Domingo, 16 de outubro de 2011 - 07h01
por Marli Gonçalves
Tic, Tac, Tique-taque, tic, tic, tic . Como tudo muda, mudam também os nossos relógios nesta vida e nos fazem pensar no inspirador tempo, cantado em versos e prosas demoradas. Só não muda o barulho infernal do relógio que não arrancamos do cérebro. Chegou de novo o horário de verão que acontece na primavera. Mas isso apenas nos torna mais lentos, instáveis, diferentes do sincronismo constante e do barulho irritante do tique-taque que nos leva um pouco de vida e viço diariamente. Pare. Ouça. Está lá: tiquetaque, tic-tac.
O tempo não para, mas o governo resolve ano após ano engatar a marcha-a-ré. O tempo só estanca para quem morre ou parte - e que muitas vezes leva junto o tempo de quem ficou contando minutos para ir também. Tudo tão relativo que deixa atônito quem se atreve a pensar sobre ele, limitado, diferente às vezes - dependendo de onde se está - e ao mesmo tempo tão igual dia após dia.
O rapaz vinha andando tranquilo. Talvez tivesse vivido um bom feriado. Teria ele ganho presente do dia das crianças? Que planos fazia a caminho do trabalho? Um segundo e o tempo dele acabou, quando voou aos ares junto com o restaurante que explodiu no Rio de Janeiro esta semana. Vi e sofri. Me arrependo porque a imagem ficou muito gravada pelos meus olhos. Acabei vendo ainda dezenas de outras vezes pela tevê aquela calçada arborizada, da rua tranquila na sua normalidade de mais um dia carioca. O garoto vinha andando decidido para sentar na sua cadeirinha no banco onde trabalhava, camisa branca (terá sido passada cuidadosamente pela sua mãe naquela manhã?) quando voou e explodiu - dizem, pedaços dele e de tudo foram arremessados a mais de 50 metros de distância. Um segundo, dois, três? Quando visivelmente até as árvores se deslocaram pela explosão ele deve ter achado que era terremoto. Qual foi seu último pensamento, teve tempo?
Sempre me surpreendo com essas tragédias. Não que elas sejam exatamente previsíveis, embora às vezes nos pareça que caminhamos sobre um mundo todo prestes a explodir, sumir, e o que sempre pode acontecer dependendo da pífia fiscalização nas cidades ou da incapacidade de alerta geral vindo dos governos, no caso das grandes catástrofes.
Qual é esse tempo? É analógico? Digital? Elétrico ou a pilha? Aqui é um; lá é outro. No relógio que você usa pode ser menos, mais, automático. Agora mesmo a operadora Vivo resolveu que o tal horário de verão seria antes e o instalou automático nos celulares, adiantando, sem mais, uma hora, uma semana antes. Com ordem de quem? A quem recorrer pelo susto do acordar atrasado, sem estar atrasado, no domingo? A palpitação de achar que perdeu compromissos? Aconteceu, e quem tem Vivo passou. Reclamar para Deus, ou para quem se acha no direito de (re) estabelecer as horas?
Lembrei do tique e do taque compassado do velho despertador de corda e que no silêncio da noite amplia o som. Lembrei do rádio-despertador e seu som exclusivo, que nos abandonava a qualquer falta de luz. Lembrei até do infalível relógio solar, através dos tempos. Lembrei até do nosso próprio relógio, o biológico, a quem mais uma vez teremos de recorrer - pelo menos nós, os atingidos de alguns Estados brasileiros. Este ano incluíram os baianos que andarão acelerados uma hora, impulsionados até o carnaval passar. Daqui ouço as reclamações arretadas dos amigos de lá. Um deles, Fernando Coelho, jornalista e poeta, escreveu: "INOCENTEM O SOL. Minha amada Salvador não tem metrô. Mas tem horário de verão. Não tem o Elevador Lacerda digno. Mas tem o horário de verão. Não tem um transporte público decente. Mas o horário de verão é fundamental. A violência corrói as famílias, mas o horário de verão é diferente, coisa das autoridades", vai falando, para no fim quase implorar: "E não culpem o Sol por isso".
Ele tem razão. Não culpem o Sol. E não culpem a luz. Cientistas estudam esse mecanismo pouco suíço que trazemos em nós, e que se modifica quando afetado. Dizem que até nossos cabelos, a sua barba talvez, mostram bem o que nos acontece, e de acordo com as mudanças externas acusam que entramos em jet lag, e que até os cegos podem sentir - aquela sensação de cair no vácuo. Neste mundo de malucos há estudos, não comprovados, até sobre o nosso relógio biológico poder ser adiantado ou atrasado quando se ilumina com uma lanterninha a pele macia da parte de trás dos nossos joelhos!
Mais estranho, mas pelo menos mais divertido e melhor do que quando mudamos porque os governos querem que seja assim. Eu, hein?!?
São Paulo, vambora, vambora, tá na hora, na hora. 2011
• (*) Marli Gonçalves é jornalista. Sabe que tem quem gosta. Sabe que tem quem aproveita. Um dia também gostou, mas sempre pensa no tempo e ele faz tic-tac, tic-tac com a Terra girando normal, natural, protestando contra mudanças por decretos.
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