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"Midbar ou Paraíso? A Escolha é Nossa: a Seca na Amazônia sem solução planejada


"Midbar ou Paraíso? A Escolha é Nossa:  a Seca na Amazônia sem solução planejada - Gente de Opinião

“Alegrem-se o deserto e a terra seca, dance o chão duro, florido como a palma. Que se cubra de flores, dance e comemore, pois Deus lhe deu o esplendor do Líbano, a beleza do Carmelo e do Saron. Eles hão de ver a glória do SENHOR, a majestade do nosso Deus. (Is 35,1-2).” Não sou de trazer contexto bíblico para as minhas traçadas linhas, mas aproveitando o momento, entre  um livro e outro,  nas minhas divagações,  despertei com  essa passagem  no Livro de Isaías que retrata muito bem o momento em que estamos vivendo no Brasil, em especial, na nossa Amazônia, com as enchentes passadas, secas e queimadas que, mesmo fazendo parte da diversidade da região, tem se intensificado muito nos últimos anos por ação e inércia da mão humana

Nos últimos anos, a Amazônia tem enfrentado períodos de seca cada vez mais intensos, evidenciando os efeitos das mudanças climáticas e da degradação ambiental sobre a maior floresta tropical do mundo. Um dos casos mais emblemáticos dessa crise é o Rio Madeira, um dos maiores afluentes do Rio Amazonas, que tem sofrido com a redução do nível das águas e o aumento do assoreamento. A situação exige uma resposta governamental mais séria e planejada, sobretudo após a realização de dragagens ineficazes que só deslocam o problema em vez de solucioná-lo.

Há poucos meses escrevi sobre a dragagem que vinha sendo feita no rio Madeira para, segundo governo, através do Departamento Nacional de Transportes- DENIT, garantir a navegabilidade. No entanto, essa intervenção mostrou-se ineficaz, pois apenas deslocou os sedimentos de um ponto a outro do leito do rio, sem atacar o problema de forma duradoura. Esse tipo de abordagem imediatista, sem planejamento adequado, não resolve as causas estruturais do assoreamento, como o desmatamento nas margens do rio e a erosão do solo. Atribuí aquela atitude a mesma condição de enxugar gelo, pois retirava o sedimento de um ponto e jogava para outro, num looping constante, sem qualquer tipo de solução viável. Comparei como o oroboro mítico, ou seja- um dragão comendo a própria cauda. Coisas de governo!

Agora, quando os rios da Amazônia estão secos, revelando civilizações perdidas, materiais históricos como canhões, embarcações, ossos de dinossauros e outras coisas há tanto desaparecidas, traz também a oportunidade para que os técnicos possam realizar um levantamento completo dos seus leitos, alçando os pontos críticos de sedimentos que podem ser removidos. Aí vem a pergunta: porque nada disso está sendo feito? Não sei! De outra forma, pergunto: e por que não se faz a dragagem agora, com a retirada dos sedimentos se, nesse momento, sabe-se exatamente os pontos de estrangulamento? Boa pergunta, né? Mas estamos falando de governo e aí, a conversa é outra...

Estudos apontam que a utilização de imagens aéreas, mapeamento com drones, e levantamentos topográficos durante o período de seca permite que os engenheiros planejem a dragagem de maneira mais eficiente, economizando tempo e recursos quando o rio encher. Um estudo no Rio Amarelo, na China, por exemplo, demonstrou que a análise detalhada de sedimentos em períodos de seca levou a intervenções mais eficientes na remoção de acúmulos críticos de sedimentos quando o rio voltou a encher.

Por outro lado, um mapeamento preciso do assoreamento durante a seca permite intervenções mais localizadas e menos invasivas. Isso é benéfico para a fauna e flora aquática, já que não exige a dragagem em áreas mais sensíveis, preservando o ecossistema do rio.

Antes que venham os apressadinhos questionar qual o meu nível de conhecimento sobre o assunto? Respondo: nenhum! Mas isso não me torna um leigo, pelo contrário! Os meus longos anos atuando nos programas de desenvolvimento do Estado de Rondônia me balizam para buscar soluções técnicas que estão disponíveis a todos, basta procurar.  Um relatório do Yellow River Conservancy Commission, Comissão de Conservação do Rio Amarelo (YRCC) uma agência governamental do Ministério de Recursos Hídricos da República Popular da China, destacou que a identificação dos depósitos de sedimentos em períodos de baixa vazão permitiu uma intervenção mais eficiente, direcionada para as áreas que representam maior risco de inundação durante as cheias. Isso reduziu significativamente os custos de dragagem em comparação com intervenções em rios cheios.

