Quinta-feira, 23 de setembro de 2010 - 15h37
*ENE GLÓRIA DA SILVEIRA
Em nossa sociedade, muitas vezes grandes vitórias são expressas na forma de pequenos símbolos. É assim, por exemplo, com o motorista que muda a “letra da carteira de habilitação” para poder conseguir um emprego novo em que sejam exigidas habilidades específicas, ou com o militar que ganha uma “estrelinha” para ostentar no peito. Essa pequena letra inscrita na carteira de habilitação e essa pequena estrela doutorada pendurada no peito representam, na verdade, grandes vitórias pessoais e profissionais.
O sistema de avaliação dos cursos de pós-graduação adotados no Brasil pelo Ministério da Educação, por intermédio da CAPES, sua agência específica para esse fim, também esconde esses “segredinhos”. Os cursos são avaliados em notas que vão de 1 a 7, em que 1 e 2 significam, na verdade, “dessa vez não deu”, 3 significa “dá pra funcionar” e em que as coisas só começam a ficar boas mesmo do 4 pra frente. O 4 significa “bom” e o 7 é o estado da arte em pós-graduação, por isso são tão poucos cursos com esse índice no país (exatamente 4,1% de todos os cursos oferecidos segundo a avaliação/2010). Todas essas notas são atribuídas a partir de critérios muito rígidos, e só quem trabalha com esses cursos sabe a imensidão de trabalho que separa cada uma dessas notas.
A UNIR mantém seis cursos de mestrado e um de doutorado atualmente. A mais crua verdade é que esses cursos são mantidos muito mais por esforço pessoal dos professores do que por uma política institucional de pós-graduação consolidada e ativa. Com grande falta de recursos e dificuldades para quase tudo, todos os programas da UNIR tinham nota 3. Ou seja: “regular”, “dá pra funcionar”. “Tinham”, que seja bem frisado, pois quero ressaltar aqui o curso de Mestrado em Desenvolvimento Regional, que logrou a enorme vitória de, na última avaliação da CAPES, alcançar o conceito 4.
Esse curso, que no 2007chegou a ser descredenciado, foi novamente autorizado no final daquele mesmo ano, com conceito 03, mediante um recurso impetrado junto à CAPES. Com a nota 4 da última avaliação, o curso passa a estar habilitado para desenhar um projeto para o doutorado institucional na UNIR sem a necessidade de interveniência de outras universidades, de acordo com as regras da CAPES.
Cumpre frisar que essa nota não aconteceu por geração espontânea. Ela foi fruto de um esforço sobrenatural de alguns professores, com especial destaque para o Dr. Wanderley Rodrigues Bastos, a quem coube a tarefa de enxugar o quadro, realizar uma reengenharia das disciplinas, tudo isto entre os mais diversos obstáculos, que foram desde a falta quase absoluta de recursos até as resistências de caráter político e ou pessoal. De toda forma,enfim, o novo quadro estava em funcionamento.
Em termos de infraestrutura, a administração central da UNIR virou as costas para esse mestrado que, capengando, caminhava em busca de um rumo. Só para se ter uma idéia da coisa, o curso foi mantido funcionando sem funcionários, sem secretário, sem estagiários, sem bolsistas. Burocraticamente, o curso tem sido mantido com cotas do Diretor de Núcleo e projetos individuais dos docentes que acabavam pagando uma secretária externa ao meio acadêmico. O Coordenador trabalha como alfa, beta, gama e ômega, ou, como se diz na linguagem popular, batendo o escanteio, correndo pra cabecear, apitando o gol e correndo para o meio de campo para recomeçar a partida. Mas, juntos, os poucos professores que ficaram com a lança na mão contra a mediocridade venceram a batalha.
Esses professores foram buscar na ciência a base para o Mestrado e, “assentados em ombros de gigantes”, como dizia Newton, iniciaram os trabalhos metodológicos e científicos com as turmas de 2008 e 2009. Os alunos responderam aos professores com garra e qualidade, concluindo quase 100% de dissertações com tempo de residência inferior a 28 meses. Com esses resultados, os artigos científicos começaram a aparecer e os jornais começaram a divulgar os resultados. Com tamanho esforço e qualidade, não deu outa: nota 04 avaliada pela equipe multidisciplinar da CAPES.
Hoje, esse mestrado, como dissemos, é o único da UNIR com nota 04. Outros que contam com os “bons olhos” da administração central alcançaram apenas uma sofrida nota 3. Com essa nota, o Mestrado em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente da UNIR está além dos programas análogos oferecidos nas universidades do Amazonas, Acre, Roraima, Amapá, Mato Grosso e Maranhão. Só estamos atrás da Universidade Federal de Pará, que tem um mestrado similar há mais de 20 anos (veja que nós alcançamos essa nota em dois anos!).
Ficam as perguntas: como seria esse mestrado se fosse apoiado pela Reitoria? Como ele e os demais cursos desse nível seriam se houvesse uma política consolidada de pós-graduação na UNIR? Como ele e os demais mestrados seriam se os professores e alunos não precisassem pagar os custos de seus bolsos, não precisassem mendigar recursos ou sustentar as atividades com seus projetos pessoais? A experiência tem mostrado que não precisamos de futurologia aqui: seriam bem melhores, com notas mais altas, associados a doutorados institucionais. Competência operacional e capacidade técnica para fazer acontecer, os professores da UNIR já mostraram que possuem. Falta agora que a vontade política se manifeste de forma concreta. Enquanto isso, lutaremos com unhas e dentes para que, na próxima avaliação, o nível do curso seja mantido e, quem sabe, as práticas institucionais da UNIR tenham sido profundamente modificadas...
* Ene Glória da Silveira é professor-doutor da Unir, ex-reitor da Instituição e coordenador do PGDRA
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