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OPINIÃO DO CIDADÃO: NOVO SINAL DOS NOVOS TEMPOS (FIM DA CERON)




Desde meados deste mês de março de 2010 a Centrais Elétricas de Rondônia deixou de existir, até na sua denominação mais popular: CERON. Ao assumir o controle da empresa em novembro de 1997, a Eletrobrás manteve basicamente a mesma estrutura empresarial e de atendimento, inclusive o nome. Transformou-a, agora, na Eletrobrás - Distribuidora de Rondônia, desvinculando-se da geração.

A história do progresso humano é estreitamente vinculada ao avanço no uso das diversas formas de energia, sendo a eletricidade a mais versátil e eficiente. Em 1896, Buffalo (NY) foi a primeira cidade a receber energia elétrica transmitida a grande distância (32 km neste caso), desde uma usina hidrelétrica nas Cataratas do Niágara. Foi a primeira grande utilização da tecnologia de transmissão em corrente alternada. À época, o mundo tecnológico ainda debatia as vantagens do uso de corrente alternada ou contínua, para suprir grandes áreas e elevadas potências. O setor elétrico estava nascendo no mundo dos grandes negócios.

Menos de vinte anos depois, em 1913, quando grande parte das principais cidades das nações mais desenvolvidas ainda não dispunha desse conforto, na pequena vila de Porto Velho (ainda nem tinha este nome, oficialmente) “a iluminação domiciliária é feita por lâmpadas incandescentes de corrente alternada, com a capacidade iluminativa de 16 a 32 velas”, como nos faz saber Foot Hardman em ‘O Trem Fantasma’, baseado na experiência do jornalista Julio Nogueira.

A Madeira & Mamoré Railway Co era a responsável pela proeza. Ao construir a Estrada de Ferro Madeira-Mamoré trouxe para o coração da floresta amazônica duas das maiores conquistas tecnológicas da época: a ferrovia, nos transportes, e a mais recente maravilha energética, a eletricidade.

Ainda por muitos anos a energia elétrica foi produzida pela EFMM para seu uso, enquanto disponibilizava uma parte para os serviços essenciais em Porto Velho. Após a encampação da ferrovia em 1933, seu administrador e grande articulador da criação do Território Federal do Guaporé, Aluízio Ferreira, esforçou-se para fazer da empresa o grande motor do desenvolvimento do Território. Assim, em 1940, uma nova usina de eletricidade, construída com capacidade para atender as necessidades da cidade foi inaugurada por Getúlio Vargas.

Em 31 de março de 1954 foi criado o Serviço de Abastecimento de Água Luz e Força do Território - SAALFT, desvinculando o serviço de suprimento de energia elétrica à cidade da empresa ferroviária. Em 1960, a potência instalada em Porto Velho e Guajará Mirim, as duas únicas cidades no então Território, totalizava 699 kW. Comparados aos atuais cerca de 900 MW, era 1.200 vezes menor. Isto, sem considerar que o sistema elétrico estadual já é conectado ao sistema interligado nacional - SIN, o que amplia enormemente a disponibilidade de energia, nem que as operações das futuras usinas hidrelétricas Santo Antonio e Jirau devem ter início no final de 2011.

A CERON foi criada em 4 de novembro de 1968, absorvendo instalações e responsabilidades do SAALFT, com a missão de preparar o setor elétrico para as transformações que se avizinhavam, à medida que avançavam as obras de consolidação da BR-364 pelo 5º BEC. Naquele frenético e quase caótico processo de ocupação de Rondônia, a partir do final dos anos sessenta, tão dinâmico que os órgãos oficiais viam-se frequentemente a “correr atrás”, buscando soluções emergenciais para situações imprevistas, a empresa não teve vida fácil.

Novas vilas e cidades surgiam como do nada. Antigas e novas cresciam em ritmo acelerado, quase sempre acima da capacidade de resposta. A cada cinco anos a demanda dobrava, e novas cargas surgiam onde não eram esperadas. De modo que, planejar, nem pensar. Mais máquinas, mais técnicos – engenheiros, mecânicos, eletricistas, operadores, administradores, etc. – para adquirir, contratar, treinar e enviar para os quatro cantos do estado. Não havia tantos recursos humanos e financeiros disponíveis. Mas, apesar dos muitos problemas e crises, que chegaram a provocar quebra-quebra e queima de instalações da empresa e constrangimento aos empregados, a grande dedicação do seu corpo de colaboradores foi capaz de superar em grande parte as deficiências.

