Quarta-feira, 21 de janeiro de 2009 - 12h41
Violento é o rio que tudo arrasta quando transborda suas margens, ou violentas são as margens que comprimem sempre o rio?
"Estes versos do dramaturgo alemão Bertold Brecht iniciam capítulo que trata da vida em um acampamento do Movimento dos Sem Terra, MST, antecedendo a narrativa do que foi o "Massacre da Fazenda Santa Elmira", livro do frei Sérgio Antônio Görgen, testemunha ativa da resistência de 500 famílias ao cerco feroz da brigada militar de 1.200 homens, nos anos finais da década de 80, no Rio Grande do Sul.
O massacre de então é claro divisor de águas na história do MST no Rio Grande do Sul e penso que no Brasil. Foi uma sucessão de ilegalidades, conluio entre fazendeiros e forças do Estado, insensíveis à reforma agrária e incapazes de levar adiante planos de assentamento prometidos em intermináveis e frustradas negociações que levaram aquelas famílias a ocupar e resistir em área passível de desapropriação.
Frei Sérgio enumera três razões definitivas para que as famílias optassem pela resistência civil, ignorando a ordem de reintegração, produto final de um processo cravado de ilegalidades, sob o comando de um juiz que teve ouvidos somente para um lado da história, a do fazendeiro. A razão mais forte: crianças do Acampamento do Rincão do Avaí, onde estavam famílias que viriam a ocupar a Santa Elmira, foram assassinadas por pesticidas lançados propositalmente por aviões de fazendeiros em cima dos barracos.
A coragem daquelas famílias, munidas de instrumentos de trabalho no enfrentamento desproporcional ao arsenal de balas, é o que caracteriza o MST, que hoje completa 25 anos de luta pela terra. A Santa Elmira é um marco porque os acampados, depois de muitas promessas, tiveram a clareza de que sem luta pela terra a reforma agrária é plano adiado, feito, desfeito, refeito, uma luta institucional, como nos diz Frei Sérgio, aceita pórem não exigida pela sociedade.
Ao passo que a luta pela terra enfrenta a criminalização e a intolerância de uma elite que, influente no Estado, de tudo tem feito para intrigar a sociedade brasileira contra o MST.
Duvido que haja prazer em se deslocar para uma terra desconhecida, erguer barracos de lona preta e passar anos a fio, na chuva, no frio, vivendo expectativas, enganações, recuos, transferências, no limite do perigo da emboscada e pistolagem do latifúndio, com a paciência testada a cada sofrimento.
Ocupar não é estratégia fácil, é vida decidida com renúncia, e se na grande e absoluta maioria as ocupações são pacíficas e mantidas com a dignidade de seus integrantes, mulheres e crianças em elevado número, é porque eles têm a lúcida consciência de que o campo é lugar de vida, de produção e renda sustentável para milhares que foram expropriados de terras.
Em Rondônia, onde a atuação do MST de tão forte deu vida à presença viva de muitos outros movimentos de trabalhadores da terra, pude acompanhar muitas lutas, com retomada de fazendas, e avanços, ainda que aquém da necessidade de justiça pelo usufruto da terra. Estive em vários acampamentos, e acompanhei jornadas de luta.
A organização de um acampamento é extraordinária. Todos, sem exceção, se dividem em equipes responsáveis pela saúde, educação, lazer, alimentação, segurança e outras, variadas e similares Brasil afora. É uma lição política e humana em tudo que desenvolvem, discutem no coletivo, uma equipe da outra sabe tudo que se passa.
Penso que essa forma de organização, em que o MST oferece atenção especial para com a educação, é o que fortalece a luta e regula o sofrimento de três, quatro, cinco anos ou mais embaixo de uma lona preta, com toda sorte de privações.
Os tempos de globalização e economia neoliberal foram um duro golpe na sua organização e estratégias de agir. Mas, ao contrário dos que muitos pensam, e para os que julgam ser o MST uma 'assombração viva' para o agronegócio, a entidade sobrevive, reconhece o momento de impasse e dispõe de capital exemplo para o mundo: a formação intelectual e moral dos que marcham em suas fileiras, com fino conhecimento político da gênese da desigualdade social no Brasil, raro de se ver em doutores que em nome da "lei" vêm cometendo iniqüidades no campo nesses 25 anos de luta.
O Brasil se constituiu a partir da defesa da propriedade privada, tenha ela função social ou não, a exemplo de uma fazenda improdutiva. É a histórica atuação do MST que derruba muros da tolerância para com os que mantinham intactas vastas porções de terra, tal como nas capitanias hereditárias. Estes também se transformaram com a ação política do MST, cuidando de dar destino a terras deixadas ao léu.
Entendo que a trajetória do MST não pode ser objeto de ódio ou intolerância, assacados em decorrência das ações de luta pela terra, porque em sua maioria, repito, são realizadas de modo pacífico e resultam em projetos bem-sucedidos para a agricultura familiar, trazendo renda e melhorias para o PIB das cidades.
Homenageio nestes 25 anos os que tombaram na luta pela terra em meu Estado e os que resistem como a Verinha, a Isabel Ramalho, o Vandeir, a Matilde, o Leôncio, o Zé Pinto e a Nilda, gente que no solo rondoniense, junto a tantos outros na luta pela terra nos acampamentos e nos assentamentos, contribui, com o vigor de suas vidas e história pessoal de conquista da terra, para não deixar que a margem da opressão comprima o rio da solidariedade e busca de justiça social.
Fonte: Senadora Fátima Cleide - PT/RO
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