Sábado, 25 de dezembro de 2010 - 07h11
Guido Bilharinho
O cinema brasileiro da primeira década do século XXI pauta-se por três características principais: a) desenvolvida infra-estrutura de produção, que inclui aporte técnico atualizado; b) competência diretorial e profissional, abrangendo os elementos que compõem a realização cinematográfica; c) intenção de atingir e conquistar o público, para o que se subordina a atender seus gostos, idiossincrasias e carência cultural.
Os espectadores, com as ínfimas exceções de praxe, buscam no cinema, na música, na televisão, na radiofonia, na produção livresca e em tantos outros segmentos apenas o entretenimento.
As artes, no entanto, não se destinam a divertimento ou passatempo. São artes e como tais devem ser respeitadas e não deturpadas e desviadas de sua finalidade.
A televisão e o rádio, instrumento vitais da sociedade, não deveriam, como ocorre, restringir-se às atividades meramente comerciais e de entretenimento, a ponto de órgãos públicos terem de organizar e manter, para preencher essa lacuna, emissoras culturais ou universitárias, que, todavia, muitas delas têm-se desviado de seus objetivos institucionais, veiculando programas destituídos de valor artístico e cultural.
Na realidade, tudo o que nesses setores não tenha significação cultural e artística automaticamente constitui sua negação, já que ocupa não só os espaços e os tempos que poderiam (e deveriam) ser destinados à cultura, à arte, à educação e à instrução, únicas formas e maneiras de elevação e aprimoramento do ser humano, como ainda injeta e inocula na sociedade o vírus anti-cultural, mantendo a população não só alheia mas até mesmo infensa e hostil aos aspectos culturais e artísticos da civilização e condicionada a só aceitar e entender as anódinas produções que veiculam ou promovem.
Dado isso, que é axiomático e facilmente constatável, tais sua incidência e abrangência, é de se ressalvar, no caso especifico do cinema brasileiro atual, que mesmo no setor de produção comercial há distintos níveis de qualidade, em que inúmeros filmes, mesmo não tendo importância cultural e artística, não sendo, portanto, autorais, salientam-se por seu melhor acabamento e pela maior competência profissional dos diretores.
Os melhores deles são profissionalmente eficientes, tecnicamente eficazes, alcançando também, no que se refere à seleção, direção e interpretação dos atores, níveis de excelência. A linguagem é vigorosa, a narrativa bem concatenada, as estórias interessantes e apresentadas por meio de lances e acontecimentos selecionados.
Todos esses e outros requisitos, no entanto, não têm, em si, face ao tratamento que lhes é dado, valor cultural e estético e nem indicam autoria, mas, capacidade e tirocínio técnico-profissional. Compõem a base, o alicerce sobre o qual se deve erguer a obra artística, o que, com raras exceções, não se vem efetivando.
As tramas, seu conteúdo e diálogos são despidos de sentido de criação e de análise comportamental, interessando à produção somente acontecimentos inusitados a fim de lhes explorar os aspectos singulares e mesmo extravagantes, para ofertá-los como atrativos ao desfrute do espectador condicionado a absorver e se contentar apenas com a ação, nunca com o sentido e o significado, dispensada também, nesse fazer e usufruir, toda sutileza relacional.
A estória, neles, constitui instrumento para agrado do público, cujo nível intelectual e cultural não ultrapassa os limites do interessante, do chocante, quando não do escandaloso, do exótico e do espetáculo, não conseguindo acompanhar e entender a narrativa que não seja linear, convencional e superficial atrativamente embalada em coloridas imagens de cartão postal.
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Guido Bilharinho é advogado em Uberaba, ex-candidato ao Senado Federal, ex- editor da revista internacional de poesia Dimensão e autor de livros de literatura, cinema e história regional.
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