Sábado, 16 de dezembro de 2006 - 06h29
LÁ VEM A BANDA... E AGORA?
...sugiro que a deixem passar...
Ainda nem comemos o peru de natal, nem brincamos no mistura fina (o bloco da maisena), eis que, neste crepúsculo de 2006, ao começo das falas sobre carnaval em nossa cidade, a nossa mais querida, mais brilhante, mais inquieta, mais reclamada e também mais polêmica agremiação carnavalesca, a Banda do Vai Quem Quer, começa e a ser alvo das discussões nas esquinas, nos bares e até mesmo em algumas instâncias do poder. Numa certa sexta-feira, à tarde, ao entrecortar a praça Getúlo Vargas, em direção ao Bar do Zizi, para uma "parada estratégica", fui abordado por um amigo que, já se mostrando todo animado e alvissareiro, por conta do reinado de momo, que se aproxima, manifestou sua preocupação com o desfile do bloco. Ocorre que os rumores e ecos, advindos das rodas de discussões, reuniões e debates, dão conta de que alguns planos existem para perturbar os milhares de foliões da Banda (no popular, jogar água no chopp). Há uma imbecil e desavisada proposta de um itinerário novo para a banda e demais blocos, que a vemos como inoportuna e sem cabimento.
O carnaval popular de Salvador e Recife, assim como as Bandas de Ipanema e Copacabana, além do cordão do Bola Preta, tradicionais agremiações do Rio Janeiro, ocupam espaços ditos como "complicados" para servir de percurso. Entretanto, lá como cá, que ressalte-se a importância impar, o direito da livre expressão da vontade e da alegria, por parte do cidadão/folião que, cantando e dançando pelas ruas e esquinas, pisa firme, marca espaço e interage com a cidade e seus exemplares patrimoniais e históricos. São antigas ruas, velhos prédios e casarios, recantos tradicionais. São lembranças de fatos e dados históricos que estão em jogo e que filiam-se ao direito da população em ocupar a sua cidade, o seu habitat, com o inquestionável, querer, direito e merecimento.
Sem desafiar esferas da justiça, ou a elas se opor, não há, a meu ver, qualquer interpretação técnica ou parecer, suficientemente capazes de interferir e destituir a Banda, tirando-a de seu lugar, afinal, está em jogo a vontade, o sentimento e o direito de milhares de cidadãos. Estes atos podem até ser interpostos, decretados ou sei lá o quê, mas nunca vão calar no sentimento, na vontade e no desejo das pessoas.
As muitas justificativas, que emanam de várias direções, são, na minha opinião bolas de borrracha que batem na parede e voltam. Vejamos pois: nunca ouvi dizer que algum adepto da Banda denunciou no Ministério Público, na Polícia Militar, secretaria municipal ou estadual de meio ambiente ou em qualquer outra instituição (o que seria absurdo tamanho), a realização de uma parada evangélica, um show gospel, cavalgada da expovel, ou mesmo uma procissão católica, que acontecem em espaço aberto ou vias da cidade.
Queria ver um parlamentar municipal que corajosamente se apropriasse da atitude marcante de propor e encaminhar os trâmites de apreciação, votação e aprovação na câmara, criando o circuito kaiary de carnaval ou corredor da folia. A inviabilidade que tanto se propaga na cidade, para realizações de atividades culturais populares, de maneira distorcida, recaem sobre estas práticas e seus organizadores, mascarando uma enorme falta de vontade política e uma gritante falta de alcance intelectual, histórico e cultural de mentes pelas quais, passeiam com folga, a inexistência de compreensão sobre valores que, na verdade, deveriam estar sendo fortemente associados ao processo de desenvolvimento da cidade e do próprio estado.
O carnaval popular, que no mês de fevereiro é importante propulsor da economia do município, movimentando bares, lanchonetes, restaurantes, hotéis, além do comércio de confecções, prestadores de serviços como transporte, dentre outros, é visto com descaso e não habita sequer, rodas de negócios que estimulem novos incrementos a este setor produtivo, gerador de emprego, renda e tributos.
Ver o carnaval da Banda do Vai Quem Quer e demais blocos, sob o prisma da inviabilidade técnica, ante a falta de estrutura de acompanhamento, fiscalização e controle é ensimesmar-se na incongruente retórica de que quem não assume que o desenvolvimento existe também por meio das práticas e ações culturais. Como a Banda é do Vai Quem Quer, eu vou. E tu vais?
Fonte:: Altair Santos (Tatá)
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