Quinta-feira, 9 de dezembro de 2010 - 12h28
Essa história (ou seria estória?) envolvendo o dono do site de notícias WikiLeaks está-me parecendo coisa armada para, como já aconteceu muito neste país e em outros nos quais os donos do poder temem que algumas verdades sejam reveladas, fazer calar um órgão de comunicação. Pura e simplesmente.
Para tentar me fazer entender vou retornar no tempo, aí em 1991, quando um grupo de políticos me procurou para que eu opinasse sobre um processo do que eles chamavam “chantageamento” que alegavam estarem sofrendo de parte de algumas pessoas. Eu fui explícito: ora, só há chantagem quando há dois segmentos importantes para que isso aconteça, de um lado o chantagista e do outro lado o chantageado. Se este concorda com aquele, então acontece a chantagem.
É o caso de agora: o WikiLeaks certamente não tem bola de cristal que lhe garanta tomar conhecimento de fatos que sejam mantidos em – altíssimo – sigilo. Além disso seus funcionários e diretores também não adivinham o que de sigiloso (e, a julgar pela clara tendência desses donos do poder de tapar o sol com a peneira, sujo) se esconde nos arquivos centrais de governos, ainda que sejam relatórios como era nos velhos tempos do SNI que, via-de-regra, segundo quem tinha acesso, começava do mesmo jeito: “Consta que .....”.
Estamos, com esse caso do WikiLeaks, voltando à situação do Watergate, quando repórteres foram pressionados, porque noticiaram um fato escabroso ocorrido em plena campanha eleitoral pela presidência dos Estados Unidos. Os repórteres também, como a WikiLeaks, não tinham bola de cristal nem tampouco eram adivinhos. Houve ali um vazamento de alguém, sabe-se lá por qual motivo, que passou a alimentar os jornalistas com as informações que levaram à renúncia do presidente norte-americano.
Quando usam uma denúncia de suposto estupro ou de suposta violência cometida pelo dono da WikiLeaks, não é muito duvidoso imaginar que por detrás dessa iniciativa esteja, na realidade, uma clara tentativa de calar o exercício do jornalismo, o direito do veículo de comunicação de divulgar o que entende ser notícia de interesse público, e que lhe chega às mãos, seja por pesquisa própria, seja por outro mecanismo.
Sou repórter do tempo que chamam de “anos de chumbo”. Já senti na pele o que seja a pressão para não divulgar e até fui demitido de um jornal de outro Estado numa negociação que envolveu um caderno publicitário, e a moeda de troca do contratante foi eu. Nesses tempos de vivência democrática, uma vez o espaço que eu assinava no “Alto Madeira” foi ocupado com um “direito de resposta”, tudo porque cometi o (?) “crime” de republicar o que um jornalão paulista divulgou a respeito do então ainda não presidente Luiz Inácio, e olha que coloquei lá que estava republicando, com data e tudo do jornalão.
Nesse caso do WikiLeaks outra vez, como vem acontecendo nos últimos tempos neste país, “a culpa é da imprensa”, não toda, claro, porque há aquela tipicamente “chapa branca”.
Ah! Mas essa só publica o que não ofende aos donos do poder.
Inté outro dia, se Deus quiser!
Fonte: Lúcio Albuquerque
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