Quarta-feira, 24 de novembro de 2010 - 14h03
HELDER CALDEIRA
“É uma situação de desespero. Uma situação de grande desespero... dos marginais”. Essa é a definição encontrada pelo governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral Filho, para o estado de guerra urbana instaurado. E é correta a afirmação do governador. O que ele esqueceu de dizer é que os “marginais” não são os bandidos. Há décadas, quem está sendo obrigado a viver à margem são os cidadãos fluminenses, em especial os cariocas, vítimas e cúmplices da incompetência e da ineficiência de gestões estaduais e federais indecentes, desde Moreira Franco (PMDB e que agora é cotado para o ministério das Comunicações da presidente Dilma), passando por Leonel Brizola (PDT), Marcello Alencar (PSDB) e culminando com a intrépida trupe, Anthony e Rosinha Garotinho (ambos à época no PMDB), com um “intermezzo” de Benedita da Silva (PT).
Do outro lado da faca, os bandidos, esses sim dotados de grande inteligência e competência no planejamento estratégico, perceberam a leniência do estado e da legislação e compreenderam a importância de ocupar e dominar o cenário político. Em uma década, elegeram deputados federais e estaduais e vereadores, desde a capital aos mais afastados rincões do Rio de Janeiro. Como o sistema político-eleitoral brasileiro dá primazia ao dinheiro, além de bancar suas próprias campanhas, passaram a financiar fortemente as campanhas de candidatos que lhes fossem interessantes, majoritários ou não. Por consequência, acabaram assumindo importantes secretarias estaduais e municipais. Estava armado o circo de poder.
Com a ascensão de Sérgio Cabral e o advento da falácia das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), implantou-se a doutrina do estado policialesco, cujo único objetivo era melhorar a imagem das polícias civil e militar e passar ao mundo uma imagem de falsa segurança, chancelando o direito de sediar a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016. Mas, como disse Ruy Barbosa na “Oração aos Moços”: “a justiça atrasada não é justiça, senão injustiça qualificada”. O que acontece quando você invade e domina o território do bandido e não o prende ou mata? Ele simplesmente muda de casa, muda de bairro, muda de cidade. Não à toa, os índices de criminalidade dos municípios circunvizinhos ao Rio de Janeiro explodiu.
Adequados à realidade mundial e aos novos tempos, os bandidos entraram na era globalizada das grandes fusões. Tal qual uma grande empresa ou banco, que se alia a outro grande grupo para amplo domínio do mercado, os criminosos que tinham de abrir mão de seu território para atender às demandas “pacificadoras” do estado, aliaram-se a outras grandes facções, que, por sua vez, com a experiência político-administrativa adquirida nos últimos anos, fatiou o poder entre os agora “companheiros”. Qualquer semelhança com a distribuição de cargos e ministérios, não é mera coincidência.
O resultado é esse que temos hoje: o sempre chamado crime organizado, finalmente organizou-se, de fato. Faça-se de otário para pegar os verdadeiros otários, é uma das leis do poder. Com rapidez, absorveram as palavras do filósofo espanhol do século XVII, Baltasar Gracián, quando afirma: “Não é muito bom ser sábio entre os tolos e lúcido entre os lunáticos. Quem se faz de tolo não é tolo. A melhor maneira de ser bem recebido por todos é fingindo ser um grande idiota”. Com a tática do gambá, que finge-se de morto para enganar seus predadores, os criminosos tiveram tempo e dinheiro para organizar-se de forma terrivelmente irremediável.
A série de atentados que estão provocando pânico e terror aos cidadãos do Rio de Janeiro parece ser apenas o primeiro grande movimento do adversário no tabuleiro de xadrez armado. De um lado está o crime organizado, “à vera”; de outro, o estado desorganizado, sucateado, loteado politicamente pelos bandidos de terno de gravata. No meio desse fogo cruzado, estamos nós, cidadãos, legítimos peões, vítimas e cúmplices dessa barbárie. Que o nosso desterro sirva de exemplo a todos os estados brasileiros.
Fonte: HELDER CALDEIRA
Escritor, Articulista e Colunista Político, Palestrante e Conferencista
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