Domingo, 13 de março de 2011 - 13h59
João Baptista Herkenhoff
Um debate ocorrido em aula que dei, no Mestrado da Universidade Federal do Espírito Santo, inspirou a primeira versão deste texto. Discutíamos a questão dos Direitos Humanos no mundo muçulmano.
O ponto central da reflexão foi este: o Islamismo é incompatível com os Direitos Humanos?
Publicada como artigo, a matéria original suscitou alguns pronunciamentos favoráveis e um só pronunciamento contrário.
Dentre os aplausos destaco o que veio assinado por Saad Mahmmoud Al Bakr, nestes termos:
“Li seu brilhante texto. Somente uma pessoa com sua formação e sensibilidade poderia tê-lo escrito da maneira correta como o fez, sem a visão deturpada de pessoas preconceituosas e desconhecedoras dos princípios que regem o Islã. Apenas, com sua licença, gostaria de fazer um reparo. Nós, muçulmanos, orientamos que as pessoas não-muçulmanas denominem o honrado Profeta Mohammad – Sallah Allahu Alleihi Wa Salaam – pelo seu verdadeiro nome que é Mohammad Bin Abdallah Bin Abdel Al Muttailib e não pela corruptela Maomé, que não nos agrada e é profundamente desrespeitosa. Atenciosamente, Salaam, Saad Mahmmoud Al Bakr”.
Para início da reflexão na UFES, propus que pousássemos nossos olhos sobre a seguinte passagem do Profeta:
“Eu não sou senão um homem. Se eu vos ordeno qualquer coisa de vossa Religião, segui-me. Se eu vos ordeno qualquer coisa que revela minha opinião, eu sou apenas um homem. O que diz respeito à Religião cabe a mim. No que diz respeito aos negócios do mundo, nisto vós sabeis mais do que eu”.
Com frequência, nas mais diversas religiões e filosofias, os respectivos seguidores, no decurso do tempo, distanciam-se da pregação original.
O Fundamentalismo, ou seja, a pretensão de deter toda a verdade, a intolerância para com o divergente, o carimbo de herege aposto aos que discordam não é monopólio do Islã. Também entre os cristãos existem fundamentalistas.
Mais do que o que li em livros, tenho sobre esta matéria um depoimento pessoal. Tive a oportunidade de participar, na França, de um Congresso Internacional Islâmico-Cristão. Foi uma das mais belas e importantes experiências que esta vida, já alongada, me proporcionou. Naquele encontro fraterno, marcado pela tolerância e pelo despojamento, homens e mulheres portadores de crenças diferentes procuramos descobrir nossas identidades, em vez de realçar nossas divergências.
Que doçura para a alma de um cristão ouvir, face a face de um muçulmano, que o Islamismo prescreve a fraternidade; adota a idéia da universalidade do gênero humano e de sua origem comum; ensina a solidariedade para com os órfãos, os pobres, os viajantes, os mendigos, os homens fracos, as mulheres e as crianças; estabelece a supremacia da Justiça acima de quaisquer considerações; proclama a liberdade religiosa e o direito à educação; condena a opressão e estatui o direito de rebelar-se contra ela; estabelece a inviolabilidade da casa.
Há uma forte incidência da herança judaico-cristã no arcabouço do Islamismo.
Este abismo, que tantas vezes se fomenta, entre o Ocidente e o mundo islâmico tem muito mais razões políticas e econômicas do que base na verdade. Atrás de tudo está o petróleo.
Hoje Satã é o Islã, como no passado historicamente recente, Satã era a Alemanha e a Itália. A propósito de alemães e italianos, a propaganda era feita com tal malícia e capacidade técnica que brasileiros supunham ser um dever patriótico perseguir imigrantes que descendiam desses povos europeus. Meus ancestrais, de origem germânica, experimentaram esse sinete.
É preciso estar atento a rótulos e a lavagem cerebral. A tolerância é condição de sobrevivência da Humanidade. Não apenas em plano internacional, mas também no Brasil, buscar o aperto de mãos, construir pontes, celebrar o diálogo – é o caminho da Paz.
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