Terça-feira, 12 de novembro de 2019 - 12h25
A cidade de
Cacoal foi a terceira de Rondônia a receber a Comissão Parlamentar de Inquérito
(CPI), instalada na Assembleia Legislativa para apurar possíveis
irregularidades e práticas abusivas contra os consumidores de energia elétrica,
praticadas pela empresa Energisa. A reunião aconteceu na noite desta
segunda-feira (11), no auditório da Unesc.
Com a
finalidade de ouvir as denúncias da população e de entidades, a CPI está indo
aos municípios do interior, acolhendo as inúmeras reclamações. Vilhena e
Ji-Paraná já sediaram audiências públicas, que estão previstas ainda para
ocorrerem em Guajará-Mirim, Ariquemes e Rolim de Moura, além da capital, Porto
Velho.
O presidente
da CPI da Energisa, Alex Redano (Republicanos), e os deputados Jair Montes
(Avante) relator da CPI; Cirone Deiró (Podemos), membro da CPI e o deputado
Adailton Furia (PSD), suplente na CPI, conduziram a audiência pública.
Também participaram
a advogada Gloria Cris, da OAB/RO de Cacoal, o defensor público Sérgio Muniz, o
também defensor Roberson Bertoni, o advogado da Assembleia Legislativa, Artur
Veiga, o presidente da CDL Cacoal, Desivaldo Brito, CDL Cacoal, a presidente do
sindicato dos trabalhadores rurais, Vanira Maquarte e o empresário Cleverson
Zaeti. Prefeitos e vereadores da região, além de presidentes de sindicatos
rurais e de bairros, além de acadêmicos, também participaram do evento.
Consumidores
Alex Redano
abriu a audiência ressaltando a importância de os consumidores trazerem
informações e questões concretas de abusos e irregularidades cometidos pela
Energisa.
"Os
abusos estão latentes, sendo cometidos em todas as regiões do Estado. Mas, o
que precisamos mesmo é da contribuição dos senhores em situações como nos
trazer contas com aumentos abusivos, corte de energia sem aviso, cortes no
final de semana, troca de medidores sem conhecimento do consumidor, entre
tantos outros abusos".
Segundo ele,
"a denúncia que mais tem chegado é a do relógio desligado, sem corrente de
energia e o relógio girando rapidamente. É o que chamamos de 'gato ao
contrário'. Na CPI, um técnico informou que os medidores operados pela Energisa
podem ter variações de até 40%".
O presidente informou
que a CPI já identificou algumas situações, como o convênio da Energisa com o
IPEM, com a Polícia Civil e outras questões, como a falta de abertura de
procedimento pelo Procon.
"Parece
que empresa tinha certeza de que iria ter aprovado esse desconto absurdo. Esse
projeto está trancado na gaveta e não sai de lá. A população está em desespero
e ameaça se rebelar. As pessoas estão revoltadas, angustiadas, tendo que
escolher entre a energia e o remédio e a comida", acrescentou Redano.
Cirone Deiró,
autor do pedido para que Cacoal sediasse a audiência pública, declarou que
"temos que sair das redes sociais e irmos para a prática, entrando com
demandas judiciais contra a empresa, que tem desrespeitado as leis e os
consumidores".
De acordo com
Cirone, "a Energisa é a empresa que mais tem trazido prejuízos para
Rondônia. É falta de energia, afetando a produção de leite, de café, de frango,
com perda na produção. E a empresa se sente intocada, se comporta como se
estivesse acima de tudo e de todos. Esses abusos precisam acabar e para a
tarifa ser reduzida, é preciso uma mobilização da nossa bancada federal".
O deputado
ressaltou a responsabilidade da CPI, em dar uma resposta para a sociedade.
"Especialmente aquele cidadão pobre, que está tendo que escolher pagar a
conta de energia ou comprar comida. Em minhas mãos, tenho uma conta de energia
de uma empresa, que dobrou o valor da tarifa, sem aumentar nenhuma máquina,
nenhuma atividade a mais. Como explicar isso? Tem muita coisa errada e é
preciso darmos uma resposta imediata", destacou.
Cirone
enfatizou que "não sou contra empresa nenhuma, mas sou contra quem achaca
a sociedade e trata Rondônia como se fosse uma terra sem lei. A Energisa não
pode continuar agindo dessa forma e causando tantos prejuízos para o
rondoniense".
O parlamentar
disse também que "a Energisa comprou a Ceron por R$ 50 mil e assumiram uma
dívida de R$ 1,7 bilhão. Mas, agora eles querem pagar apenas R$ 600 milhões
desse valor e não vamos aceitar. Nunca um projeto dando isenção à Energisa vai
ter meu voto".
Roubo
O relator
Jair Montes iniciou o seu pronunciamento, ponderando que "queria estar
aqui noutro momento, discutindo investimentos para Cacoal e região, discutindo
geração de emprego e renda ou melhorias na saúde. Mas, infelizmente, estamos
aqui discutindo a questão da Energisa, que atinge a todos, em todos os cantos
do Estado. A Energisa está causando abusos em outras regiões do país onde
opera, mas em Rondônia é diferente, pois somos um Estado gerador de
energia".
