Quarta-feira, 27 de outubro de 2010 - 20h01
Faltando quatro dias para sabermos quem vai sentar no Palácio do Planalto, já podemos identificar algo de concreto: no Brasil não houve eleições em 2010. Mas se faltaram eleições, sobraram o populismo, o culto exacerbado da pessoa, o poste goela abaixo, a camuflagem do passado pela oposição dúbia, a insegurança jurídica, a inapetência por julgar do STF, a politização do judiciário, o jogo sujo, a politicalha, a falsa religiosidade, a ausência de propostas, o engodo, a vista grossa, a desfaçatez, a mentira, as denúncias sobre a corrupção de lado a lado e muito, muito lixo e lama.
De um lado, um mito político jogando sua vida numa partida de truco, onde a pantomima, o berro e o bater na mesa funcionam mais que as cartas da mão. Do outro lado um jogador fraco de cartas e de berro, arrogante, e que impôs seu nome como jogador da vez, esfacelando o seu grupo.
As duas estratégias para o jogo eleitoral, se a isso que vimos se pode classificar como estratégias, repousavam numa comparação impossível. A comparação proposta é tão falsa quanto duas notas de R$13 ou R$ de 45. Como comparar resultados de dois governos separados por longos oito anos, se as condições históricas são em certos casos, diametralmente opostas e se os dois períodos não são estanques? Ou como comparar a “história de fazer” de quem ocupou cargos relevantes com quem não os ocupou? Aí se instalou a mentira ampla, geral e irrestrita, que contada tantas vezes ganhou tintas de verdade, impedindo que pelo menos parte da verdade se revelasse ou que medianas inteligências pudessem tirar desse verdadeiro carnaval fora de época,algo que não fosse as marchinhas de gosto duvidoso.
Como disputar uma eleição com o presidente que ao sair, com todo seu poder, entra na campanha com se apostasse a vida para eleger sua pupila? Chegar ao segundo turno foi um feito heróico das oposições. Ganhar é praticamente impossível. E tudo ocorre sem que se vislumbre para o futuro qualquer alteração nas regras que permitam um razoável equilíbrio de forças. Muito pelo contrário.
Por ser obrigação irei votar e, por ser segredo, não revelo meu voto. Pelo muito que vi e pelo pouco que me esclareceu, creio que o país faz uma escolha no escuro. E na verdade, pelo que ambos os candidatos mostraram, tanto faz que seja um ou outro, já que não há nada mesmo para comparar. O resultado do embate, combate – ou bate-rebate – importa mais à cúpula dos dois partidos – ou seriam grupos com fins específicos de poder – que ao povo.
Fechamos o ano eleitoral sem eleições mas, a se confirmarem as pesquisas, entronizando em lugar de um líder, um mito. Do dicionário, “s.m. Narrativa popular ou literária, que coloca em cena seres sobre-humanos e ações imaginárias, para as quais se faz a transposição de acontecimentos históricos, reais ou fantasiosos (desejados), ou nas quais se projetam determinados complexos individuais ou determinadas estruturas subjacentes das relações familiares. Fig. Coisa fabulosa ou rara como a Fênix dos antigos. Lenda, fantasia. Fig. Coisa que não existe na realidade.”
Gosto da arte política, detesto a politicalha e o jogo de truco. Portanto, da minha parte, passo.
Fonte: Léo Ladeia - leoladeia@hotmail.com
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