Terça-feira, 15 de junho de 2021 - 16h25
Em
meados de abril deste ano, tomei a decisão de passar um período em Israel, movido
principalmente pelo desejo pessoal de resgate de minha origem judaica. Antes,
porém, havia já iniciado um longo período de reconhecimento da cidadania israelense,
tendo que comprovar a origem judaica de meus ancestrais e me submeter a um
necessário e legítimo processo perante as autoridades de Israel.
É impossível,
nós brasileiros, chegando em Israel, logo de início não estabelecermos um
vínculo afetivo e de profunda admiração com os valores, hábitos e costumes
desse país de tão grande importância no contexto mundial, ainda que seu
território seja maior apenas do
que o de duas unidades da Federação brasileira: Sergipe e o Distrito Federal!
Então nos vem em mente a primeira comparação:
de um lado Israel, um país com 9,3 milhões de
habitantes e um território de 22.145 km2, e de outro lado, o Brasil, com uma população de
214 milhões e 8,5 milhões de km2. E o que logo nos leva a pensar, residindo em Israel, é o visível
respeito ao interesse social e a tradição do país na superação de crises que
perpassam questões religiosas, escassez de recursos hídricos, espaço geográfico
pequeno, constantes cenários de conflitos e guerras.
O povo judeu, desde seus primórdios, se
notabiliza pela capacidade de reagir às situações de pressão sempre com extrema
resiliência! Por mais que pareça paradoxal, em Israel a segurança é
visivelmente sentida. É evidente que aqui não se pretenderá entrar em detalhes
a respeito dos conflitos e seus reais motivos na fronteira com a faixa de Gaza
e arredores; sendo certo que, nesse aspecto, se Israel não fosse referência
mundial na área da defesa de seu território e sua segurança interna, já teria
sucumbido ante o volume expressivo de ataques de mísseis e foguetes. Em Israel,
de regra, anda-se a qualquer hora do dia com a sensação de absoluta segurança e
tranquilidade.
Enfim, como individuo nascido no Brasil, nos
rincões da Amazônia, com formação tão distinta dos que vivem em Israel, vem-me
o desejo de buscar entender por que Israel dá tão certo. Logo vem à mente a
postura de serenidade das pessoas e sua absoluta confiança em Deus, mesmo
diante de conflitos intermináveis.
Permito-me então imaginar essa cultura
israelense se aplicando à gestão do espaço geográfico da Amazônia brasileira, a
começar pela agricultura, um dos aspectos econômicos mais
desenvolvidos em Israel, que tem se revelado grande exportador de produtos
hortícolas e frutícolas, sendo líder mundial em pesquisa agrícola, apesar de
sua geografia extremamente hostil à prática das atividades agrícolas.
Mais da metade do país é composta de solos desérticos, com pouquíssima
incidência pluviométrica e um clima hostil. Apenas 20% das terras de Israel são
aráveis. No país há dois tipos exclusivos de comunidades agrícolas, o kibbutz e
o moshav. Ambos os sistemas foram desenvolvidos nos primórdios da imigração
judaica para a antiga Palestina, no século XIX. E serviram como atrativos para
o estabelecimento dos colonos que fundaram o moderno Estado de Israel a partir
de 1948.
O povo Judeu conseguiu fazer o deserto florescer,
possibilitando exportar laranjas, flores e legumes para diversos países. Outro relevante aspecto que desperta encanto em Israel é o importante
centro de alta tecnologia, de nível mundial, chegando a enviar seus próprios
satélites para o espaço, tornando-se também uma potência nuclear.
Nos campos de Ciência e
Tecnologia, Israel está entre os mais desenvolvidos do mundo. Apesar de
sua recente história e de seu
pequeno tamanho, o Estado de Israel é, cada vez mais, visto como um centro de inovações
utilizadas em escala global. Através de instituições educacionais de ponta e de
uma ampla rede de empresas start-ups, Israel vem se destacando graças a
invenções e inovações que rapidamente se espalham pelo mundo.
Todo
esse cenário nasce da ideia prioritária de agenda, onde o país é um dos que
mais investem em Pesquisa e Desenvolvimento em relação ao seu Produto Interno Bruto e, em proporção ao
tamanho da mão-de-obra, é o que ostenta o maior número de autores publicados
nos campos das ciências naturais, engenharia,
agricultura
e medicina.
Dezenas de cidadãos israelenses foram laureados com o Prêmio
Nobel em diferentes áreas.
Não
para por aí. Israel tem um dos exércitos mais poderosos do planeta, uma igualmente
poderosa força aérea, um Estado dotado de uma economia que movimenta milhões de
dólares com exportações impulsionadas por empresas multinacionais, como Intel, Microsoft
e IBM, presentes em Israel e desenvolvendo produtos para o mundo todo.
E daí
vem a indagação: como um país fincado em um minúsculo espaço geográfico, encravado em meio ao deserto, pode se
equiparar e estar no mesmo nível que os Estados Unidos, que têm mais de 330
milhões de habitantes, Rússia, com 200 milhões de habitantes, e China, que tem
aproximadamente 1.4 bilhão de habitantes.
Israel é um
dos pioneiros na utilização da técnica de dessalinização. A água do mar, de aquíferos e até mesmo a água de
esgoto são submetidas ao processo de dessalinização
e purificação, o que as torna potáveis e, portanto, próprias para o
consumo. Em usinas, á água salobra passa por membranas que ficam dentro de
tubos. E mais: Israel faz reuso
de até 95% da água resultante do tratamento de esgoto, investindo muito em
novas tecnologias, como filtros aprimorados de membranas e infiltração de água
nos aquíferos.
Não se
pode deixar de mencionar ainda as lições de Israel como exemplo mundial no
combate à Covid-19. Com empenho do governo, planejamento e adesão popular, o
país avançou rapidamente para a imunização de toda a sua população adulta e se
tornou paradigma de enfrentamento da Pandemia que assola o mundo.
Os exemplos
positivos seguem visíveis em Israel, como, por exemplo, a eficiência do serviço
público, praticamente todo no formato de atendimento digital; transporte
público integrado, com ônibus e trens impecáveis na pontualidade, limpeza e
todo ele planejado e de fácil acesso por aplicativos próprios.
Evidente que não se está
a dizer do equívoco em se pretender comparar dois países com
realidades políticas, econômicas e sociais tão distintas — e de tamanho e ordem
de grandeza diferentes — como Brasil e Israel, civilizações, nações e povos com
parâmetros tão diversos. É absolutamente impossível qualquer comparação sobre
espaços e características geográficas e geopolíticas sob dimensões tão
díspares!
Por
todo esse relevante cenário descrito e que não esgota a abordagem – que seguirá
oportunamente – é que nós, brasileiros, a partir dos exemplos de Israel,
precisamos repensar o uso e a exploração adequada dos recursos naturais que
dispomos em abundância e priorizar uma agenda positiva e planejada, visando a abrir
portas para o comércio exterior, com foco no viés da sustentabilidade, em
especial, em relação aos produtos amazônicos ecologicamente corretos, nada
sendo possível se fazer ou mesmo tentar tal iniciativa sem prioridade em
investimentos no capital intelectual, tecnológico e científico, maior legado de
aprendizado que tenho experimentado na convivência com o Povo Judeu.
Viva a Eretz Yisrael!
David
Pinto Castiel, porto-velhense, é advogado, curador do Centro de Estudos e
Pesquisas de Direito e Justiça
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