Segunda-feira, 28 de março de 2011 - 08h05
Guido Bilharinho
Os governos, de modo geral, em todos os níveis, não admitem controvérsias e pontos de vistas contrários a suas determinações.
Do mesmo modo, os meios de comunicação, conquanto pleiteiem liberdade de imprensa e de opinião, dificilmente e só excepcionalmente admitem e acolhem ideias divergentes das que encampam e defendem.
Por isso, quase impossível conseguir espaço para discutir e mesmo contradizer o que eles, seus colunistas e animadores de programas escrevem ou falam. Seção de cartas de leitores não basta.
Muitas vezes, ou quase sempre, publicam ou divulgam manifestação do pensamento unilateral, aquele que vê as coisas apenas por um ângulo e coisas que não atingem diretamente seu autor.
Parafraseando célebre artigo de Carlos Heitor Coni no Correio da Manhã de abril de 1964, aos atos e fatos.
Clóvis Rossi, com toda razão, por sinal, verbera frequentemente a ação e a omissão dos políticos. Contudo, esquece-se que eles, para serem eleitos, reeleitos e permanecer na política têm de despender ou conseguir enormes quantias, dados os custos altíssimos das campanhas. E, ao que se recorda, nunca abordou esse aspecto, aliás, fundamental, da questão ou, se o fez, foi de passagem e há muito tempo, enquanto aos políticos profliga dia sim e dia também. Ao que se recorda, pois, nunca se manifestou sobre a necessidade de se proibir esses gastos e de que as campanhas dos candidatos, destinados por princípio e finalidade a servir à Nação, tenham financiamento público com total proibição de desembolsos privados, mesmo dos próprios candidatos, neste caso também por procedimento democrático de igualdade de oportunidades.
Só assim, dar-se-á oportunidade a candidaturas de indivíduos portadores de espírito público e que realmente pretendem servir a sociedade e o país e que, nas condições atuais, não têm possibilidade de se viabilizarem eleitoralmente
Por sua vez, Jânio de Freitas, em artigo publicado na Folha de São Paulo do dia 24 de fevereiro último, afirmou que o salário mínimo deveria ser cinco vezes maior do que o atual, sem acrescentar que a economia do país também deveria ser pelo menos cinco vezes maior para absorver tal custo ou que deveria haver forte desconcentração de renda.
Caso se implementasse sua proposta nas condições atuais de nossa economia, de imediato milhões de brasileiros, assalariados pela classe média (profissionais liberais, empregadores domésticos, etc.), seriam dispensados. É impossível, no quadro econômico atual, elevar-se o mínimo pouco mais além do que já está estabelecido. Na mirabolante recomendação do jornalista, um empregado, simples office-boy, custaria mensalmente mais de três mil e quinhentos reais, somando-se ao salário de R$ 2.725,00 os obrigatórios FGTS, contribuições previdenciárias e vale transporte. Simples escritório de profissionais liberais com, por exemplo, quatro empregados, só de salários e encargos gastaria mais de R$ 14.000,00 (catorze mil reais) por mês!
Se a Constituição Federal sobrecarrega irrealisticamente de finalidades a função e destinação do salário mínimo, isso não é razão nem motivo para se desarranjar a economia brasileira! Esse preceito constitui ideal só alcançável com rearranjo profundo dos fundamentos da organização econômico-social do país.
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E para não se dizer que não se falou dos políticos, estranha-se muito a declaração do presidente Obama de que “Gaddafi perdeu a legitimidade para governar”, visto que não se perde o que nunca se teve.
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Guido Bilharinho é advogado em Uberaba, foi candidato ao Senado Federal e editor da revista internacional de poesia Dimensão, sendo autor de livros de literatura, cinema e história regional.
(Publicação autorizada pelo autor)
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