Segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008 - 08h55
HUGO CHÁVEZ - VERSÃO GROTESCA DE SIMON BOLÍVAR OU UM NOVO FIDEL?
O Artigo 14, da Constituição da República Bolivariana da Venezuela, enuncia que: a lei estabelecerá um regime jurídico especial para aqueles territórios que por livre determinação de seus habitantes e com o aval da Assembléia Nacional, se incorporem à República.
Pelo Artigo 14, poder-se-ia criar, caso as populações locais assim o decidissem por voto, a Grã-República Bolivariana, uma versão atualizada da antiga Grã-Colômbia, efêmera realização unitária de Simón Bolívar. A Grã-República idealizada por Chávez, agora, prevê a reintegração da Colômbia, Venezuela, Equador, Panamá e possivelmente, a Bolívia.
Com essa colocação posta em foco podemos entender uma série de atitudes quixotescas que o presidente Venezuelano vem arquitetando como se fossem meros arroubos caudilhescos. Atitudes essas que vem ganhando simpatia de alguns mandatários populistas.
COLÔMBIA
Após ter saído fortalecido no episódio em que foram libertadas as reféns Clara Rojas e Consuelo González de Perdomo, pelas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), o presidente Hugo Chávez conseguiu um objetivo maior que foi o de mostrar, ao mundo, as FARC como um exército que ocupa uma região da Colômbia, com comando central e um ideal político revolucionário.
A relação entre Álvaro Uribe e Chávez saiu extremamente estremecida neste evento. Uribe afirmou que a Colômbia precisa de quem sirva de mediador com os terroristas, mas não de quem utilize a mediação para dar legitimidade ao terrorismo. Chávez afirmou, por sua vez, que não é possível a reconciliação com a Colômbia enquanto Uribe for presidente, acrescentando que espera que não o seja por muito tempo.
O presidente da Colômbia rebateu as críticas de Chávez acusando-o de Expansionista e de ter um projeto para criar um Império Venezuelano.
BOLÍVIA
O Movimiento Nación Camba de Liberación tem um caráter nitidamente separatista, e seu objetivo é formar outro Estado, integrado pelos departamentos da "Media-Luna", formada pelos quatro Estados mais ricos do país: Santa Cruz de la Sierra, Tarija, Beni e Pando. Nessa região se encontram grandes jazidas de gás, petróleo e grande potencial agropecuário e industrial, que a convertem não só na mais rica região da Bolívia, mas em uma das de maior potencial da América Latina.
Angel Sandoval, um dos lideres do movimento declarou: "Nós temos uma cultura própria, somos uma nação. O problema é que nem os da Nação Colla, nem os da Nação Camba se sentem representados pelo Estado boliviano. Nossa divisão é natural. A própria geografia nos divide ..."
A Venezuela tem uma participação cada vez maior em assuntos internos da Bolívia, desde que se iniciaram os projetos de nacionalização. Morales teme uma insurgência separatista e vem reequipando sua Forças Armadas, bem como estreitando os acordos de cooperação militar com a Venezuela.
O acordo possibilita uma interferência venezuelana no caso de algum problema interno que coloque em risco as instituições. Além da necessidade política de Morales se aproximar de Chávez, a já delicada economia boliviana enfraqueceu ainda mais depois dos processos de nacionalização em conseqüência da queda vertiginosa do investimento externo. Para tentar manter equilibrada a economia, e a capacidade técnica de operar os campos de petróleo e gás natural nacionalizados, Morales depende não só de tecnologia venezuelana, mas também de generosas injeções de dinheiro.
EQUADOR
O presidente Rafael Correa pretende, como bom discípulo de Chávez, colocar sob seu controle, os três poderes da República, estatizar a economia, manter sob controle os meios de comunicação e criar um regime socialista moderno, com a mesma retórica sutil e dúbia criada por Chávez para estabelecer a sua própria ditadura. Correa acredita piamente nisso, a ponto de afirmar, textualmente: Creio que a América do Sul, em geral, se encaminha para o socialismo do Século XXI.
GUIANA
Guiana Essequiba ou Zona en Reclamación é a região do Planalto das Guianas, compreendida entre o rio Cuyuni e o rio Essequibo (159.500 km²), representando aproximadamente 66% do território da República Cooperativa da Guiana e reenvidicado pela Venezuela.
O Laudo Arbitral de Paris, no ano de 1899, concluiu com a cessão do território a oeste do rio Essequibo à Inglaterra. Entretanto, como a Venezuela não estava representada oficialmente, já que seus dois representantes haviam sido nomeados pelos Estados Unidos e não representavam, por isso, o estado venezuelano, esta declarou a nulidade do tratado. Outras tentativas de acordos ocorreram mas nenhuma levada a bom termo.
O artigo 10 da atual Constituição Venezuelana declara que "o território e demais espaços geográficos da República são os que correspondiam à Capitania Geral da Venezuela antes da transformação política iniciada em 19 de abril de 1810, com as modificações resultantes de tratados e laudos arbitrais não viciados de nulidade.
CONCLUSÃO
A postura de Chávez em nada lembra a figura do grande líder Bolívar, certamente o mais lúcido protagonista da Nova América, um ideólogo e um apaixonado libertador. Os ideais do, então, jovem Bolívar foram forjados em Cádis, Espanha, quando começou a freqüentar a Loja Maçônica Lautaro, onde os irmãos maçons preconizavam as idéias de liberdade e a necessidade de lutar contra a opressão e a possibilidade de converter em Repúblicas às colônias espanholas da América. Após realizar o juramento sagrado, no Monte Sacro, em agosto de 1805, Bolívar passa os próximos vinte anos de sua vida dedicando-se de corpo e alma ao cumprimento das metas preconizadas pelos irmãos de Lautaro. Todo o seu esforço e todo seu ideário se resumia em que "o novo mundo deve estar constituído por nações livres e independentes, unidas entre si por um corpo de leis em comum que regulem seus relacionamentos externos".
Chávez e Fidel, por sua vez, embora possuindo trajetórias totalmente diferentes, procuram encarnar, segundo eles, valores e ideais que vão de encontro às aspirações permanentes do homem. Ambos recusam o projeto de globalização neoliberal e reivindicam para os seus povos o direito de construírem um futuro sem tutelas. Infelizmente as ações contrariam a retórica. Na Venezuela a Suprema Corte é totalmente subordinada ao presidente, que a dissolve quando reage aos seus interesses e empossa uma nova, com todos os membros indicados por ele. A grande diferença, porém, entre os controvertidos líderes é que Chávez é dono de 7,5% das reservas conhecidas de petróleo que alavancam sua economia e lhe permitem financiar diversos programas sociais para 80% de sua população que vive abaixo da linha de pobreza. Em contrapartida esses recursos também servem para montar a mais formidável máquina de guerra latino-americana e o tornam um motivo constante de preocupação para a harmonia dos países sul-americanos e do mundo.
Coronel Eng Hiram Reis e Silva
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hiramrs@terra.com.br
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