Domingo, 17 de julho de 2011 - 06h32
*Erika de Souza Bueno
No enredo da sala de aula, estamos acostumados a notar a ausência de um aluno que dificilmente está presente nas aulas, aquele que é normalmente chamado de “turista”. Do mesmo modo que sentimos facilmente a ausência de alunos que quase nunca faltam e assim por diante. Se o relacionamento entre professor e alunos é influenciado pela ausência ou presença em classe, chama a atenção a grande influência desse ambiente sobre um sentimento que, muitas vezes, não temos muito tempo para cultivar: a amizade.
Apesar de sempre ter existido, a amizade manifesta-se de diversas maneiras, dependendo dos perfis de cada um, ou seja, dependendo do que cada um busca para si no que se refere à amizade. Por mais que, devido a amargas experiências, algumas pessoas desacreditem do potencial da amizade ou de se ter amigos por perto, ela ainda existe e, inclusive, é essencial para a vida de qualquer um de nós.
Nossos alunos e tantas outras pessoas, principalmente as mais jovens, muitas vezes podem até pensar que ter amigos é essencial para momentos de divertimento e de prazer e, por isso, buscam companhias agradáveis, de bem com a vida e com muita energia para fazer da vida uma grande e interminável festa, na qual não há tempo para dar atenção àquele que, por qualquer motivo, está impossibilitado de também festejar.
Contudo, essas pessoas precisam compreender que melhor é conquistar amigos para o amanhã, tal como plantar em terra fértil e esperar o dia da colheita, considerando que temos razoável controle apenas sobre o hoje e agora, mas nada sabemos sobre o que ainda não aconteceu, ainda não existe, não sendo reservado a nós nenhum controle sobre o dia de amanhã.
Quando chegarem a nós dias que nos fazem perder o sono e ganhar uma lamentável dor de cabeça diante de fatos frustrantes, que nos fazem repensar nossos pontos de vista e conceitos, será bem menos difícil se tivermos o privilégio de desfrutar da companhia de alguém que quer o nosso bem, que nos quer ver no primeiro lugar do pódio.
Isso é ter amigo, isso é conquistar a amizade de alguém, ou seja, conseguir cativar alguém durante a nossa vida e ver esse alguém torcendo por nós, pelo nosso bem-estar. É claro que na arte de cativar pessoas nem todos são artistas, mas é importante pensar que artista não é apenas aquele com grande habilidade numa determinada arte, mas também aquele que a observa, que a prestigia, que a tem em grande estima, tal qual a amizade.
O fato de nem tudo ser flor, como dizem por aí, não é razão para não tentarmos mais uma vez e exercitarmos nossa habilidade na arte de cativar pessoas, de conquistá-las como nossas amigas.
Há, é verdade, algumas amizades que são conhecidas como interesseiras, considerando a carga de significado desse adjetivo, o qual remete a pessoas egoístas, que vivem em função dos próprios interesses e que não se importam com o impacto de suas ações sobre o outro desde que seus objetivos sejam alcançados a qualquer custo.
Ora, mas os obstáculos não podem nos impedir de tentar até conseguir alcançar a graça e a beleza de estarmos envolvidos com amigos, com pessoas que, ainda que não compartilhem dos mesmos conceitos que os nossos, estejam ali conosco para o que der e vier.
Claro que tudo isso exige maturidade por parte de todos os envolvidos em laços de amizade, mas convém refletir sobre isso, já que o prêmio por termos conquistado amigos é mais valioso do que o próprio ouro, é algo que só pode explicar quem tem amigos e, ainda mais do que isso, quem sabe ser amigo para todas as horas.
*Erika de Souza Bueno é editora e consultora-Pedagógica de Língua Portuguesa do Planeta Educação (www.planetaeducacao.com.br); professora de Língua Portuguesa e Espanhol pela Universidade Metodista de São Paulo; articulista sobre assuntos de língua portuguesa e família.
Fonte: Planeta Educação / Ex-Libris Comunicação Integrada
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