Quinta-feira, 29 de outubro de 2009 - 09h25
* José Hiran Gallo
Em qualquer situação é muito difícil, e raro, saber assumir um erro. A História, e o dia-a-dia mostram isso, o que não seria diferente quando se trata de situação em que possa ter havido erro médico.
No caso desse profissional, há várias situações passíveis de serem usadas para explicar a assertiva acima. Primeiro, porque a cultura médica tradicional assenta, ainda hoje, numa educação para a perfeição que venera modelos infalíveis, ignorando a abordagem mais filosófica da ciência e a necessidade de entender que o conhecimento avança pela correção de proposição que se revelam erradas. Os erros ocultam-se nas teorias mais consagradas. Segundo, porque o erro é quase imediatamente tomado como sinônimo de negligência ou, pior ainda, de falha de caráter.
Por fim, o erro médico tem sempre um profundo impacto pessoal e profissional. É vivido quase sempre em dramática solidão, e dele pode resultar conseqüências penais, além da censura explícita ou muda da sociedade e, o que é ainda mais doloroso, dos próprios pares, mesmo naquelas situações consideradas paradoxalmente de erro sem culpa, como sucede quando a doença se apresenta em traiçoeiro silêncio ou de uma forma bizarra.
Muitas vezes, e não se está querendo justificar um fato direcionando a questão para outros responsáveis, o erro é conseqüência de falhas no sistema. Não iremos muito longe. Basta chegarmos a uma unidade de saúde em qualquer região do Brasil, onde todos os profissionais da saúde trabalhem em condições precárias, e os gestores dizem ainda não ter como resolver tal problema. Nesse grupo, onde os fatos acontecem em decorrência de falta de condições de trabalho, estão cerca de 70% do que se convencionou chamar “erro médico”, muitas vezes sendo atribuído ao profissional de saúde uma responsabilidade que não é sua e em que acaba se tornando, também, uma vítima.
É importante considerar um aspecto fundamental: A Medicina, no passado, era simples, ineficaz e razoavelmente inócua. Agora, ela é complexa, eficaz, mas potencialmente perigosa.
Por fim, em qualquer circunstância o erro médico é uma questão que começa, continua e se extingue na educação, entendida esta no sentido mais amplo, pois inclui também a instrução do público na percepção do risco, e o desenvolvimento de uma cultura de segurança. Um assunto que deve ser centrado, desde os primeiros dias do curso de graduação do futuro médico. Por isso que a Bioética foi incluída na grade curricular.
Coloco-me à disposição dos ilustres Colegas Médicos para discutirmos tal assunto, pois sua aparência desperta sempre um voraz apetite noticioso, jamais contrataria um advogado para defender-me em um tribunal de ética, pois dentro da minha especialidade eu tenho obrigação de entender.
* Consº. do CRM, diretor-tesoureiro do CFM e doutorando em bioética
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