Quarta-feira, 16 de agosto de 2006 - 14h48
Não sou crítico de teatro, porém, dou-me o direito de opinar, questionar.
Desde pequeno ouço falar que santo de casa não faz milagres. Cresci, e constato frequentemente, que não faz mesmo. Em alguns casos, há explicações, o santo é realmente muito ruim, em outros, é puro preconceito, salvo melhor juízo.
Estou me referindo à peça O Homem de Nazaré, encenada, anualmente, na cidade cenográfica, Jerusalém da Amazônia, em Porto Velho/RO, a qual tive, e aproveitei, mais uma oportunidade de assistir.
Fui, lá, com a minha família, e assisti a última apresentação de uma série de três. Foi no domingo, Dia dos Pais, fui me dar esse presente. Creio ter assistido pelo menos umas dez apresentações de O Homem de Nazaré.
Em todas as vezes que estive lá sempre questionei: por que a população de Porto Velho, que tem cerca de 120 mil eleitores, só para contar os adultos, e pelo menos a metade católicos apostólicos romanos, cristãos, não prestigiam tamanha homenagem feita com um grande esforço e recursos financeiros, a Jesus Cristo?
Cada vez que via a peça, pensava: no próximo ano isso não vai suportar tanta gente. Ledo engano. No último dia 13, última apresentação, para minha surpresa, o público não foi, definitivamente, digno (em quantidade) de tamanha magnitude. É verdade que teve época que havia tochas espalhadas da BR 364 até a cidade cenográfica, que dava um clima todo especial. Mas a cidade cenográfica estava impecável. Cenário ampliando, limpo, parecendo novo, figurino primoroso, som maravilhoso, atuações como as do Nazareno, do Carlinhos, Almedino, através dos quais, homenageio todo o elenco e integrantes do, perseverante, Grupo Êxodo, ao meu olhar crítico-leigo, primorosas.
Percebi que os maiores públicos da peça foi quando tiveram participações de atores globais como Carlos Vereza ou Lucélia Santos. Devo confessar que a atuação do Pilatos, este ano, deixou a desejar, mesmo com o áudio sendo do Carlos Vereza, mas, o Carlos Terceiro poderia ter retornado ao papel.
Mesmo assim, o conjunto é que deve ser considerado. Confesso que não sou muito católico, nem muito evangélico, mas acredito naquela história, e apesar de tudo, consigo me emocionar, com Carlos Vereza ou sem Carlos Vereza. Só não entendo porque, pelos menos os católicos, não prestigiam aquele evento. E olha que esse ano o ingresso era apenas um quilo de alimento não perecível, ou seja, além de ver um belo espetáculo ainda contribuía com a redução da desgraça de alguém. Mesmo assim, quase nada de gente.
É claro que a produção de eventos culturais em Porto Velho sempre foi um desastre, deviam aprender com o pessoal do Maria Fumaça. É um desperdício tanto investimento (grande parte dinheiro público) para produzir um evento cultural/religioso daquela monta e não ter quase nenhum esforço para levar as pessoas para prestigiá-lo. Continuo sem entender. Quero acreditar que o descrédito nos poderes da Roubônia (Casseta e Planeta) não tenha atingido ainda mais a cultura.
Vejam esta passagem bíblica, em Mateus 13:57, e constate como ela diz respeito ao tema: "Um profeta não é honrado em sua própria terra e na sua própria casa." Em 13:58 "E não faz milagres por causa da incredulidade deles."
Interessante, não?
Está na hora de rever seus conceitos, pois você e o seu desenvolvimento podem estar sendo os maiores prejudicados por causa de seu julgamento em relação às pessoas, principalmente, as pessoas de casa. Está na hora de acreditar mais no nosso potencial, pelo menos, no nosso potencial cultural.
Fonte: Sérgio Ramos (www.sergioramos.com.br)
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