Domingo, 26 de março de 2017 - 20h32
*Alvaro Fernando
Se você prestar vestibular hoje, não passará. O ministro da educação também não passará, os secretários de educação não passarão, os professores do ensino médio e universitários também não passarão. Sequer os professores que elaboram as questões do vestibular passarão, como já dizia Rubem Alves. Aliás, de todos estes, penso que os últimos seriam os piores colocados.
Mas, antes de seguirmos adiante, por favor me responda: os níveis de industrialização da Ásia em meados do século XVIII acompanharam o movimento geral de industrialização do Atlântico Norte ocorrido na segunda metade do século XIX? Ou essa aqui: na duração de uma faísca de 0,5s e intensidade 10 elevado a -11, ao final do processo as cargas elétricas totais dos objetos, são respectivamente: zero e -5,0 x 10 elevado a -12C? Difícil, não? Pois estas foram duas das perguntas que constavam na prova da Fuvest 2017.
Vestibulares e exames de admissão para faculdades são, em todo o planeta, fonte de ignorância e estresse. Aulas diárias de “nada” é o que oferecem as escolas, especialmente no ensino médio. Passamos dos 8 aos 18 anos estudando um passado sem sentido, o passado da química, da literatura, da física, da matemática, da biologia etc.
O conteúdo ensinado não está conectado aos nossos interesses pessoais e profissionais. Precisamos aprender a lidar com nossas relações pessoais, com nossas carreiras, com o que fazer da vida. Saímos da escola sem saber para que serve o dinheiro e como geri-lo, não temos senso de finitude ou de propósito, não desenvolvemos o autoconhecimento e, em especial, não sabemos lidar com nossas emoções. Não fomos ensinados a nada disso.
Isso gera um mundo onde prevalecem a ganância e o egoísmo. Um mundo que promove líderes desprovidos de bom senso e altruísmo. Mudar o vestibular e estabelecer um conteúdo que nos possibilite, nesses dez anos de estudo, entender quem somos e o modelo de mundo que queremos construir é o remédio para nossos problemas. Assim preparamos os jovens para ir à universidade.
O vestibular protege o conteúdo escolar, que é o mal do século, promove o stress e a angústia, além de levar os jovens e professores aos antidepressivos - consumidos por um terço da população nos EUA e capitais europeias. É dramático.
No Brasil, os desavisados apontam o analfabetismo como o grande problema. É sempre a defesa mais óbvia: apontar para o lado; fugir do assunto. Produzir uma nova geração bem preparada e capaz erradicará muitos males, entre eles o analfabetismo, assim como a corrupção, a falta de ética nos negócios e um sistema financeiro que beira a desonestidade.
O conteúdo escolar é tão nocivo que foi capaz de produzir educadores e legisladores incapazes de alterá-lo. A quem interessa? Ninguém.
* Alvaro Fernando é um premiadíssimo compositor de trilhas sonoras, vencedor de três leões em Cannes, duas medalhas em New York Festival e três estatuetas no London Festival. Há mais de 25 anos no mercado, atua com os principais anunciantes dentro e fora do país. É também autor do livro “Comunicação e Persuasão – O Poder do Diálogo”, no qual demonstra a importância comunicacional de virtudes como propósito de vida, altruísmo e generosidade. Desde 2013, atua como palestrante e consultor sobre comunicação. Mais informações em http://www.alvarofernando.com.br/
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