Quarta-feira, 21 de dezembro de 2011 - 07h19
Luiz Albuquerque
“Moço, pega essa bola pra mim?”
Aquela voz sumida, infantil, quase imperceptível no barulho da rua onde carros passavam velozes, soou dentro de meu cérebro como se lá tivesse nascido. Mal me dei conta. Ouvi, novamente, o som quase choroso. “Moço, pega a bola". Então tive certeza que alguém me chamava. Olhei em volta. Atrás de um portão estava uma criança de quatro ou cinco anos. De cuequinha, de pés descalços. Seu olhar era triste. E, abaixo dos olhos, um filete de pó escorrido no rosto mostrava que por ali haviam rolado lágrimas há pouco.
“Moço, a bola!”. Disse, indicando com o dedinho. Pensei em ir embora. Aquele povo todo passando e eu ali, parado, olhando para os lados, procurando uma bola. Pensei: “Que diabos! Onde está a tal bola?”. Ele, parecendo adivinhar meu pensamento, apontou novamente e falou “Ali!”. Então a vi, na sargeta. A bolinha, murcha, com um enorme rombo. Um carro devia tê-la estourado. Pequei o que restava da bola, passei pela grade e entreguei ao menino. Um sorriso. Não, não era só um sorriso! Era um brilho, uma luz, como se um novo dia nascesse naquele momento, naquele rosto. Ele pegou a bola murcha com as duas mãozinhas e a colocou contra o rosto, carinhosamente, apertando-a, como que matando uma enorme saudade. O rosto nada mais tinha de tristeza, e somente o sulco das lágrimas mostrava que a tristeza ali havia morado mas que já se mudara . Fiquei imaginando o tanto de tristeza da criamça ao ver que seu brinquedo havia fugido portão afora para morrer, num estouro, sob as rodas de um apressado carro. Olhei. Ele já ia, de costas para mim, chutando a bola murcha. Quanta alegria!
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Feliz Natal. Um Ano Novo de Prosperidade, Felicidade, Saude, Paz e Amor!
Luiz Albuquerque
Leitura no Ônibus
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