Sexta-feira, 29 de novembro de 2019 - 13h51
Durante a audiência
pública realizada pela CPI da Energisa na manhã desta sexta-feira (29), na
Câmara de Vereadores de Guajará-Mirim, foi denunciado que concessionária de
energia elétrica cobra por ponto de iluminação pública, e que existem cerca de
2 mil pontos onde não há lâmpadas funcionando. Os deputados estão examinando se
a cobrança irregular é suficiente para cassar a concessão da empresa em
Rondônia.
O presidente da
Comissão, Alex Redano (Republicanos), disse inicialmente que foram detectados
casos de aumentos de até mil por cento na conta de energia de diversos
consumidores. Ele explicou que esses dados foram levantados em audiências
públicas realizadas em outros municípios.
O relator da CPI, Jair
Montes (Avante), afirmou ser inadmissível que um Estado com três hidrelétricas
pagar a energia mais cara do Brasil. Ele afirmou que tem recebido em seu gabinete
e nas audiências públicas contas de consumo mostrando que o valor subiu de R$
200,00 para R$ 800,00.
Jair Montes foi
interrompido por um consumidor irritado, que se identificou como Walmir
Ferreira dos Santos. Ele disse que sua conta sempre oscilava em torno de R$
30,00, e agora passou para R$ 180,00. O deputado demorou para acalmar os
consumidores, mas lembrou em seguida que a Assembleia Legislativa aprovou leis
defendendo a população, e que hoje a Energisa não pode mais cortar o
fornecimento sem avisar com 15 dias de antecedência, nem retirar os medidores
de consumo sem o aviso com três dias de antecedência.
O deputado Dr. Neidson
(PMN) disse que em Guajará-Mirim há casos de famílias que precisam escolher
entre comer ou pagar a conta de energia. Ele lembrou que foi de sua autoria o
projeto de lei que resultou na proibição de substituir os medidores de consumo
sem o aviso de 72 horas.
“O não cumprimento da
lei resulta em uma multa em torno de R$ 3.500,00. Em caso de reincidência o
valor dobra”, adiantou o parlamentar.
Pronunciamentos
O prefeito de
Guajará-Mirim, Cícero Alves de Noronha Filho (DEM), disse que a Energisa cobra
por aproximadamente 2 mil pontos de iluminação pública apagados. “Isso é crime.
A companhia tem que cobrar pelo serviço fornecido. Temos 7 mil pontos de
iluminação, mas pouco mais de 4 mil estão funcionando”, afirmou.
Ele reclamou da
negociação que está havendo entre o Governo do Estado e a Energisa para o
pagamento da dívida da empresa. “É inadmissível que o Governo reduza o valor,
enquanto o dinheiro para pagar a conta é arrancado dos consumidores. Parte do
valor devido pela concessionária é para Guajará-Mirim, e não admito que
negociem a redução em meu nome”, acrescentou Noronha.
Jair Montes pediu um
aparte e disse que o projeto autorizando o Governo a negociar com a Energisa
está parado na Assembleia Legislativa, e não será votado. “Vimos que era uma
pegadinha, por isso, enquanto a situação não estiver clara, o projeto não
tramitará. Essa é uma das razões de a CPI ter sido criada”, detalhou o
deputado.
Alex Redano citou uma
frase do presidente da Assembleia Legislativa. Laerte Gomes (PSDB): “A
Energisa, para cobrar, é um leão. Mas para pagar é um gatinho”. Ele lembrou que
a dúvida judicializada é de mais de R$ 1,1 bilhão, mas a empresa teria proposto
pagar R$ 700 milhões.
O defensor público
Sergio Muniz, que acompanhou a CPI até Guajará-Mirim a convite de Alex Redano e
Jair Montes, explicou que a Defensoria Pública está defendendo os consumidores
hipossuficientes que se sentirem lesados.
O vereador Augustinho
Figueiredo (PDT) disse ser preciso cobrar os royalties da energia fornecida
para o País. Em relação às contas de energia, ele parabenizou os parlamentares
pelas leis defendendo o consumidor.
O advogado Artur Ferreira
Veiga, representando a Procuradoria da Assembleia Legislativa, lembrou que o
consumidor que tiver a energia cortada sem aviso prévio de 15 dias pode acionar
a Polícia. Ele citou, ainda, que a Energisa pode até ser retirada de Rondônia
por fatos como o denunciado pelo prefeito, de cobrança por iluminação pública
em lugares onde as lâmpadas não funcionam.
A defensora pública
Maria Cecília, de Guajará-Mirim, disse que os consumidores precisam verificar
se foram notificados, e também se foi cortada energia referente a contas com
mais de 90 dias. “Isso é caso de urgência. Esses casos serão atendidos na fila
de emergência da Defensoria. Temos dez senhas diárias para atender a
população”, afirmou.
Consumidores
A liderança Lucimar
Fernandes disse que se mudou recentemente, e que a primeira conta foi de R$
50,00, mas a segunda foi de R$ 250,00. “Quando fui reclamar na Ceron, a moça me
disse que não encontrou meu endereço. Não posso concordar com isso, porque meu
consumo é muito pequeno”, afirmou.
A ex-deputada estadual
Lucia Dermani, mais conhecida como Ana da 8, citou que ficou três dias sem
energia em casa, devido a um problema na rede de transmissão. Segundo ela, a
Energisa não atende a população da área rural como deveria.
Dona Adelina Ribeiro
Lina explicou que funcionários da Energisa foram até sua residência e sem
nenhuma notificação cortaram a energia. “Minha filha é doente, não consigo
comprar nem o leite, quando mais pagar uma conta de mais de R$ 300,00. Vende
armário, vendi botija, vendi jogo de mesa para pagar minha energia e sair do
escuro”, reclamou.
