Sábado, 24 de junho de 2017 - 18h36
247 - Escritor Fabrício Carpinejar critica a reação à detenção do ator Fábio Assunção, na madrugada deste sábado (24) em uma festa de São João na cidade de Arcoverde, no Sertão de Pernambuco. Com sinais e embriaguez, ele agrediu pessoas e desacatou policiais, de acordo com Wanderley de Carvalho, comandante do 3º Batalhão da Polícia Militar. O artista também teria quebrado um dos vidros da viatura em que foi levado.
Carpinejar disse que ficou "chocado com os vídeos do ator Fábio Assunção estirado no chão e preso em viatura em Arcoverde (PE)". "Pasmo não por aquilo que ele fez, fora de si, mas pelo deboche de todos à volta, sóbrio e serenos, com consciência para ajudar e que não demonstraram nenhum interesse para socorrer e amparar alguém claramente necessitado e com dificuldades de se manter em pé e articular um raciocínio lógico", diz.
"Em vez de ajudar, ridicularizavam o profissional em uma fase difícil da vida e apenas aumentavam a sua agressividade. Quem aqui já não bebeu além da conta e falou bobagem? Atiçar um bêbado é armar um circo de horrores, é se divertir com o sofrimento alheio, é renunciar à educação pelo bullying anônimo e selvagem de massa", acrescentou.
O escritor perguntou "onde está a compaixão do país". "O que identifico é que torcemos pela queda de nossos heróis, pelo fim de exemplos. Odiamos silenciosamente aquele que alcança o sucesso. E permanecemos à espreita, como urubus com as asas dos aplicativos, para flagrar um tombo, uma gafe, um vexame da celebridade e espalhar pelos céus turvos da web. Talvez, infelizmente, desejamos que todo grande artista, como é Fábio Assunção, beije a lona para arrancarmos memes dos bolsos e ganhar notoriedade com gravações caseiras", afirmou.
Segundo Carpinejar, "somos cada vez menos afetuosos e mais paparazzi das tragédias individuais". "Não sabemos confortar com a nossa mortalidade quem é também humano, erra, falha e recomeça com a humildade do perdão. Não vou julgar e tampouco mergulhar em achismos, se ele estava sob efeito de drogas ou não, o que acontecia em sua vida privada para gerar tal descontrole (e, óbvio, que deve ser penalizado por tudo o que cometeu contra a lei, sem distinção)".
"Mas quem teve um familiar transtornado ou viciado sabe que ele é também uma vítima e que o cuidado e a discrição são os únicos curativos possíveis para não aumentar a vergonha e as recaídas. Expor alguém em situação delicada é ser cúmplice de vandalismo psicológico. Todo celular hoje é uma arma de fogo", continua.
"O que lamento é que aquele ator, sempre solícito para selfies e autógrafos, sempre disposto a conversar com qualquer um, não foi carregado pelo público quando realmente esperava. A fama é ingrata, mas triste mesmo é que não procuramos salvar mais a nossa cordialidade", finaliza.
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