Durante a grave crise de suprimento que o interior do estado viveu nos primeiros anos da década de 90, o esforço e a criatividade de muitos foram fundamentais para a busca de soluções. Foi preciso convencer o Banco Mundial de que, naquele momento, a recuperação de máquinas quebradas e investimentos na distribuição de energia eram fatores críticos, e a empresa foi autorizada a utilizar trinta milhões de dólares de um financiamento previamente contratado, nessas atividades. Com isso, foi possível recuperar cerca de 40% da capacidade geradora que estava inoperante ou seriamente limitada, e realizar um grande programa de expansão da rede de distribuição, interligando diversas localidades de modo a otimizar a produção e a distribuição, reduzindo o sofrimento da população. Enquanto isso acertavam-se os detalhes para a conclusão da Usina Samuel e expansão da LT 230 kV – o nosso “linhão” – o que foi efetivado até o ano de 1997.

Um grave empecilho para o cumprimento de sua missão era a incapacidade financeira, não apenas da CERON, mas de todas as empresas que usavam geração térmica em sistemas isolados, como os de Rondônia. Esse gargalo resultava de procedimentos operacionais do setor, estabelecidos no nível do Ministério de Minas e Energia. Entre outros, o controle legal que estabelecia tarifas únicas para todas as empresas, usassem geração térmica ou hídrica, apesar da enorme diferença nos custos de produção. Em conseqüência, não havia recursos suficientes para pagar o óleo diesel comprado à Petrobrás. A inadimplência fazia com que, frequentemente, a petrolífera cortasse o fornecimento de óleo, gerando racionamento e insatisfação ao consumidor de energia elétrica.

A solução para este problema, de nível nacional, foi resultado de uma proposta da CERON ao antigo Departamento Nacional de Energia Elétrica – DNAEE. Então, as usinas termelétricas que compunham o SIN já dispunham de um mecanismo para compor seus custos com os combustíveis: a Conta de Consumo de Combustíveis – CCC. A partir daí, a CERON propôs e obteve a CCC para todas as empresas dos sistemas isolados. Baseado em critérios técnicos e econômicos, a CCC-isolados é um fundo constituído por contribuições compulsórias de todos os consumidores de energia elétrica do Brasil, que subsidia o custo dos combustíveis fósseis usados para geração de energia elétrica. Graças à CCC-isolados, essas empresas puderam equilibrar suas contas e, ao mesmo tempo, manter a tarifa dos consumidores atendidos por elas no nível das que são praticadas no restante do país.

Alinhada com as questões de proteção ambiental e combate ao aquecimento global, a empresa incentivou a construção de pequenas centrais hidrelétricas no estado. Ao longo dos anos, as PCHs em operação, atualmente em número de dezesseis, além de contribuírem para o bem-estar da população promoveram redução no consumo de óleo diesel da ordem de 760 milhões de litros, deixando com isso de emitir cerca de dois milhões de toneladas de gás carbônico – o de maior contribuição para o efeito estufa.

Com a Eletrobrás – Distribuidora de Rondônia encerra-se o ciclo de vida da CERON, da qual os rondonienses podem se orgulhar. Trata-se de uma empresa constituída e consolidada aqui mesmo, e que deu grande contribuição ao seu desenvolvimento. Quando a Eletrobrás assumiu seu controle, o faturamento mensal girava em torno de quinze milhões de dólares, atingindo atualmente mais de trinta milhões. É, sob qualquer aspecto que se a observa, uma grande empresa.

Novos tempos exigem novas soluções. É assim que encaramos a mudança. Esperamos, e certamente estaremos cobrando isso, que seus dirigentes, instalados no Rio de Janeiro, orientados pelos profissionais que aqui exercem seu mister, tenham a mesma sensibilidade para resolver os problemas da população rondoniense que a CERON demonstrou ao longo de sua existência. Neste momento, a implementação do chamado Sistema pré-Madeira, pelo menos o segundo circuito da LT 230 kV no trecho dentro de Rondônia, até Porto Velho (o linhão), é o reclamo maior, para evitar apagões como os verificados recentemente.

Fonte: Antonio Marrocos Neto.
Portovelhense, ex-diretor da CERON.

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