Quinta-feira, 26 de abril de 2018 - 05h14
Imponderável no contexto deste artigo é algo imprevisível, isto é, que foge de minhas ponderações mais aguçadas. Imponderável é qualquer coisa que não se pode avaliar ou calcular, e diferentemente do que muitos supõe, todos nós lidamos com o imponderável.
Na economia, o imponderável está sempre presente. Só Deus tem o controle de tudo!
Indo direto ao ponto: Dois mais dois, as vezes não é quatro. E não é quatro porque algo fugiu de nosso controle.
Na prática, muitas situações revelam a imponderabilidade dos processos e das técnicas. Há fatores que modificam resultados, fatores esses, sobre os quais não temos nenhum controle.
Durante mais de vinte anos eu trabalhei em chão de fábrica de rações para animais. Todos os meses precisávamos fechar os estoques das matérias primas e dos produtos elaborados, e todos os meses era necessário dar um canetaço para fechar o estoque físico com o estoque contábil. Simples assim! Mas por que o canetaço?
Para uma pessoa leiga tudo é muito simples: Soma-se tudo o que se recebeu, produto por produto. Diminui-se tudo o que se consumiu na produção das rações, produto por produto. Faz-se as contas e tudo tem que fechar, certo? ERRADO!
Sim, errado porque na prática a conta nunca fecha. E não fecha porque há um monte de situações imponderáveis que alteram o resultado. E o imponderável está sempre presente.
Um saco de 25 kg de determinado produto dificilmente tem exatos 25 kg. Ocorrem variações para mais e para menos, e há limites aceitáveis para essas variações.
Um saco de determinado produto pode apresentar variabilidade de peso apenas em função da umidade relativa do ar ambiente, pois há produtos muito higroscópicos. As balanças, mesmo sendo calibradas constantemente, sempre apresentam pequenos desvios.
Produtos armazenados sempre apresentam uma perda técnica. Os responsáveis por armazenamentos conhecem essas técnicas e trabalham prevenindo erros, mas os erros sempre ocorrem e faz-se necessário o canetaço para ajustar o físico com o contábil.
Para milho armazenado, por exemplo, a Indústria considera uma quebra técnica de dois por cento, todavia quando se utiliza um armazenamento adequado com controle da umidade e da temperatura da massa de grãos, nós minimizamos muito essa perda. Portanto, em situações assim, é muito provável que o estoque físico será maior que o estoque contábil. O ajuste é no canetaço, porque não há outro jeito.
Agora, prezado leitor, imagine uma situação assim numa fábrica que consome todo dia um milhão e quinhentos mil kg de milho diariamente... As sobras podem ser muito altas, portanto o canetaço precisa ser acompanhado de um relatório técnico justificando este volume a maior.
No Grupo Sadia, nas décadas de setenta, oitenta e noventa, eu vivi estas situações cotidianamente. É absolutamente normal, em algumas profissões, lidar com o imponderável!
Mas, é preciso bom senso e muito critério.
Sempre que lidamos com grandes volumes haverão quebras de estoque. Isso é normal e não deve causar estranheza em ninguém...
Mas, quando você vai vender algo pela primeira vez? Quando você precisa vender e conquistar clientes, num primeiro momento é preciso fazer algumas concessões, isto é, talvez seja necessário deixar um pouco de produto para ele testar a qualidade... Talvez seja necessário deixar alguma coisa em consignação... Talvez seja necessário fazer um desconto maior para efetuar a venda e ganhar o cliente... Cada situação é uma situação específica, mas o ponto crucial é: Se eu tenho determinado produto eu preciso vende-lo! Vender para comprar mais, para continuar vendendo e aumentar meus clientes até onde projetei...
Um bom vendedor sempre será cobiçado pelo mercado. Ele evidentemente nunca se preocupará se existem pequenas diferenças entre o estoque contábil e o estoque físico, porque ele está vendo o macro, as grandes conquistas de clientes fortes, ele quer bater suas metas. Ele quer vender!
Pequenas diferenças de estoque porque o vendedor bonificou ou presenteou um cliente importante são compreensíveis no mundo dos negócios, e como aprendi há quase cinco décadas atrás: Essas diferenças, elas saem na urina, meu prezado... Ou seja são resíduos, nada mais que resíduos para se chegar a grandes resultados econômicos...
João Antônio Pagliosa
Engenheiro Agrônomo
Curitiba, 26 de abril de 2018
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