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"O poder absoluto da igreja: quando a fé supera a razão"

Capivara transformada em Peixe pelo Vaticano para não ferir a Quaresma


Rubens Nascimento - Gente de Opinião
Rubens Nascimento

Nasci no meio de uma tradição em que o reconhecimento de Deus como Supremo do Universo era a fala mais importante da Dona Áurea, matriarca da família. Ela nos afastou dos dogmas da religião católica, mostrou os horrores praticados por essa Igreja dos quais sentiu na própria pele. No seu caso, os traumas sofridos durante a  lição de catecismo quando, com 15 para os 16 anos,  sozinha numa sala da paróquia, teve os seios apalpados por um padre local. A história só não se transformou em tragédia porque o meu bisavô, Felicíssimo José da Silva, cabra macho nordestino, ao tomar conhecimento do caso, resolveu atender a um pedido de um amigo próximo e evitou que o clérigo conhecesse às portas do inferno mais cedo, sobre a mira de um rifle papa amarelo.

Por aí começa uma longa tradição da nossa família. Crente em um Ser Supremo, Dona Aurea, procurou nos  manter longe da igreja física, comandada por homens mortais como nós, mas nos aproximar sempre da Igreja Celestial, Espiritual, onde um simples pé de Mangueira,   árvore criada pelo Divino, “é mais pura do que qualquer homem, sobre a terra,” dizia ela em suas parábolas. Assim, todas as vezes que me aprofundo mais sobre os horrores da Santa Igreja Católica, não deixo de me surpreender cada vez mais com as monstruosidades que eram praticadas em nome de Deus.

A realidade histórica do carolíssimo é pontilhado por momentos em que seu poder transcendia os limites da razão e da moralidade. Uma das manifestações mais infames sem dúvida, foi a Inquisição. Sob o pretexto de proteger a ortodoxia e a fé, milhares foram perseguidos, torturados e executados, tudo em nome de um Deus que pregava o amor e a misericórdia. No entanto, esses episódios sombrios não são relíquias de um passado distante; eles lançam um olhar nebuloso sobre as ações contemporâneas da igreja.

Para ilustrar mais esse absurdo,  ainda na idade das trevas, no coração da Venezuela, uma decisão do Vaticano, reacendeu um debate que remonta aos dias sombrios da Inquisição. A pedido de Padres Jesuítas colonizadores, sem que soubessem lidar com o costume dos venezuelanos em comer Capivara, na Semana Santa, resolveram, com o a aval do santo Papa, classificar o mamífero roedor, em uma  nova espécie, literalmente transformando-o em Peixe, para efeitos de observância da abstinência de carne vermelha

O IFLScience, um portal da ciência, relata que os roedores foram classificados assim a partir de 1784 para que os cristãos pudessem se alimentar desses animais na Quaresma. Esse período, na tradição cristã, antecede a Páscoa e o consumo de carne vermelha e de frango é proibido, sendo comum a substituição por peixe na Sexta-feira Santa. Vejam que absurdo.

Mas como convencer os camponeses venezuelanos de que a Capivara seria um peixe? Simples! Os padres mostraram para os ingênuos cidadãos que o animal em questão, vive na água, tem membranas nas patas, nada e mergulha magnificamente bem. Então, é Peixe e pode ser consumido na Quaresma, sem ferir os ensinamentos divinal. É de rir, se não fosse trágico...

Essa medida, que pode parecer inofensiva à primeira vista, lança uma luz perturbadora sobre o poder e a influência da igreja, capaz de distorcer a realidade em nome da tradição e da fé.

Estudiosos descobriram que espécies da biodiversidade urbana, como as capivaras, os castores também foram classificados como peixes pelos padres espalhados pelo mundo. "Embora a maioria das pessoas hoje em dia pense que a restrição é sobre comer carne,  na verdade, a advertência alimentar não era sobre mamíferos e pássaros versus peixes, mas sobre terra versus água, assunto que tratarei em outro momento. Assim, para a igreja, os animais que passavam o tempo na água eram qualificados como aquáticos e podiam ser comidos na Quaresma", explicou a historiadora Dolly Jorgensen, no blog pessoal homônimo. A coisa deu tão certo que se espalhou pelo Novo Mundo, como uma se fosse uma criação celestial. Difícil! né?

A decisão de classificar a c

Capivara e também os Castores, como peixes pode parecer insignificante aos olhos menos acurados, mas sua implicação é profunda. Revela a disposição da instituição religiosa de manipular a verdade em prol de suas próprias conveniências, atualizando a lógica científica pelo dogma religioso. Essa compreensão, enraizada em séculos de hegemonia eclesiástica, cria um ambiente propício para abusos de poder e manifesto dos direitos humanos, em nome de uma suposta autoridade divina.

Além da questão específica da classificação da capivara, a história da Igreja Católica está repleta de exemplos em que o poder eclesiástico foi usado para subjugar e controlar a sociedade. Da proibição de livros considerados heréticos à censura de ideias consideradas perigosas, uma história de imposição de dogmas sobre a liberdade de pensamento e expressão.

Pera aí! Lembrem-se dos milhares de casos de violência sexual praticadas pelos padres com crianças em todo o mundo e que vem tentando ser esquecido ou, pelo menos, acobertados pelo Vaticano. E vem os relatos das atrocidades praticadas contra os índios, aqui mesmo no Brasil e em todos os cantos da terra, acorrentando, queimando, açoitando em os que considerados pagãos. Enquanto isso, os estupros, os roubos e a destruição cultural, como no caso dos Incas, no Peru e em tantos lugares, em nome de Deus, pois estes colonizadores da fé, se diziam o representante celestial na terra.

Se existe um inferno, com certeza, as almas desses torturadores perversos, queimam lá. Como uma forma de aqui, no berço terrestre, podermos ajudar a enfatizar a gravidade e a crueldade das ações cometidas por esses indivíduos, mantendo sempre uma luz de alerta aos desavisados.

Em um mundo cada vez mais digitalizado, a influência da igreja pode parecer estar atrapalhando. No entanto, eventos como a classificação da capivara como peixe são lembretes poderosos de que a fé ainda exerce um poder significativo sobre a sociedade. É imperativo que permaneçamos vigilantes contra qualquer tentativa de abuso desse poder, lembrando-nos sempre de que nenhum sistema de influência está acima da crítica e do escrutínio racional, da lógica e, sobretudo, do discernimento de cada um para não se deixar ser manipulado por qualquer tipo de ilusão, como as indulgencias.

Há! não esqueçamos do feijão milagroso do Pastor Waldomiro e os saquinhos de areia de Israel, vendidos como amuletos de salvação.

Tudo porcaria...

Fiquem atentos, reajam, porque manipuladores estão em todos os lugares, nesse momento.

Antes, porém, se forem comer Capivara, comam os filhotes, são bem mais saborosos assados e não tem gosto peixe.

 

Rubens Nascimento é Jornalista, Bel.Direito, ativista do Desenvolvimento e Mestre Maçom.

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