Montes disse
também que "estamos sendo roubados, entramos em casa de mãos pra cima. Ela
está forçando o consumidor a pagar valores elevados, com a ameaça de cortes.
Criamos a CPI e estamos sofrendo pressões. Mas, não vou me acovardar. Estamos
lutando contra uma grande corporação, com muita força econômica. Não vou
retroceder, a CPI não vai retroceder".
Jair Montes
defendeu ainda que "queremos uma energia de qualidade, um preço justo e
que a população seja respeitada. Que a empresa pague a dívida que deve ao Estado,
assumida quando comprou a Ceron, sem nenhum desconto. Quem vendeu Rondônia, na
construção das usinas, hoje está de boa em suas mansões. Venderam o nosso rio
Madeira por uma merreca e nós pagamos uma energia cara, com um serviço de
péssima qualidade".
O deputado
argumentou também que "a Energisa não é maior que Deus, que o povo de
Rondônia e que as nossas instituições. A força do povo é muito grande e essa
mobilização precisa sair das redes sociais e se transformar em ações judiciais
e mobilizações".
Aparelhamento
O deputado
Adailton Furia afirmou que "a Energisa assumiu a antiga Ceron e se
aparelhou com órgãos do Estado, com convênios com a Polícia Civil, o IPEM,
enquanto o Procon represa mais de 3 mil denúncias, sem nenhuma explicação, sem
aplicar uma multa sequer. O governador Marcos Rocha (PSL) está demorando a
exonerar o chefe do Procon, que joga contra a população de Rondônia".
Ele conclamou
também aos prefeitos, para que se somem nessa luta. "Temos a informação de
que a empresa tem entregado lâmpadas de LED para os municípios, numa espécie de
'cala boca'. Temos uma bancada federal que não se une em torno de um objetivo
comum, que tem atrapalhado. Precisamos de união, pois o desafio é muito
grande".
Em relação à
bancada federal, ele disse ainda que, "alguns que estão no Congresso,
estavam antes, quando o contrato de venda da Ceron à Energisa foi feito.
Ninguém se levantou para criticar as regras do contrato. Hoje, uma pessoa
sequer consegue fazer uma ligação para cobrar um serviço. É o assalariado, o
trabalhador rural, que está mais sofrendo. Qual o benefício que hoje estamos
tendo com a vinda da Energisa, com a construção das usinas do Madeira? Nenhum.
Temos uma energia cara, um serviço péssimo e um tratamento abusivo contra o
consumidor".
Segundo ele,
"quem manda em Rondônia é o povo, que com sua força ajudou a construir
esse Estado pujante. Nós precisamos nos unir. Eu nasci aqui em Cacoal, sou
dessa terra e vamos somar forças. Se ninguém resolver, o povo tem que ir para
as ruas e tenho certeza que vai resolver".
Debates
O defensor
Sérgio Muniz anunciou que a Defensoria Pública está com o caminhão da cidadania
atuando em Porto Velho. "Está operando na região da Ponta do Abunã e
depois vai vir para os bairros da capital e em seguida para os municípios do
interior. Quem tiver questões relacionadas aos abusos da Energisa, vai poder
ser atendido pelo caminhão. Mas, a Defensoria está de portas abertas para
acolher as demandas do cidadão desde já e esperamos que as ações judiciais aconteçam".
O defensor
público Roberson Bertoni, do Núcleo de Cacoal, aproveitou para informar sobre o
funcionamento e o procedimento.
O vereador de
Pimenta Bueno, Sóstenes Silva (PP), disse que "uma energia cara gera
desemprego, inviabiliza o desenvolvimento de Rondônia. A Energisa não é maior
do que o povo de Rondônia. Realizamos audiência pública na Câmara de Pimenta,
mas a empresa não enviou representante, alegando que o evento foi realizado no
sábado".
Ele trouxe os
encaminhamentos feitos durante a audiência em Pimenta. "Os apagões
constantes; maior fiscalização quanto aos abusos e ilegalidades contra o
consumidor; mudança no prazo de religamento de energia elétrica, hoje de 24
horas; suspensão do aumento da tarifa de energia; expansão da rede de energia
na zona rural; bombeiros militares precisam de um telefone local, para atender
ocorrências que envolvam sinistros de eletricidade e a apresentação dos
mecanismos de aferição de lucros e custos da energia.
O vereador de
Cacoal, Valdecir Goleiro (PTB), disse que chegou ao conhecimento dele o relato
de consumidores que apontam aumento abusivo. "Pessoas simples, com baixa
renda, sem quase nenhum eletrônico em casa, que pagava tarifas abaixo de R$
100, agora chegam contas de R$ 300 e até de R$ 400 ou mais. Que os deputados
não desistam da missão e lutem pela nossa população".
O vereador
Jabá Moreira (Patriotas), de Cacoal, afirmou que o Procon local já recebeu mais
de 800 denúncias, nos últimos 20 dias. "A Ceron foi vendida a preço de
banana, a Energisa pegou empréstimo no BNDES e vai dando, como retribuição,
abuso e achaque contra o consumidor. Quem fez esse negócio, prejudicou a
população e todos pagam a conta".
