Segunda-feira, 25 de março de 2019 - 08h27
Fez um ano que a vereadora do
Rio de Janeiro Marielle Franco do PSOL e seu motorista Anderson Souza foram
fuzilados. Faz um ano que ela não sai do noticiário e também das fofocas das
redes sociais. Desconhecida do grande público até o seu trágico fim, o nome da
vereadora covardemente assassinada cruzou fronteiras e hoje ela já é
praticamente uma cidadã do mundo. Fala-se que será nome de rua em Paris e
também nome de uma estação de metrô em Buenos Aires na Argentina. Marielle
recebe homenagens póstumas em vários lugares do mundo civilizado como na
Europa, Nova Iorque, Tóquio, Vancouver e Sidney. Ícone de muitos protestos
principalmente dos esquerdistas virou sinônimo de guerreira contra as
injustiças sociais. A forma brutal como lhe ceifaram a vida, no entanto, remete
o Brasil aos sombrios tempos da barbárie.
E é justamente no Brasil que
muitos festejam o seu precoce fim. Incrível, mas em nome de uma ideologia,
pessoas que se dizem cristãs e seguidoras de Deus festejam alegremente a morte
de outro ser humano. E agora, que seus matadores foram presos, e que dentre um
deles está um vizinho do presidente Jair Bolsonaro, as coisas começam a tomar
um rumo “esquisito”. Nas redes sociais não se vê outra coisa sobre a infeliz vereadora
que não sejam publicações infames e covardes achincalhando o seu nome. Tenta-se
inutilmente tirar-lhe o pseudônimo de heroína. Mas tudo em vão. Quanto mais
falam o nome dela, mais luzes colocam sobre ele. Heroína ou não, nem ela nem
nenhum outro indivíduo merecia ter sido metralhado covardemente como foi.
Marielle não será reconhecida no Brasil, mas no mundo civilizado o seu nome
ecoará como um marco.
No seu país, entretanto, ela
será morta todo dia com postagens criminosas e covardes denegrindo a sua
imagem. Marielle Franco é uma heroína, sim. Ao seu tempo, ao seu modo e para os
seus eleitores, parentes e amigos principalmente. Através da ONG da Maré, por
exemplo, ela contribuiu para que 12 mil meninas que engravidaram na
adolescência terminassem seus estudos e pudessem ter o mínimo de qualificação
para arranjar um emprego e sustentar os filhos. Pode não ser heroísmo, mas
contribuiu para a sustentabilidade de vidas. Além de defender pautas sociais
como racismo, mulher na política e defesa dos direitos básicos. Heroína, assim
como também muitas outras mulheres e homens deste injustiçado país. Pessoas
sensatas deviam parar de “continuar matando” Marielle Franco nas suas
conversas. Isso é pura covardia. Ela já está morta.
Num país carente de heróis, Marielle Franco foi heroína pelo menos para a sua gente e os seus poucos seguidores. O ódio que ganhou de todos os reacionários e dos “coxinhas” mesmo depois de morta, talvez vire decepção quando se descobrir a verdade que está por trás dos verdadeiros mandantes de sua execução. A alegria incontida nos seus algozes quando do seu fuzilamento demonstra claramente o tipo de sociedade em que estamos vivendo. Tomara que não haja decepções, mas a prefeita de Barcelona, Ada Colau, já mandou um recado para o “Mito”. “Preste atenção, Jair Bolonaro: Marielle, Franco, mesmo morta, vai te tirar do poder antes do que você pensa”. Será mesmo? Marielle deve ser lembrada sempre. Assim como a juíza Patrícia Acioli, a policial Kátia Sastre, as professoras Heley de Abreu e Joselita Félix, a merendeira Silmara Cristina... A lista é enorme e nenhuma delas merece ser difamada covardemente nas redes sociais.
A prefeita de Barcelona, Ada Colau, se manifestou duramente através do Instagram sobre o assassinato da vereadora Marielle Franco, numa postagem direcionada ao presidente brasileiro Jair Bolsonaro: “Preste atenção Jair Bolsonaro, Marielle vai te tirar do poder que hoje usurpas com mentiras, morte, ameaças e crueldade”. A publicação foi feita no dia em que completou um ano do atentado no Rio de Janeiro.
*É Professor em Porto Velho.
Na passagem da democracia partidária para a oligarquia liberal (democracia autoritária)
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