Segunda-feira, 19 de junho de 2017 - 19h04
Professor Nazareno*
Curupira é um ser mitológico muito conhecido em toda a Amazônia brasileira. Trata-se de um jovem muito danado, de cabelos vermelhos, pés virados para trás e um exímio acrobata que anda pendurado nas árvores de toda a região. Acredita-se que o Curupira não tenha nenhum dos órgãos excretores e por isso não defeca nem faz xixi. Baseados neste ente demoníaco e surreal, autoridades de Rondônia refizeram o Espaço Alternativo de Porto Velho. Não para homenagear a lenda e as crendices populares da região, mas pelo singelo fato de não haver na suntuosa e eleitoreira obra um único banheiro onde os atletas de fim de semana possam fazer suas necessidades fisiológicas. O único espaço de lazer dos porto-velhenses se localiza no caminho do desajeitado aeroporto da cidade e tem chamado ultimamente a atenção pelas esquisitices vistas ali.
Esse Espaço Alternativo não foi criado por nenhuma autoridade ou governante, mas pelo povo e hoje é uma verdadeira vitrine para políticos mal intencionados. Trata-se da continuação da Avenida Jorge Teixeira que faz a ligação entre a cidade e o seu aeroporto, dito internacional pelos mais incautos e sonhadores. Se levada ao pé da letra a questão da segurança, essa área de lazer nem deveria existir, pois representa um sério perigo não só para o acanhado movimento de aeronaves, mas principalmente para as pessoas que fazem suas caminhadas diárias naquele local. Todos os dias entre as cinco e as oito horas da manhã e também entre as cinco e oito da noite, fecha-se uma das ruas para as pessoas caminharem. O perigo reside no fato, perfeitamente possível, de haver um acidente de grandes proporções na única pista de pouso do campo de aviação.
Como transportar os feridos para os hospitais da cidade se uma das ruas estiver entupida de pessoas caminhando? Como fazer para que equipes de socorro se desloquem com mais rapidez para o local do sinistro? Como evacuar multidões de uma hora para outra? É mais fácil para as nossas autoridades evacuar nas pessoas em vez de evacuá-las. Como se vê: esse caminho mais curto pode não ter adiantado de nada na hora de um sufoco. Óbvio que se espera que isso nunca aconteça, mas se acontecer em quem colocar a culpa pelo dimensionamento da tragédia? Mas pensando bem: levar feridos para os hospitais da cidade adiantaria alguma coisa? Acho que as autoridades pensaram nisto. Hospital de Base e Hospital João Paulo Segundo atenderiam os feridos adequadamente? É melhor ficar agonizando na pista e esperar outro voo para cair fora.
Por questões estritas de segurança, o Espaço Alternativo deveria ser retirado dali. Se fosse implodido, ninguém mais se elegeria deputado ou senador e tudo ficaria muito mais seguro. Ou então que se faça outra ligação entre a cidade e o aeroporto que não tenha que ser interrompida perigosamente em nenhum horário. Por que não se faz uma pista de caminhada ao lado do imponente rio Madeira? O consórcio que construiu Santo Antônio devia ter pensado nisso. Aliás, lindas passarelas ao lado de rios não faltam nas cidades amazônicas. Humaitá e Santarém, por exemplo, têm lidas pistas de caminhada ao lado dos rios que lhe banham. A única coisa que este consórcio fez foi um porto meia boca que já está parado, danificado e sem uso. Sem banheiros, o Espaço dos Curupiras é uma boate a céu aberto, servindo como pista de racha e onde se encontra o maior número de preservativos usados por metro quadrado da capital. E as letrinhas?
*É Professor em Porto Velho.
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