Segunda-feira, 24 de julho de 2023 - 14h36
Tem muita gente que acha que não vale apena roubar, mas tem
gente que acha que vale a pena, principalmente se o país for o Brasil e o alvo
da pilhagem for o dinheiro público. Prova disso são as inúmeras quadrilhas
especializadas em desviar recursos públicos. Fazem-na com a maior tranquilidade
e, o que é pior, com a certeza de que jamais serão alcançadas pelas garras da
justiça.
Alguns episódios ainda estão presentes na memória de muitos
brasileiros. Os ilícitos, graves, tornados públicos por meio das operações, são
parte de uma ampla rede de corrupção alimentada historicamente entre poderes. A
cada nova descoberta, a cada novo desmantelamento das conexões, esperava-se a
adequada punição dos responsáveis, mas os fatos têm revelado que ainda estamos
muito longe de enfrentar com rigor o quadro crônico de um sistema visceralmente
corrompido.
Quem não se recorda da “Operação Dominó”. Foram quase três
milhões surrupiados dos cofres públicos, entre março de 2003 e junho de 2005. A
roubalheira foi descoberta pelo Ministério Público de Rondônia, em 2006. Das vinte
e uma pessoas acusadas, apenas quatro foram condenadas, e dezessete (isso
mesmo, dezessete!) beneficiadas com o instituto da prescrição. É mole? Não!
Esse é o Brasil.
Muito se tem falado e escrito sobre o fortalecimento das
instituições e da exigência da transparência nas administrações, como parte de
um dever dos gestores, dos funcionários e da população, mas isso não parece ter
produzido resultados alvissareiros no combate a práticas delituosas contra o
patrimônio público. O legado de bandalheiras deixado é gigantesco e possui
raízes profundas, tanto que para uma parcela expressiva da sociedade a
corrupção é naturalmente aceita. Sair desse pântano, maléfico para o conjunto
do país, não é tarefa fácil, requer, entre outras coisas, a somatória de todos
os poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário, além dos Ministérios Públicos
Federal e Estadual, dos Tribunais de Contas e das policiais Federal e Civil,
cada um atuando dentro dos espaços que lhes são garantidos pela Constituição
Federal.
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