Segunda-feira, 4 de abril de 2011 - 11h39
Dudu Cabral
Hoje, gritamos. Chutamos a inércia. Acordamos para a consciência de que a inércia, às vezes, pode ser um movimento de profunda traição e abandono àquilo que amamos. Então, urge agir. Não podemos aceitar o tratamento desrespeitoso a que está sendo submetida a nossa Capital, Porto Velho.
Nós, comedores de Pimelodus spp, honrosamente chamado de mandi, e farinha, além de tantas outras iguarias portovelhenses, não pactuamos com o estado de coisas que assolam este território do Madeira. Aliás, umas das paisagens mais lindas do Brasil.
Quando visitou Porto Velho, Drummond nos disse que tinha um buraco no meio do caminho e que no meio do caminho tinha um buraco. Na nossa ignorância, não percebemos a mensagem que o Poeta de Itabira havia nos deixado. Só nos lembramos dele quando tivemos o dissabor de arrebentar a junta homocinética nos tantos buracos que estão distribuídos por quase todos as nossas ruas. Assim, vivemos a ironia do homem enganado: pagamos tributos para ter uma rua sem buracos e, por causa de cem buracos na rua, pagamos mais ao consertar nosso transporte.
Mas não vimos para falar apenas dos buracos. Até porque o que é notório não precisa de muitas palavras para ser compreendido: o saudoso Porto do Velho se tornou um manancial de mazelas. Por ora, indagamos por que nossa Capital é forte candidata a ganhar o título de campeã de obras inacabadas.
O trecho entre a Av. Caúla e Av. Guaporé demorou mais de três anos para ser transitável e não vemos nada que possa dizer que algo lá foi feito. Não há placas, não há faixas na rua. O trevo é um monte de terra, mato e um ferro ao centro. A feiúra só não é maior porque Macunaíma já levou essa honraria.
Visitamos a “Praça do Baú”, no coração de Porto Velho, a qual passou mais de ano em reforma, e constatamos que não existe de fato uma praça visitável. O chafariz se tornou uma fonte de lodo e podridão. Apenas um peixe suicida ou condenado à pena de morte seria capaz de lá residir. Como podemos levar os filhos para passear num lugar desses? E a reforma? Será que, quando falou em “reforma”, Lutero pensou em outra coisa que não fosse melhoria de uma situação? Será que reforma agora é fazer uma não-forma-do-mesmo? E essa constante se aplica a todas aos outros locais em que se fizeram reforma nesta paragem Karipuna.
Os viadutos que seriam, sem dúvida, o cartão postal de qualquer cidade, no nosso caso, se tornaram uma máquina de tortura kafkiana. E todo mundo, sem sabe o porquê, é diuturnamente constrangido a ficar por horas preso no trânsito contemplando a causa da tortura: uma obra que aparenta já estar concluída. E vamos para o inexorável: uma obra fundamental para tráfego de Porto Velho que vai ser concluída nas calendas gregas (dia de São Nunca), por si só, demonstra o desrespeito com o cidadão.
De outro lado, não podemos concluir, pelos simples fato de as obras de Porto Velho amarem a inconclusão, que amamos o sofrimento. Toda forma de tortura merece repúdio.
No caso específico dos viadutos, talvez digam que a chuva ou as desapropriações estão atravancando o caminho. Mas há de pensar que a engenharia permite a construção de pontes quilométricas sobre o mar e, nesse processo, em momento algum é preciso secá-lo. Parece óbvio. Por isso cremos que alguém está vendo demais ou somos todos cegos. Quanto às desapropriações, não há dúvida de que o interesse público transcende qualquer interesse individual e que as indenizações pelo Poder Público têm a finalidade de compor eventuais prejuízos. Assim, esses viadutos não podem durar uma existência para serem concluídos. Ou pensam que passaremos a ser passarinhos para trafegar naqueles entroncamentos.
E pior. Talvez passaremos pela vergonhosa situação de ver o Japão (país devastado por inúmeros terremotos, inclusive seguidos de tsunami), em pouco mais de um ano, ser totalmente reconstruído, enquanto isso, na Terra banhada pelo Madeira, algumas poucas obras não conseguem chegar ao término.
Não precisamos, se for o caso, ir longe. Basta olharmos um pouco para a Capital vizinha (Rio Branco) que em pouco mais de um ano construiu uma terceira margem para o tráfego daquela localidade. Uma vasta pista com uma pomposa ponte, digna de foto e tudo mais. Já por estes rincões, a foto no viaduto parece que quer aguardar mais.
Contudo, nós não podemos mais aguardar na dor esse porvir torturante. As obras são inacabadas, além de outros motivos, porque nós nos tornamos meros espectadores do inconcluso e do mal trato com nossa cidade. Porto Velho não podemos mais ficar na inércia a pactuar com o trottoir do descaso que paulatinamente está destruindo esta cidade. Um cenário dantesco que, por mais que se mostre grandioso nos efeitos negativos, jamais será maior que o retumbante amor que temos por esta Capital. E o nosso grito não é para que Porto Velho se torne uma Pasárgada ou uma terra com macieiras da Califórnia. A foz é ontologicamente outra: Porto Velho não pode continuar a ser a capital mais feia do Brasil. Acreditamos que a riqueza humana e material que permeiam esta terra deve refletir umbilicalmente no trato da nossa cidade. E isso é uma função de todos.
Também registramos, de forma contundente, que a nossa única bandeira é Porto Velho, sem qualquer titubeação político-partidária. Por isso, não queremos atirar pedra em nenhuma Geni. A responsabilidade por esta cidade não é do Chapolin ou do Policarpo Quaresma: é nossa.
Queremos Porto Velho melhor para nós e para nossos filhos; e, por isso, lutaremos.
Eis a nossa indignação.
Autor: Ação Popular Respeitem Porto Velho!
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