Domingo, 13 de março de 2022 - 10h55
A Paz voltará à Europa quando a Ucrânia e a Europa se tornarem independentes
Os ciclones vindos da Rússia e dos EUA começaram por varrer a Ucrânia e por colocar as populações europeias ao sabor dos ventos. Quanto aos políticos, que se encontram em lugares mais altos, esses assumiram sobretudo as funções de cata-ventos da OTAN/USA!
Com a invasão russa na Ucrânia criou-se uma cena tão trágica que fez renascer os velhos demónios da luta entre capitalismo (mundo livre) e socialismo (mundo controlado), entre Ocidente e Oriente…
… no cenário temos a guerra quente e no público temos a guerra fria!... uns com armas de fogo outros com armas da opinião, tudo “fardado” ao serviço do Bloco Russo ou do Bloco OTAN e tudo isto à margem dos interesses da Ucrânia e da Europa!
Tudo olha agora só para a fogueira não se interessando por quem acarretou ou acarreta a lenha!...
…uma alternativa insatisfatória: sair de um poderio militar para entrarem noutro, quando o óbvio seria entrar numa Europa livre emancipada dos blocos; a verdadeira opção seria uma União Europeia, que não existe como verdadeira entidade europeia promissora de futuro, dado ter-se tornado no braço estendido americano (OTAN…
A tragédia ucraniana, tomada a sério, levaria a Bela Adormecida Europa a acordar! A Europa tem que assumir-se a si mesma e aprender a andar pelo próprio pé! Só então será equilibrada e poderá tornar-se num luzeiro de uma política da paz para o mundo…
…. Em concreto, esta guerra é uma intervenção contra toda a Europa!
Mas se olhamos para a Ucrânia, a sua indecisão interna espelha a indecisão europeia na sua expressão de estar sem ser. É irresponsável continuar a agir-se segundo a divisa emocional: o inimigo do meu amigo meu inimigo é!...
…. Respira-se no ar um desejo de unilateralidade nas posições enquanto a UE se esconde sob o manto da irresponsabilidade tornando-se também ela cúmplice do que acontece na Ucrânia e na UE!
A Ucrânia é uma nação independente, mas com o pobre destino de se encontrar na zona ciclónica onde o Ocidente e o Oriente se digladiam. No meio de tudo isto quem perde é a Ucrânia e a Europa. Mas isto deve ser ocultado aos europeus!
De facto, em terreno ucraniano já há anos se dava uma guerra-civil: uma guerra representativa dos interesses da Rússia, por um lado, e dos EUA, por outro, e com uma Europa que não é carne nem peixe e por isso se encosta à NATO que a impede de poder crescer e aparecer de maneira pacifica e complementar numa estratégia comum de paz que poderia ir de Lisboa até aos Urais…
Cada lado pensa ser o bom, lutando um contra o outro, sem pensar que o bom se torna mau e no fim só se safam os maus à custa do sofrimento do povo e de uma Europa adiada…
… por anda o povo?! Ele anda, por aí desgarrado, à procura de um regaço seja na Ucrânia, na Europa ou na Rússia!...
… faz lembrar o da pandemia Covid-19, onde, olhe-se para onde se olhar, em vez de rostos humanos, só se veem máscaras e no que toca ao imbróglio da Ucrânia, olhe-se para onde se olhar, em vez de cabeças só se avistam barretes e chapéus!
Nesta estratégia toda a informação é dada no sentido de não se compreender o que verdadeiramente se passou e se passa! Ao poder importa-lhe, com os seus acólitos da imprensa, espalhar o medo e a confusão entre o povo para não serem chamados à responsabilidade.
Toda a gente fala sem ouvir o que a Rússia quer, o que quer a Ucrânia, o que quer a Europa e o que querem os USA; uns e outros também não querem saber do que se tem feito de mal (por fazer ou por deixar de fazer) à Europa, à Ucrânia, à Rússia, à EU e à própria NATO! …
O
mesmo erro que cometeu a Alemanha aquando da Reunificação alemã! Esta,
em vez de aproveitar-se da oportunidade para começar a andar com os
próprios pés e com a Europa, preferiu encostar-se à avalanche
anglo-saxónica e deste modo atraiçoar a vocação genuína europeia; o
mesmo tem estado a acontecer na Ucrânia (transformada num cavalo troiano
da Rússia e da OTAN/USA! Nós abdicamos de sermos europeus e a Ucrânia
foi vitimada pela falta desta consciência. Tudo leva a crer que uma
Europa arrastada pelos USA e orientada pela Alemanha (ver: Viragem na
Ordem Europeia https://antonio-justo.eu/?p=
É muito questionável o facto de, quando a Guerra Fria terminou e o Pacto de Varsóvia se dissolveu, a OTAN ter continuado. A Europa só pode acordar e vir a si própria quando a OTAN se dissolver…
Por um lado, os USA queriam uma Rússia vencida e humilhada como se prevê da expressão pública de Obama quando disse que a Rússia era apena uma potência regional…
Por um lado, Khrushchev, na Crise dos Mísseis Cubanos entre os EUA e a URSS, retirou os seus abastecimentos militares de Cuba porque o Ocidente não tolerava a sua presença naquele país. Por outro lado, a OTAN não quer compreender que a Rússia não queira ter uma ameaça militar na sua vizinhança imediata (Mísseis da OTAN na Polónia, etc...)….
As diversas contribuições, sobre o assunto, ajudam a compreender melhor o que se quer incompreensível…
Que acontecerá quando Putin ficar encostado à parede? Será que queremos uma aliança entre a Rússia e a China? Uma Europa pronta a espelhar os valores cristãos não deve alinhar-se quer na “tradição” bélica dos USA/OTAN quer na tradição” bélica da Rússia…
Contextualização:
…. Concretamente a guerra civil começou em 2014 devido à decisão do governo ucraniano de impedir um acordo com a EU fazendo isto contra a vontade de uma grande parte da população (tendo sido deposto o presidente, na consequência). Uma parte da população era por uma aproximação da Ucrânia ao Ocidente e a outra era pela aproximação à união russa...
Agora em guerra, o presidente ucraniano Selenskyi mostrou vontade de fazer cedências em Donetsk e Lugansk, estendendo a mão no sentido das exigências de Putin (3). Isto daria abertura a uma espécie de divisória dessas repúblicas da Ucrânia se houvesse uma possível a cláusula de unificação nacional pacífica como objetivo...
A situação de hoje é semelhante à de 1939 antes da eclosão da Segunda Guerra Mundial onde o papa Pio XII a 24 de agosto de 1939 advertia: “Que os homens voltem a se entender. Que voltem a negociar. Ao tratar com boa vontade e com respeito pelos direitos recíprocos, descobrirão que as negociações sinceras e eficazes nunca são excluídas de um sucesso honroso”. Tratava-se de ontem como hoje, não cultivar a memória das negatividades e as feridas recíprocas! A Europa está a perder uma chance de se encontrar a si mesma para assumir liderar os próprios destinos!
António da Cunha Duarte Justo
Texto completo e notas em
© Pegadas do Tempo, https://antonio-justo.eu/?p=
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