Quarta-feira, 10 de abril de 2024 - 16h18
Recentemente, a revista The Economist, talvez a mais importante
publicação sobre a economia do mundo, mostrou, um retrato vergonhoso para
o Brasil no que diz respeito ao aumento da corrupção no país, avaliação feita
pela Transparência Internacional, que mede a corrupção em todos os países do
mundo.
Nós mostramos, efetivamente, esses dados em nosso
novo livro “Brasil, que país é este?”, escrito com Samuel Hannan, ex-vice
governador do Amazonas.
De rigor, caímos, no combate à corrupção, 25 posições,
da 69ª para a 104ª posição entre todos os países do mundo avaliados pela
Transparência Internacional, isto é, nos 140 países em que faz o levantamento.
A avaliação não é realizada em todos os países do mundo, porque com assento na
ONU, temos pouco mais de 190.
De qualquer forma, entre os 140 pesquisados, estarmos
colocados na 104ª posição por corrupção é algo vergonhoso.
Nós estávamos na posição 69ª no começo do século,
caímos, portanto, uma barbaridade de posições. The Economist analisa
também as razões do aumento de corrupção na América Latina e mais do que o
Brasil, só o Peru caiu 20 posições em 10 anos, tendo o México também caído.
A Transparência entende que, as Operações Lava Jato e
Mãos Limpas, na Itália, foram operações de combate à corrupção, embora
desmoralizadas em seus respectivos países, ao ponto de voltar a corrupção na
Itália e no Brasil, o que certamente nos leva a ocupar essa vergonhosa posição.
Mas há outros dados que também me preocupam. Quero
trazer alguns deles para os amigos leitores de como, nos últimos 30 anos,
pioramos.
A taxa média de crescimento do PIB, de 1956 a 1961,
foi de 8,6%; de 1964 a 1968, de 6 ,5%; de 1989 a 2023, caiu para 2,11 % de
crescimento em relação ao PIB; a perda de participação no PIB mundial, de 1980
até agora, foi de 35,8%. A carga tributária bruta, quando nós tínhamos uma
posição, que era confortável, de um crescimento da ordem de 6,5%, em 1988 era
de 22,4%, mas tivemos um aumento para 33,7%, ou seja, de 50% de elevação da
carga tributária, com queda do desenvolvimento nacional.
O aumento da corrupção deveu-se, em grande parte, ao
aumento da burocracia.
Para ter-se noção, entre 1988 a 2023, passamos de
4.121 municípios em 1988, para 5.569 municípios, dos quais 24 % deles têm menos
de 5 mil habitantes.
Outros 23 % desses municípios têm entre 5 e 10 mil
habitantes e 23 % dos outros têm 10 a 20 mil, o que vale dizer, praticamente 70
% dos municípios criados têm menos de 20 mil habitantes, mas possuem a
possibilidade de ter nove vereadores, prefeito e gastar dinheiro com essas
estruturas. São Paulo, com 11,5 milhões de habitantes, é legislado por 55
vereadores. O município de Serra da Saudade tem 803 habitantes e 9 vereadores,
que é o mínimo imposto pela Constituição.
Mostramos, portanto, no livro, “Brasil, que o país é
este?” escrito com Samuel Hannan, o grande pesquisador do mesmo, por que nós
patinamos, fundamentalmente, por termos permitido o crescimento de uma
estrutura burocrática que reduziu o Brasil para essas posições vergonhosas na maior
parte dos índices conhecidos.
Vale lembrar que só entre os grandes detentores do
poder: presidente, governadores, prefeitos, deputados federais e
estaduais, senadores, ministros e secretários de Estado, exclusivamente, ou
seja, aqueles que estão no topo da administração, o Brasil tem 755 mil
autoridades maiores.
O Poder
Judiciário consome 1,66% do PIB, sendo que a média mundial é de
0,37%. Gastamos quatro vezes mais do que todos os outros países para
sustentar a estrutura judiciária da nação.
Essa é a razão pela qual tenho dito que, nesses 30
anos, o Brasil caiu assustadoramente em nível de progresso, porque já chegamos
a ser a oitava economia do mundo em um período anterior. Agora estamos, em
verdade, com um custo burocrático, que é um dos maiores de todo o mundo, o que
não permite o desenvolvimento. A OCDE declara que no mundo o custo burocrático
é de menos que 10% do PIB, no Brasil é superior a 13%!!!
O problema não é só o pagamento desse custo
burocrático, é que esse custo cria obrigações para o cidadão; só para se ter
noção, para abrir-se uma empresa na Inglaterra, basta preencher um formulário e
enviá-lo para o Governo e já está aberta. No Brasil, chegou-se a levar dois,
três meses para que a aprovação sobre o pedido fosse concedida, isso por causa
de todos aqueles funcionários responsáveis pelos carimbos de autorização, para
que a empresa pudesse começar a funcionar. Hoje melhorou um pouco, mas, de
qualquer forma, ainda temos uma burocracia que cria obrigaç&o tilde;es
sobre obrigações para o cidadão brasileiro e sobre as empresas, o que dificulta
o progresso do país.
São dados, levantados pelo Samuel Hanan, que escreveu
comigo o livro “Brasil, que país é este?”. Na obra, não fazemos críticas às
pessoas, àqueles que detêm o Poder, mas avaliamos a estrutura do Poder que nos
leva a viver em um país burocrático que emperra o crescimento empresarial e do
povo brasileiro.
Ives
Gandra da Silva Martins é professor emérito das universidades Mackenzie,
Unip, Unifieo, UniFMU, do Ciee/O Estado de São Paulo, das Escolas de Comando e
Estado-Maior do Exército (Eceme), Superior de Guerra (ESG) e da Magistratura do
Tribunal Regional Federal – 1ª Região, professor honorário das Universidades
Austral (Argentina), San Martin de Porres (Peru) e Vasili Goldis (Romênia),
doutor honoris causa das Universidades de Craiova (Romênia) e das
PUCs PR e RS, catedrático da Universidade do Minho ( Portugal), presidente do
Conselho Superior de Direito da Fecomercio -SP, ex-presidente da Academia
Paulista de Letras (APL) e do Instituto dos Advogados de São Paulo (Iasp).
*O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.
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