O senhor Gilberto Veda
relatou que a conta de energia de sua casa era de R$ 60,00, mas agora está em
torno de R$ 200,00. “Teve uma conta R$ 225,00, que está paga, e ameaçaram
colocar meu nome no Serasa”, citou.
Valdecir Pereira de
Oliveira disse que sua conta de consumo aumentou mais de 100%. Ele contou que
atrasou cinco talões, devido à crise instalada na Bolívia. “Paguei três talões
de R$ 200,00. Negociei o restante, mas sinto um descaso da Energisa com a
gente”, afirmou.
Ingrid Ferreira Gomes
contou que não conseguiu se cadastrar como pessoa de baixa renda, e que sua
conta era de R$ 100,00, mas passou para R$ 300,00. “Entre pagar a energia e
comprar comigo, prefiro pagar o que comer”, contou.
João dos Santos Silva,
morador do bairro Esmeralda, afirmou que há pessoas da localidade passando fome
porque a conta da energia está muito alta. “Tem gente com criança, que depende
de energia elétrica. Tem pessoas passando fome para pagar a conta de luz”, alegou.
A liderança Ronald
Fernandes, mais conhecido como Galego, citou o caso de um consumidor que foi
até a Defensoria Pública e não foi atendido corretamente. “Perguntaram se ele
queria mesmo levar a causa adiante, porque se perdesse seria pior”, contou. O
defensor público Sergio Muniz afirmou que a Defensoria está atuando, com uma
força tarefa para atender a comunidade.
Francisco Souza
Rodrigues contou que um bebedouro na casa da sua mãe queimou, e que está
difícil ser atendido pela Defensoria Pública, porque geralmente não há mais
senha. “E agora cortaram a energia lá de casa. Mas vou continuar insistindo.
Sou brasileiro e não desisto”, assegurou.
Sebastião Viriato
explicou ser morador da área rural, onde a conta deveria ser mais barata, mas a
sua está em aproximadamente R$ 380,00, mas ninguém vai ver o relógio. “Me
disseram que eu tenho que tirar uma fotografia do relógio e levar até lá. Eles
não olham o relógio. Eles ‘chutam’ o valor da conta”, reclamou.
O advogado Breno Mendes
disse que recebe constantemente telefonemas de todo o Estado devido à situação
envolvendo a Energisa. Ele afirmou que o Instituto de Pesos e Medidos (Ipem)
não respeita a Assembleia Legislativa e que continua atuando como prestador de
serviços da concessionária de energia elétrica.
“Como o responsável
pelo Ipem quer ser maior do que o Poder Legislativo. Peço que a Assembleia
solicite o imediato afastamento do presidente do Ipem. Funcionários da Energisa
chegavam nas casas mascarados, e isso está errado, porque até mesmo um policial
precisa se identificar. Mas agora conseguimos desmascarar o funcionário da
Energisa”, acrescentou.
Ele parabenizou os
deputados estaduais, que se mobilizaram para defender a população. “Três leis
foram promulgadas pelo governador Marcos Rocha, que atendeu o pedido da
Assembleia Legislativa. Peço aos
deputados que estudem a possibilidade de acabar com a concessão dada à Energisa
devido ao caso da iluminação pública cobrada de forma irregular”, detalhou.
Everaldo Rodrigues
disse que paga R$ 50 mil para ficar com a Ceron. Esse foi o valor pago pela
Energisa ao Governo Federal. “Vender por esse valor foi um crime. É o preço de
um carro popular”, citou.
Miguel Lino relatou que
vendeu uma casa há 14 anos, e até agora precisa pagar conta de energia elétrica.
Ele afirmou, ainda, que tem um projeto de geração de energia, mas precisa de
apoio. O deputado Alex Redano se comprometeu em estudar a viabilidade do
empreendimento.
Dona Raimunda da Silva
Cortez contou que foi instalado em sua residência um outro relógio e a conta de
consumo passou de R$ 140,00 para R$ 700,00. “Fui na Ceron e agora caiu para R$
400,00. Mas mesmo assim é um absurdo, um roubo. Isso foi só porque troquei a
caixa para instalar 220, mas nem instalei ainda”, especificou.
Mauricio Dibas reclamou
da mudança do dia de vencimento da conta de consumo. Ele disse ser um absurdo
que a conta vença no meio do mês, longe do dia de receber o salário. “Uma CPI
contra uma empresa dessa não é fácil. Como disse o Breno Mendes, a empresa é
gigante, e tenta de todas as formas atrapalhar o trabalho da CPI. Os deputados
estão de parabéns. Eu já vi resultados. A Energisa mesmo já recuou com algumas
contas”, afirmou.
O radialista João
Teixeira também agradeceu os deputados pela instalação da CPI, afirmando que a Energisa
precisa respeitar o povo de Rondônia. “No futuro o prefeito pode reunir junto à
CPI elementos suficientes para mostrar à Energisa que não deve atender somente
os meninos bonitos. Também deve atender os feios. A Ceron contaminou nosso
lençol freático, e isso temos que cobrar”, afirmou.
O presidente da Câmara
de Vereadores, Sérgio Roberto Boez (PSB), agradeceu aos deputados pela vinda da
CPI em Guajará-Mirim. “Na minha casa, mudei o padrão e eles colocaram uns
grampos lá, como se lá tivesse bandido. Essa empresa precisa ter respeito pelos
consumidores. Essa ação que os deputados estaduais têm feito já estão surtindo
efeito. Fica aqui nossa consideração pela Assembleia Legislativa, pela Casa do
Povo”, finalizou.
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