Há! mais isso é na China, pode dizer o crítico de plantão. Não preciso ir muito longe então. No Brasil, o Rio São Francisco também sofre com assoreamento, especialmente em regiões onde o uso agrícola provoca a erosão do solo. Durante a seca, quando o nível do rio baixa significativamente, especialistas realizam mapeamentos para identificar o acúmulo de sedimentos. Essas informações são cruciais para o planejamento das dragagens que ocorrem durante o aumento do nível do rio. Um estudo da Agência Nacional de Águas (ANA) mostrou que o monitoramento dos sedimentos no leito do São Francisco durante a seca permitiu uma intervenção mais focalizada em áreas críticas, reduzindo os custos e o impacto ambiental da dragagem realizada durante o período de cheia. Então, mais uma vez, está claro que a barata continua tonta. O governo nem sabe o que existe nas suas próprias barbas. Isso porque não se comunica tecnicamente, prefere fazer politica imediatista sem pensar a longo prazo. Me recordo, com todas as críticas, do plano Brasil em Ação, pensado no governo FHC, que realizou estudos para um planejamento brasileiro por 35 anos. O governo Lula se apossou do programa, no seu primeiro mandato, estraçalhou tudo e criou o PAC, Plano de Aceleração do Crescimento e que acabou no maior rombo da história dessa país e muita gente foi parar na cadeia. Há! mas nasceu o complexo hidrelétrico do rio Madeira, né? Pois é! Nem a energia barateou, os recursos foram desviados e, ao que me parece, ainda estamos longe da eficiência energética, apesar dos alarmes.

A crise no Rio Madeira  traz impactos devastadores para a biodiversidade e para as comunidades tradicionais. A seca diminui a oxigenação da água, prejudicando peixes e outras espécies aquáticas. Além disso, as populações ribeirinhas, que vivem da pesca e, principalmente o transporte fluvial, veem suas condições   deteriorarem com a escassez de água e o aumento do custo do transporte de mercadorias.

Diante desse cenário, é imprescindível que o governo adote uma postura mais responsável e proativa na gestão dos recursos hídricos da Amazônia. A seca,  o assoreamento, as enchentes e as queimadas não podem ser combatidas apenas com medidas paliativas, como a dragagem dos rios mal planejada e a distribuição de recursos para as queimadas quando a chuva já se anuncia. É necessário um esforço coordenado que envolva: Mapeamento detalhado do leito dos rios em períodos de seca, para identificar os pontos de acúmulo de sedimentos; adoção de práticas de reflorestamento nas margens do rio, a fim de evitar a erosão e o acúmulo de sedimentos no leito; planejamento a longo prazo para garantir a navegabilidade das hidrovias da Amazônia sem comprometer o equilíbrio ecológico da região e  a integração de políticas ambientais e de infraestrutura, considerando as implicações das mudanças climáticas e seus impactos sobre os ciclos hidrológicos da Amazônia. Não foi eu quem disse! São os estudos que estão espalhados por aí nos gabinetes.

A seca na Amazônia é um alerta claro dos desafios que enfrentamos com a degradação ambiental e as mudanças climáticas. No caso do Rio Madeira, uma das artérias vitais da região, a falta de planejamento adequado nas intervenções tem agravado os impactos do assoreamento e da redução no nível das águas. É hora de o governo tomar medidas mais sérias e sustentáveis, não apenas para mitigar os efeitos da crise atual, mas para garantir que o futuro da Amazônia e de suas populações seja preservado.

Além disso, é crucial que o governo reconheça o papel estratégico do Rio Madeira não apenas como uma via de transporte, mas também como um recurso vital para a economia e o sustento de milhares de pessoas na região e transforma-lo verdadeiramente numa hidrovia, não apenas no nome.

Por outro lado, a construção de uma ferrovia ligando Porto Velho a Manaus, aproveitando o traçado da BR-319, como tenho defendido isoladamente, como a diz lenda do beija-flor que, sozinho tenta apagar o incêndio na floresta. - !,  Essa ferrovia poderia oferecer uma alternativa ao transporte fluvial, minimizando a dependência exclusiva do rio, especialmente em momentos de crise hídrica, se interligando aos outros modais de transportes, em Porto Velho e em Manaus, criando um grande hub que se integraria com acesso aos portos do Pacífico, numa segunda escala.

O Rio Madeira, assim como outros grandes rios da Amazônia, precisa de atenção urgente e de um planejamento estratégico que considere suas particularidades ambientais e econômicas. Sem isso, continuaremos a ver medidas ineficazes que, como a dragagem recente, apenas deslocam o problema sem oferecer soluções concretas.

Como trago no lead do meu texto, um contexto bíblico para tudo o que está acontecendo, venho procurar uma forma de fazer-nos refletir qual é o papel que nós homens livres e de bons costumes, temos com a nossa sociedade. Está na hora de juntarmos nossas mãos numa corrente de força para travar essa destruição que vem sendo implantada em nosso país. A palavra hebraica midbar, traduzida como deserto é, na verdade, "o lugar da palavra", o lugar onde a palavra de Deus, a Bíblia, foi comunicada a Israel. Embora fale do deserto, ele é apresentado como árido, mas não como uma terra seca e estéril, assim como está nossa Amazônia.

O “deserto”, que estamos sofrendo hoje, simboliza a hostilidade, que na Bíblia representa a ocasião em que Deus põe a prova o seu povo, afim de aperfeiçoá-lo (Sl 78; 95, 107). Isto serve para nos recordar que a nossa vida não pode ser colocada somente nãos mãos do Grande Arquiteto do Universo, nas mãos do Senhor, mas que neste mundo hostil, embora dependamos exclusivamente dele para sobreviver, temos que fazer nossa parte. Qual é a sua? Comece hoje!

Rubens Nascimento é Jornalista, Bel. Em Direito, Mestre Maçom e Ativista do Desenvolvimento.

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