Maria da Penha da Polícia Militar baiana.
Reportagem de João Pedro Pitombo, publicada hoje na Folha, lembra que Salvador, terceiro maior colégio eleitoral do país, tem cerca de 80% da população formada por negros e pardos, segundo o IBGE, e nunca elegeu um prefeito negro.
Mulher e negra, formada em psicologia, com mestrado em Administração, a major se destacou no trabalho de cuidar da segurança de mulheres vítimas de violência com medidas protetivas.
Com esse perfil, ela ganhou logo o apoio do movimento negro, que é muito forte em Salvador, e de entidades ligadas à defesa da mulher.
Escreve Pitombo: “A escolha referenda a estratégia petista de se aproximar de setores da sociedade em que perdeu espaço para o presidente Jair Bolsonaro, caso de evangélicos, militares e policiais”.
Sem nunca ter disputado eleições, Santiago foi convencida por Costa a se filiar ao PT recentemente, o que provocou reações em parte da militância, que já tem quatro pré-candidatos à disputa municipal _ entre eles, Juca Ferreira, ex-ministro da Cultura.
Caso seja lançada pelo PT, Denice Santiago deverá enfrentar o vice-prefeito Bruno Reis (DEM), candidato do prefeito ACM Neto, o herdeiro da mais antiga oligarquia política baiana.
Rui Costa e o hoje senador Jaques Wagner, primeiro petista eleito governador, derrotaram o clã Magalhães nas últimas quatro eleições na Bahia, algo que também parecia impossível.
Semanas atrás, o ex-presidente Lula havia anunciado uma possível “surpresa” na candidatura petista em São Paulo, mas parece ter desistido da ideia.
Até agora, só apareceram na disputa paulista meia dúzia de nomes velhos conhecidos, como o do vereador e ex-senador Eduardo Suplicy, mas nenhum deles desponta nas pesquisas.
Talvez o exemplo da Bahia possa servir de inspiração para outras capitais em que o partido não encontra um nome de consenso para as eleições de outubro.
No Nordeste, Denice Santiago não é uma exceção: além de Salvador, o PT pode lançar candidatas mulheres em outras quatro capitais (Recife, Aracaju, Natal e Fortaleza).
Não se trata de uma novidade no PT. Em São Paulo, na maior cidade do país, o partido já elegeu duas prefeitas, Luiza Erundina e Marta Suplicy.
Hoje no PSOL, Erundina é a mais antiga deputada federal com mandato, e pode ser vice na chapa encabeçada por Guilherme Boulos.
Marta também quer ser candidata, mas ainda não achou um partido. No PT, há fortes resistências à sua volta, depois de abandonar o partido e se filiar ao MDB, em nome do “combate à corrupção” petista.
É sempre animador, para quem acompanha eleições há mais de meio século, aparecer um nome novo com o perfil de Denise Santiago, que pela sua própria atividade profissional conhece bem as carências e demandas da população mais pobre.
Volto a ter esperanças de que possamos sair nesta inhaca da mesmice em que nos metemos, tendo abandonado uma característica das esquerdas: a ousadia e a disposição para enfrentar o prato feito da política, lançando novas lideranças e novos projetos.
Essa renovação não tem nada a ver com a “nova política”, que elegeu um bando de cacarecos e malandros em 2018, na crista da “onda conservadora” do antipetismo que levou Bolsonaro ao poder.
Vida que segue.
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