Protestos
O empresário
Cleverson Zaeti disse que a energia é de péssima qualidade. “Na minha
indústria, quando falta a energia, paramos 100% do serviço de 40 funcionários.
E quando vamos ligar no 0800 para cobrar um reparo, é a maior dificuldade.
Quero parabenizar aos deputados estaduais pelo empenho, pela criação da CPI.
Esse debate direto é muito importante, para que a população possa se
manifestar, mostrar a sua insatisfação. A população se sentia desamparada, mas
a Assembleia trouxe ao debate essa questão e agradeço pela iniciativa".
A produtora
rural Rosa Maria denunciou que a falta de energia elétrica em sua propriedade
tem afetado a sua produção. "Falta energia direto, a gente não tem
resposta quando liga e ficamos no prejuízo".
Vagner Junior
denunciou que a sua energia saiu de pouco mais de R$ 300 para mais de R$ 10
mil. "Ninguém foi lá ver meu relógio, dar uma explicação. Registrei
ocorrência no Procon e ingressei com ação na justiça para não ter a energia
cortada, pois não tenho como pagar esse valor", anunciou.
A servidora
pública Marina Rodrigues fez um desabafo forte: "Estamos sendo
prejudicados pela Energisa. Existe a CPI da Energisa e existe o descrédito do
governador Marcos Rocha (PSL), em dizer que só existe a CPI por causa de
política. Estamos aqui pois nos sentimos roubados, lesados. Essa empresa é a
inimiga número um da população de Rondônia".
Ela anunciou
que tinha uma denúncia robusta, que precisa ser apurada. “Gastava em média 470
megawatts por mês. Quando a Energisa entrou, meu consumo passou para mais de
950 megawatts ao mês. Mesmo nesse período eu estando em Santa Catarina. Temos
empresas que a conta de energia veio maior do que o faturamento. Somos escravos
da Energisa por acaso?".
Segundo ela,
"nos próximos meses, fiz muita economia e o valor baixou. Busquei me
informar sobre a chamada tarifa branca na empresa e assinei o contrato. Mas,
fui alertada de que a tarifa iria aumentar. Minha primeira conta na tarifa
branca, veio R$ 87. No segundo mês, veio mais de R$ 450. No terceiro mês veio
R$ 917 e eu não consegui pagar. Tive que pegar um empréstimo com uma amiga,
para pagar quando chegou o aviso de corte".
De acordo com
a denunciante, "para piorar, cinco dias após pagar a conta de R$ 917,
chegou uma conta de R$ 2.600. Me senti enfartando quando recebi a conta e fui
parar no hospital. Aqui é terra de pioneiros, que com dignidade e trabalho
construíram essa terra. Não podemos aceitar essa afronta da Energisa, esse
abuso contra o nosso povo. Quanto mais eu economizo, mas aumenta a conta. Como
explicar isso?".
O pastor
Zenaldo Doraldo informou que a conta da entidade que atua com ação social,
voltada a moradores de rua, comandada por ele, saiu de R$ 250 para R$ 1.200.
"É importante que a sociedade participe e esteja presente. Nessa causa
todos precisam estar engajados, não apenas nas redes sociais".
Edson Silva
apresentou uma série de informações úteis a CPI e o relator Jair Montes
informou que todos os apontamentos serão inseridos no seu relatório. Ele
questionou
O acadêmico
André Fernando observou que os parlamentares são fiscais do povo e sua atuação
deve ser sempre presente, para enfrentar os desafios da sociedade.
"Entregamos nossa riqueza para a Energisa, nossa renda é pouca e
enfrentamos dificuldades para pagar a tarifa de energia. Que os parlamentares
se coloquem no lugar do povo.
O professor
Francisco Xavier sugeriu que fossem comparadas as contas dos últimos cinco
anos, ainda desde a antiga Ceron. "Minha sugestão é que seja encaminhada,
aos partidos nacionalmente, a sugestão de uma CPI no país, para enfrentar esses
abusos que ocorrem no país afora. Por outro lado, é preciso enfrentar essa
realidade: uma família com um salário mínimo, não pode pagar contas de R$ 300,
R$ 400, R$ 500. Também sugiro suspender os cortes de energia, até que se
esclareçam essas dúvidas acerca das cobranças abusivas".
Ele lamentou
que o governador Marcos Rocha (PSL) disse na cidade que nada pode fazer, para
enfrentar esses abusos. "Aqui em Cacoal ele teve mais de 70% dos votos. E
disse aqui que não pode fazer nada, lamentavelmente. Sugiro ainda que os
deputados façam uma lei para evitar que os órgãos fiscalizadores do Governo,
façam convênios com empresas que eles vão fiscalizar".
A moradora de
Cacoal, Lu do Orquidário, cobrou resultados concretos e disse que o povo não
aguenta mais pagar a tarifa abusiva. "Por outro lado, o governador diz que
não pode fazer nada. Se ele não pode, quem pode nos defender? O povo não pode
pagar essa conta tão cara de energia".
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